quarta-feira, janeiro 29, 2014

quando a bunda pensa mais que a cabeça

" jovens da chamada classe C, por exemplo, tornaram-se majoritários no mercado de consumo. Em 2013 eles realizaram compras no valor de  quase  R$ 130 bi - R$ 50 bi acima do valor consumido pela juventude dos segmentos A e B (Data Popular).Juntas, as faixas de renda C, D e E reúnem  155 milhões de pessoas, o que faz da demanda popular brasileira, sozinha,  o 16º mercado consumidor do planeta".

mercado emergente à vista, clientes e agências, se coçam mais do que prurido de chanha para faturar o que seja.

nesta hora você saca quem é quem. e , por exemplo, a rasa profundidade do envolvimento das boas almas da propaganda com as causas sociais para além da produção de fantasmas para conseguir um prêminho internacional. o que aliás, é típico de publicitário sub-desenvolvido que, não se engane, é a realidade maior das cabeças do e de nosso mercado.

classe c ascendente , juventude em frenesi de consumo. libido na pressão, tesão pra todo lado. vamos foder adoidado, pensam os jovens. vamos entrar nessa e tirar partido destas fodas para botar pra foder e foder todo mundo, agitam clientes e agências. e o pior é que acabam mesmo fodendo: a concorrência nem tanto, mas a si(imagem de marca) e agência pelo valor(baixo) do trabalho, sem falar da nossa paciência.  

é o que se depreende quando publicitários que estão com a mão no falo do vender, partem para vender camisinhas da maneira mais fodida que pode haver. desperdiçando um leque sem tamanho - também para a criatividade - de oportunidades ao abordar um assunto onde e quando, em vez de objetivar só números, empresas, e publicitários, deixam de agregar valor as suas atividades, sem deixar de vender, óbvio, contribuindo de forma rica para que as bundas e correlatos se mexam com mais propriedade em todos os sentidos. inclusive naquele tão menosprezado da saúde sexual social. mas qual o quê? 

pra vender camisinhas então você cai na esparrela do oportunismo que alguém vende como oportunidade. ai faz uma versão do show das poderosas, com uma letra que em matéria de gozo não chega nem à cuspida, com rimas cu, onde vemos a "poderosa" por fim dar vivas à pegação pela pegação e onde a sua cara cumpre a desdita da dita cuja publicidade cu, ou bunda com queiram.

não se trata de moralismo exacerbado. mas caralho! que oportunidade desperdiçada para dar um toque que vale muitas e muitas vidas, de forma bem humorada, com fetiches ou sem fetiches, com o sensual ou não sensual, e até com apelos eróticos, sem abrir mão da estética que outrora era, no mínimo, punhetação de qualquer publicitário que se prezasse. e tudo isso, of course , de forma não didática. é só roçar no physique du rôle, o sense of humor, o aplomb, o savoir fair, entre outros meneios que não a grossura sem tamanho do ato da venda na base da foda fodida. 

se é inevitável que a moçada cada vez mais abonada vá transar adoidado, que se tire partido disto em prol de ações educativas que só aumentam retorno a investimentos em prol da vida e da felicidade(mesmo a fulgaz com um hit)  - e que necessariamente não tem de ser, repito didaticamente chatas - em vez de simplesmente ter o oportunismo de pegar carona num bonde de curto percurso e nem por isso menos perigoso. 

há espaço sim para fazer propaganda de camisinha de maneira lúdica, engraçada, criativa, positiva até mesmo usando a larissa. basta pensar e agir, como diz a velha tirada(sem graça), com a cabeça de cima e não com a de baixo.

afinal, por mais raso que sejam os níveis alcançados, o que é mais poderoso e o que define a atividade publicitária? a cabeça ou a bunda?

nada mais bunda, inclusive a própria
in tempo: viva a pegação é bordão de bundão mesmo. seria por isso que não deu outra?
http://www.youtube.com/watch?v=qMuR_Ytevnk

segunda-feira, janeiro 27, 2014

informação - ou a confusão disseminada por ela - sempre foi poder. manda quem tem - ou quem paga

Se há um segmento da sociedade brasileira que está precisando tornar visíveis os seus desejos e necessidades, este é o dos consumidores de jornais, revistas, telejornais e páginas noticiosas na web. O mundo mudou e as demandas da população também, mas a imprensa continua agarrada a um modelo que mostra evidentes sinais de desgaste. 
Temos hoje um déficit crescente de dados e informações capazes de dar à sociedade elementos para a tomada de decisões numa conjuntura cada vez mais complexa e interconectada. Opções relativamente simples – como comprar um equipamento doméstico – dependem cada vez mais de dados que permitam a escolha do produto certo, no preço adequado. Um estudo norte-americano mostrou que metade dos consumidores locais compram produtos inadequados por falta de informação.
Se formos estender a demanda de informações para questões mais delicadas como relações humanas, saúde e problemas legais, a carência de dados é ainda mais dramática porque cada caso é especifico de um determinado contexto social e individual.
O problema existe porque a imprensa precisa associar a oferta de conteúdos informativos à venda de publicidade comercial para sobreviver como negócio lucrativo. Nada contra existência de empresas, só que esse modelo de negócios não consegue suprir a demanda por dados e informações ligadas às necessidades da população, sem depender de patrocínios e anúncios.
No caso da polêmica sobre os rolezinhos, a cobertura da imprensa revelou-se deficiente não porque os repórteres e editores sejam despreparados, mas porque a publicidade dos shoppings força as empresas a buscar abordagens que não comprometam receitas futuras. Nessas condições o público fica sem elementos reais para poder posicionar-se diante de uma questão que provocou insegurança na classe média urbana de várias capitais brasileiras.
Estamos diante de uma situação em que os consumidores de informações acabarão sendo levados a promover o seu próprio rolezinho para que as empresas jornalísticas percebam o que a luta por sobrevivência financeira não as permite ver claramente. É a busca de visibilidade dos leitores para a demanda insatisfeita por dados e informações para o dia a dia das pessoas. Dados e informações que permitam às pessoas fazer opções de acordo com suas necessidades e contexto social, em vez de suas escolhas serem condicionadas pela publicidade.
Também nada contra a publicidade, que é necessária e insubstituível. O problema é os publicitários identificarem claramente o que é propaganda visando negócios e a que está voltada para necessidades reais da população. A guerra publicitária das operadoras de telefonia e de televisão é um exemplo de como a confusão proposital de dados e informações transforma uma opção de compra num desafio que pode acabar na escolha inadequada às necessidades do consumidor.
A primeira coisa que a imprensa deveria fazer para atender à insegurança informativa da população é procurar, de forma sistemática e continuada, ensinar as pessoas a lidar com a informação. São raríssimos os indivíduos que tornaram rotineira a checagem de dados e informações de qualquer natureza. Na era da abundância informativa, não dá mais para confiar numa única informação. Lidar com a informação implica uma série de hábitos e valores novos que ainda não foram incorporados ao dia a dia das pessoas. Hábitos tanto na hora de dar uma informação quanto na de usá-la. O problema não está só nos espertalhões ou irresponsáveis, mas na crescente diversificação das percepções de um mesmo problema.
Antes da internet, como havia poucos canais de comunicação, a informação era escassa e geralmente limitada a um número muito reduzido de fontes. Na era digital, tudo isso mudou. Milhões de pessoas passaram a publicar suas percepções e um mesmo fato, dado ou evento passou a ser percebido de forma diferenciada e não necessariamente falsa. É a velha questão do copo meio cheio ou meio vazio reproduzida dezenas ou centenas de vezes para uma mesma situação. Não se trata mais de distinguir apenas entre o certo ou errado, mas principalmente entre o melhor e o pior para uma determinada situação pessoal ou de grupo.
Aprender a lidar com a informação é talvez o nosso grande desafio em tempos de ação coletiva de vários segmentos sociais, todos buscando visibilidade pública num contexto cada vez mais complexo. Os leitores precisam cobrar isso da imprensa. 
(um rolezinho dos leitores de jornais, do carlos castilho, no observatório da imprensa)

domingo, janeiro 26, 2014

do limão a limonada, com açúcar e "com afeto"


Agência analisou o movimento e seu impacto para as marcas e a comunicação
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Agência analisou o movimento e seu impacto para as marcas e a comunicação













































O assunto mais comentado deste 

início de ano na imprensa e por boa 

parte da população de São Paulo 

despertou também o interesse do 

mercado publicitário. Para tentar compreender quais são os reais objetivos e intenções dos 

jovens que têm protagonizado os “rolezinhos” nos shoppings da capital paulista, a F.biz tentou 

mapear o fenômeno sob a perspectiva do comportamento, das marcas e da comunicação.


Segundo a agência, a proposta não foi tirar conclusões definitivas acerca do movimento dos 

jovens paulistanos, mas sim de fazer um retrato diferente dos rolezinhos, a fim de compartilhar 

com os clientes, marcas e parceiros da F.biz os tópicos que, de alguma forma, possam relacionar 

os acontecimentos ao universo da comunicação e dos anunciantes. Algumas pessoas da equipe 

da agência acompanharam os rolezinhos e, com base nessa experiência e na cobertura da 

imprensa acerca do assunto, desenvolveram algumas premissas.

Os resultados da pesquisa será postado na fanpage da F.biz no Facebook. Para retratar os 

rolezinhos, a agência criou dez diferentes cards. Veja:
 
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"Por oferecer um ambiente seguro de lazer, esse espaço de convívio sempre foi eleito pelos jovens como um ponto de encontro. Até aí, o rolezinho não traz nada de novo"
 
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"A internet é uma importante ferramenta para o rolezinho, tanto para juntar pessoas quanto para divulgar o ritmo que faz a cabeça dos jovens da periferia paulistana: o funk ostentação. Nesse cenário, MCs e celebridades da internet passam a promover os encontros de fãs, dando origem aos rolezinhos de grandes proporções."
 
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"Em dezembro de 2013, o encontro de jovens atingiu seu possível ápice e virou pauta na mídia mundial. A ação da Polícia Militar para dispersar os 6.000 participantes concentrados no Shopping Metrô Itaquera colocou o assunto na televisão, nos jornais e na mesa dos administradores desses estabelecimentos comerciais"
 
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"O Shopping JK Iguatemi obteve, em janeiro de 2014, uma liminar na justiça para proibir um rolezinho organizado no Facebook. A partir daí, estabelecimentos em outras cidades do Brasil também obtiveram a mesma autorização judicial. Compreendendo a decisão dos administradores dos shoppings como uma atitude de preconceito e segregação racial, entidades e grupos sociais organizaram manifestações como resposta"
 
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"Usados para registrar o encontro com ídolos e amigos, máquinas fotográficas e smartphones são itens obrigatórios. O conteúdo por eles gerado alimenta os perfis dos frequentadores nas redes sociais, reforçando seu estilo de vida e consumo. Hiperconectados, os jovens frequentadores investem tempo em redes que proporcionam melhor impacto visual (Instagram) e maior visibilidade (Facebook e YouTube). Afinal, números grandiosos de likes, amigos e visualizações são sinônimo de prestígio"
 
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"O funk ostentação faz referência a bens de consumo relacionados à aparência e ao estilo de seus artistas. Roupas de grife, bebidas finas e carros de luxo são usados nas letras para criar uma imagem de poder. Influenciado por esse cenário, o rolezinho também faz parte do fenômeno da ostentação. Nele, é preciso vestir o que há de melhor para atrair olhares e provocar inveja nos demais. Na busca pelo status, os meninos são os mais empenhados em ostentar"
 
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"O desejo desses consumidores se volta para os produtos reconhecidamente caros e cujos modelos são facilmente identificáveis, seja por suas cores vibrantes ou logomarcas grandes, por exemplo. O foco desse tipo de consumo está no valor do produto em si, e não em sua funcionalidade"
 
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"O consumo é tão intrínseco ao comportamento dos jovens que os organizadores dos rolezinhos adotaram o espaço como primeira opção para a realização dos eventos. Nesse momento, o local é tanto um ambiente de consumo quanto uma vitrine para a autoexpressão desse grupo"
 
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"Esses jovens têm dinheiro disponível para gastar com aparência e beleza e estão dispostos a consumir sem pensar no amanhã. Salários inteiros são utilizados em uma compra, que pode ser comparada a valores gastos pela classe A em um dia no shopping. Parcelado ou à vista, o importante é adquirir o produto original das marcas mais cobiçadas"
 
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"Contrariando a lógica de target ou marketing, marcas desenvolvidas com o ideal de luxo dialogam − e muito bem − com a galera do rolezinho. Engana-se quem acha que elas são só para a classe A: a classe emergente também é um importante consumidor"
 
As 13 marcas e produtos mais usados e amados pela galera do rolezinho
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As 13 marcas e produtos mais usados e amados pela galera do rolezinho
 

(O rolezinho, na visão de uma agência. no meio&mensagem

F.biz mapeia o movimento e extrai dez premissas dos encontros dos jovens que ganharam a atenção da imprensa e da população matéria da bárbara sacchitiello)




sexta-feira, janeiro 24, 2014

talvez algumas agências devessem lhe seguir o exemplo



                        "ser criativo não importa. importa a consequência de ser criativo". ferran adria.





"Seu nome ganhou tal dimensão pelo conceito que se notabilizou como 

cozinha molecular e que atraiu comensais de todos os cantos do planeta até 

lendário El Bulli, restaurante que encerrou atividades em julho de 2011. 

Como o chef diz, a decisão de fechar as portas foi tomada para que o 

espírito inovador do El Bulli não morresse".



(se quem hoje serve criatividade requentada, apesar de toda auto propaganda que faz de si 

como não, fechasse; ou se nomes que já foram ícones de criatividade, pulassem fora dos 

cargos cristalizados de ceos, onde já nada de novo oferecem(vide olivetto) não teria a atividade 

ganhar? interessante como muitas delas e deles, não seguem o exemplo que eles próprios 

deram e que fizeram deles o que são - inclusive nos seus livros pós sucesso - . mas isso, claro 

é só força de expressão. ninguém larga o osso que chama de bife ainda mais quando o bife é a 

própria carne ainda que sem tônus)





quinta-feira, janeiro 23, 2014

iogurte é cultura ou seja: garantia de merda certa

sob lacre de embalagem catita de iogurte sabor-nem-sim-nem-não, deparo-me com o seguinte texto: "sabia que os intestinos tem cem milhões de neurônios? e que por isso são chamados de o segundo cérebro"?

minha nossa! - intervalo para dizer que chapei de imediato e não, não me caguei, eu disse chapei - esta informação mudou a minha percepção da vida.

já tinha uma certa desconfiança de que para fazer merda era necessário um certo esforço e uma refinada elaboração ao contrário do que possa parecer de que fazer merda é fácil, tamanha quantidade e, sim senhor, falta de qualidade. isto posto, passamos a ter o conhecimento de que não devemos pensar que produzir merda é algo assim que se faça sem compromisso e concentração. não senhor. já sabemos agora que exige muito neurônio e um longo caminho, o que antes aprendíamos ainda na escola frequentada de calças curtas.

a minha visão de mundo - a tal da weltanschauung, diria eu,utilizando,creio nem uma fração incapaz de melar a cueca dos tais neurônios - metamorfoseia-se agora de forma quase radical. tive uma cólica dos sentidos. creio que devo fazer uma mea culpa por ter despejado tantos impropérios em todos aqueles que julguei produzir merda, seja na minha atividade - jornalismo e publicidade, resumidamente - seja naqueles campos em que meto o bedelho e, consequentemente, onde também escapole, de vez em quando, alguma diarreia para além da verbal/conceitual. 

se levasse ao pé da letra, em vez do desprezo, teria agora o respeito; em vez do dar de ombros, eis o ombro amigo; em vez da implacável mania de assepsia estética, a aposentadoria definitiva dos conceitos rebuscados de equilíbrio, proporcionalidade e harmonia, enfim da formação do bom-gosto. tudo em nome a veneração dos tais cem milhões de neurônios confirmados e confinados à tal produção de elemento tão culturalmente importante e que pode ser visto, ouvido, sentido, comido ou estocado, neste brasil onde certamente, por baixo, são cerca de duzentos milhões de cérebros(imagine isto multiplicado pela quantidade de neurônios do intestino) a consumir/produzir/consumir, uma infinidade de merda tal a começar do tal iogurte. 

mas como não levarei ao pé da letra - nem fodendo - adeus iogurte; com suas produção de falsa cultura lacto-bacilar, cuja única função é coibir ou embromar a percepção do que vem depois da abertura da embalagem: uma quantidade de conservantes, espessantes, e demais co-atuantes que ao fim e ao cabo acabam por dar um nó em nossos neurônios. os tais e os demais.

que venha então, e salve, a coalhada caseira. sem sustos e sem embalagens subliminares. sem esquecer do detalhe, de que tem de ser feita do leite produzido no estábulo ou vacaria, de vacas que pastam sem hormônios, que matam moscas com chibatadas de quebrar munhecas e que vivem e nos dão a consciência e consistência de um mundo que, este sim, torna-se-á mais saudável na medida em que aprendemos consistentemente que merda é merda. e que seu cheiro, tão peculiar e natural, assim o é, para que não engane ninguém. ao contrário do iogurte industrializado, onde cem milhões de neurônios são colocados ao serviço de engalobar 86 bilhões dos que pensam que tem cabeça ao consumir tal produto.

neste caso, toda a merda - a consumida e expelida - vem dai ou ai desemboca.

(originalmente publicado no misterwalk.blogspot.com de quando em vez blog de merdas igual a estas ou seria este?) 

quarta-feira, janeiro 22, 2014

a perguntinha é besta. a resposta nem tanto


O que é publicidade ruim?
 

Penso em publicidades ruins, de alimentos infantis com altos teores de açúcar

e formas de vender pelas quais você reduz o ser humano ao fato de ele ter 

produtos. Vivemos em uma sociedade onde o ter é mais importante do que o 

ser. Tem a propaganda de carro em que se vê um cara desaparecendo, daí 

reaparece no carro do lado de uma mulher bonita. Que mensagem isso traz? 

Se você não tem aquilo, não existe. Esses dois tipos de propaganda, a que 

desconsidera os limites da infância e da formação da criança e essa que 

reforça que cidadãos são menos importantes que consumidores, são 

extremamente negativos. Na internet, essas questões têm sido abordadas 

de forma engraçada. O Ad Busters, nos EUA, é sensacional. Deveria ser lido 

pelo pessoal da publicidade. A publicidade tem um propósito maior do que 

vender produto. A Zara não vende roupas, a Apple não vende computadores e 

a Coca-Cola não vende refrigerante. Vendem estilo de vida. O problema é 

vender essas ideias e usar fórmulas batidas. Fico deprimido pelas ideias 

bestas. O cara fez isso no banheiro de casa? Seguir manada é fácil. Pode ter 

sido criativo na forma, mas no conteúdo foi o mesmo machista, chauvinista, 

babaca, homofóbico de sempre. Propagandas positivas são as que fazem 

repensar a própria natureza do produto e das coisas.

(leonardo sakamoto, no m&m).

terça-feira, janeiro 21, 2014

"certas canções"



Em uma recente entrevista, Fernanda Montenegro revelou o seu medo de perder a memória. Na mesma hora, digitei o seu nome no Google e fiquei pesquisando as imagens da história dessa atriz. Ali estão os diversos personagens, as múltiplas cenas, os incontáveis momentos. Uma vida longa, repleta de pequenas outras vidas. Porque é do ator esse privilégio. Ele pode ser muitos, pode ser outros. Tem a licença para exercitar as suas facetas mais sombrias. Por um breve instante, pensei que para Fernanda Montenegro realmente seria mais sofrido do que para nós, reles mortais. Não é. A perda da memória assusta tanto porque é perder a si mesmo. É como caminhar na areia e se ver em uma praia deserta sem passos. De repente, não sabemos mais como chegamos ali. 

No sensível livro “Days with my father”, o fotógrafo Phillip Toledano registra o seu pai lidando com esse fato. Com a “não memória”. Em uma das fotos, há uma anotação em um caderno que diz “where is everybody?”. É a síntese do desespero. Um homem devastado que não mais se reconhece. Por outro lado, a memória que guarda um manancial de boas sensações é a mesma que pode tornar-se um flagelo. Por fazer com que você reviva nitidamente coisas que deveriam ter ficado no passado. Tenho cá para mim que a capacidade de esquecer alguns acontecimentos deixa o ato de perdoar muito mais simples. Nesse pensamento, relevar é também sublimar um sentimento. Falo disso porque tenho uma memória aguda para fatos e sensações. Guardo cada detalhe das coisas boas que me marcaram. E guardo também o ressentimento. Porque sou incapaz de esquecer o dia, a hora, o tom e o que foi falado. Nem os que aconteceram comigo, nem os que ocorreram com as pessoas de que eu gosto. É tudo vivo demais. Por mais que eu tente me livrar, acabo sendo acometido daquela mesma sensação. Sendo assim, perder a memória seria de bom grado. Ou, quem sabe, poder apelar para a empresa do “Brilho eterno de uma mente sem lembranças.” E apagar seletivamente alguns machucados não curados. 

Não andarei aqui pelo flagelo. Prefiro mergulhar no manancial. Lá está guardada uma aula com Saburo Kobayashi. Um enfático japonês que foi o General Manager da Divisão de Planejamento Corporativo da Honda. Por diversas vezes na sua aula, ele se dirigia aos alunos com o simpático adjetivo: estúpido. Nunca ter sido chamado assim me fez tão feliz. Porque era verdade. Eu estava de frente para o homem que inventou o airbag. Sim, o airbag.

Aí você pensa: moleza. Ele teve a ideia do airbag, todo mundo comprou e foram felizes para sempre. Ledo engano. Por 16 anos, ele brigou para que o projeto saísse do papel. Como diz o meu compadre Marco Monteiro: “Ideia é que nem carro alegórico: se todo mundo não empurrar, não vai para a rua.” A possibilidade de um airbag era tão estranha que, certa vez, os próprios funcionários da Honda a elegeram como a ideia mais idiota daquele momento. Nada disso impediu Kobayashi de seguir em frente. O que até me faz pensar que 11 meses brigando por um animatic nem é tão sofrido assim. 

Na Honda, se um funcionário apresentasse a mesma ideia por 3 vezes seguidas, todos tinham que acatar. Porque era um sinal claro de que aquela pessoa acreditava muito no que estava fazendo. O próprio Sr. Honda apoiou todo o processo de pesquisa para que o airbag virasse uma realidade. Um dia isso aconteceu e nenhuma alma viva se lembrou de registrar a patente. Afinal, ninguém sabia se aquilo seria mesmo um sucesso. Havia, até o último segundo, uma dúvida. Hoje, o airbag já salvou tantas vidas que a patente é algo menor na história. Kobayashi pode se dar ao luxo de dizer, do alto da sua elegância, que ofereceu um presente para toda a humanidade. A aula foi tão intensa que anotei algumas frases que passei a chamar de Regras de Kobayashi. Tomo a liberdade de comentar algumas delas. 

“Inovação não é uma coisa lógica. Não tente entender.” O que pode ser traduzido como: que tal parar de racionalizar tudo? 

“Se você não consegue explicar a sua ideia para um leigo, você ainda não a entendeu.” Pessoas que enrolam demais para falar raramente apresentam uma grande ideia. Buscam disfarces para camuflar o que não existe. Capricham no laço e se esquecem do presente em si. Roubo uma definição do George Tannenbaum, do blog Ad Aged, que diz que quanto maior a palavra, menos ela significa. Não à toa ideia é tão curta. E ainda lhe tomaram o acento.

“Experts: pessoas com conhecimento suficiente para matar a inovação.” Essa, se eu comentar, estraga. Prefiro que ela continue afiada como a lâmina de samurai. 
“O CEO estúpido diz: lucro é o nosso objetivo, quando dar valor deve ser sempre o principal objetivo.” Gere valor para a sua marca e os consumidores comprarão até sem saber o porquê. Busque apenas o lucro e eles comprarão até que algo mais interessante apareça.

“Sem paixão, você não consegue gerenciar uma equipe. Muito menos uma marca.” Desconfie de pessoas que seguem os seus comandos sem questionar nada. Se você é cliente, prefira uma agência que discuta as suas ordens do que uma que siga cegamente. É mais chato, mas o resultado é melhor. Se você é chefe, desconfie de uma equipe que executa toda e qualquer ordem sem confrontar. Ninguém é tão assertivo assim. Como diz o meu guru Dave Trott: “Question the question.”

“Se 9 de 10 pessoas concordam com a sua ideia, é tarde demais. Se 9 de 10 discordam, você pode ter um diamante.” Não procure por um senso comum. As pesquisas já fazem isso e o resultado é uma catástrofe.

“Paixão e caos são as mães da inovação.” Se você tem tudo esquematizado, o resultado será previsível. Do início ao fim.


“O preço de ser um lobo é a solidão. O preço de ser uma ovelha é o tédio.” 
Cabe a você escolher que preço quer pagar. Você pode seguir no rebanho reclamando. Ou pode decidir ser o reclamado. Pessoalmente, posso dizer que, para um filho único, a solidão é um preço que se paga mais fácil.


Caminho na praia e olho para essas frases como se fossem pegadas fundas na areia. Elas vão ao encontro do que acredito. Tomo como se fossem minhas. Meus valores foram confirmados aos gritos de “estúpido”. O medo do desaparecimento da memória diminui ao perceber que os valores nunca são perdidos. Quando alguém perde é porque nunca os teve de verdade. Ando em frente. O mar não vai apagar.
 


(O preço de ser uma ovelha é o tédio, do andre kassu, no M&M)