terça-feira, dezembro 20, 2005

evocando graciliano ramos ou agora é meio de vida

praga? a mutação de um velho vírus? pró-reitoria de extensão da ignorância consentida? será o benedito?

estantes da cultura não mais se aguentavam de livros de auto-ajuda. agora empenam-se de protozoários da literatura de marketing – tão apelando tanto que tem até livro com foto de cachorro na capa e título que nenhum copydesk salva: seu chefe é um cachorro ? au! que levanto a perna e mijo quando me chama atenção a displasia micada nas versões quase auto-ajuda dos manuais de redação publicitária.

tá chovendo nas estantes. o que é pior: para além do fato de serem todos caganhos de style de publicitários passados em branco - branco de nizam só na sexta gente – mesmo os mais modestos que dizem que não podem ensinar você a ser um grande redator, ou make happier copies - insinuam isto mesmo. salvo os perdidos numa estante suja de acadêmicos com sua linguagem perdulária que pretendem nos iniciar aos oxímoros e falanges aristotélicas das estruturas da escrivinhação. que pandemônio!

roberto menna barreto, que recém lancou o seu menos mal copy criativo, cópia de versões inglesas, acerta de novo quando diz que todos são de uma chatice a toda prova, abrindo exceção para o redação publicitária do zeca martins. zeca que apesar de confessar-se jeca, como todo jeca está bem espertinho no filão.

auto-recomendam-se tais livros como oficialmente adotados em cursos, seminários, workshops, círculos, saraus e os escambaus e não passam de pirulitos de artimanhas sobre redação que tem mais sabor no papel do que na bola que dão pra você chupar. mesmo que tenham o aval do duailibi, como para o livro do carrascoza, por exemplo.

de há muito que foi dito e bem dito, que para escrever bem, começe por ler bem. e vá intercalando com o exercício balde que consiste em chutá-lo toda vez que partir para redigir algo com intenções de seduzir à venda. ora, porquê ? no que consiste no negócio da propaganda, do marketing, da comunicação ? fulcralmente um negócio de palavras, ave! mrs. cozinheiro ogilvy. e ainda assim tanta gente que não sabe escrever nada aproveitável, principalmente redatores!? justamente porque estão entupindo-se de regras, a começar da malfadada não se começa título com não.

os tais livros,equalizam princípios de lugares comuns que só o deixam de ser quando justamente alçados a condição de copies por quem quebra regras. senão, santa inocência, teríamos uma safra do sempre tudo igual, como já a temos — não, não se pode culpar estes livros pela pasteurização dos textos na propaganda hodierna: é falta de culhão mesmo, muito mais do que talento, vocação, preguiça.

quer escrever bem? gaste rolos e rolos de papel higiênico. use pc, mac, bic, até máquina de escrever elétrica ou manual, até fazer dedo nos calos. até sangrar as idéias. escreva, escreva, reescreva, até copie, mas não se contente com seu produto final quando ele parecer bom. texto bom é apenas mais um texto, apesar de tanta ruindade que é veiculada e premiada por aí. e de mais um em mais um publicidade não faz serão.

não se esqueça nunca que o bom é o inimigo do ótimo.

não faça como eu que adotei como norma 30 minutos para produzir o columblog do dia — tá vendo a merda que ficou ?

não se preocupe em ser rápido. ejaculação precoce nunca deu camisa a ninguém. preocupe-se em ser absurdamente rápido no convencimento, mesmo que isso leve um anúncio de página de página inteira.

gaste suas idéias até não mais gastar. lembre-se que o bom texto publicitário, não deve se preocupar em ser o texto grand-prix e sim o texto que vendeu a peça. mas pelo amor a sua porra não justifique textos de merda com a mesma merda de sempre: tá uma merda mais vende.

parafraseie graciliano ramos: “ acho que o escritor não deve dizer as grandes verdades. e sim, as pequenas, aquelas que nos faltam no dia a dia. “.

nada mais verdadeiro para o texto de um anúncio publicitário.

e pau no keko!

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