sexta-feira, maio 28, 2010

propaganda tal e qual ou o design velho do primo novo


novo uno, novo tudo. os novidadeiros publicitários de plantão estão em pulgas. mas como há muito não temos nada de novo no front, o renaul "twingô"- o carro mais chupado dos últimos tempos, foi a vítima desta vez. a fiat, pra começar, xerocou as três entradinhas mais pra baixo, o fox, da vw, raposa velha, apossou-se do novidadeiro sistema de bancos deslizantes, e por aí vai, para não haver mais desmontes. como todo bom carro que se preza, em nosso mercado, o twingô acabou por não fazer sucesso no brasil, terra onde o tucson, cuja glória é ter passado a perna no jeca ou eca-ford(suv mais fake não há, que blasfêmia à cherokee) mas que perde de lambada no subaru forester, por exemplo, que não vende nada por aqui, apesar de uma tração contínua 4x4 pra lá de cult no mercado americano e europeu, inclusive expressão da perfeição do equilíbrio do motor boxer, coisa que os koreanos ainda tem muito que copiar, lá e cá.

e é assim na base do uni-duni-tê, o escolhido foi você, que vai se fazendo propaganda dos inovados no brasil.

por essas e outras, eu prefiro os clássicos: nos carros e na publicidade, pois eles sim ainda são novos em tudo, principalmente quando se compara com este pensamento de retroz que anda costurando o marketing e a comunicação do mercado automóvel.


terça-feira, maio 25, 2010

o estágio atual da profissão


O mercado vive comentando o desempenho das agências de propaganda brasileiras nos prêmios internacionais. Mas por que não olhamos para nosso próprio umbigo? Longe dos holofotes, outra questão há muito se faz presente na rotina dos criativos. Cá entre nós, quem foi que inventou que estágio de propaganda é profissão não-remunerada?

É por essas e outras que o nosso país é um dos líderes em desigualdade social. Enquanto muitos diretores de criação vão para as agências dirigindo carros importados, pensando no próximo Leão, o famigerado e cobiçado prêmio, estagiários estão aí, sonhando apenas com um vale-transporte. E são os pais, quando há, que pagam o pato, e também a passagem, o almoço e até o cursinho de portfólio.

A Paris Hilton vestiu um microvestido, pegou uma cerveja na geladeira e ganhou mais de um milhão. A Tessália fez (supostamente) um polêmico blowjob em rede nacional e vai faturar uma bolada – sem duplo sentido – da Playboy.

Até quem doa sangue ganha pelo menos um lanchinho ao final. Só o maltrapilho do estagiário é que continua de mãos abanando. Tudo bem que alguns não fazem nada, mas sejamos francos: contratou, tem que pagar.

Tenho uma sugestão. Não é original, mas vai ajudar. Nossa própria seleção feminina de rúgbi já fez isso. Vamos juntar vários estagiários, de diferentes áreas, da criação, mídia, produção, atendimento, esta última, principalmente.

Com todos reunidos, faremos um calendário no melhor estilo “nu artístico”, recheado de peitos, bundas e outras coisas bem menos suntuosas. Assim, levantaríamos algum dinheiro e, de quebra, a galera da agência ganharia doze páginas bastante sugestivas para folhear.

No final do ano, faríamos uma promoção para queimar o estoque. Comprou um anuário, levou um calendário. Na época, um redator famoso ficaria encarregado de fazer um título sem essa rima pavorosa.

No ano seguinte, a mesma coisa. Centenas de recém-formados prontos para tirar a beca (só tomem cuidado quando forem jogar os canudos) e posar para as novas fotos que vão dividir as prateleiras com os anuários. Os estagiários finalmente vão poder mostrar em casa o que fizeram na agência. Mesmo que isso não seja nenhum motivo de orgulho.

Será que esse tal mercado da propaganda não tem condições de garantir o mínimo possível para seus estagiários? Será que as agências vão continuar adotando essa prática tão mesquinha e exploradora? Será que a única maneira de um profissional mostrar seu talento é ficando de barriga e bolsos vazios?

Chega de serás. Já passou da hora de mudar de atitude. Para terminar, quero deixar claro que minha intenção não é fazer nenhuma apologia à pornografia, mas trabalhar de graça, por si só, já é uma puta sacanagem.

(seguindo o exemplo, do marcelo fernandes, para o jornalirismo)

pessoalmente, acho que a grande sacanagem, nem é o estágio não ou mal remunerado. é que os estagiários agora vão aprender o quê, com quem? a fazer esta merda fofa que esta aí? a colect of truques e atalhos para pendrives de meio giga? antes não se ganhava nada, mas aprendia-se pra caralho, inclusive a hora climax de mandar donos de agência chupar outra tetinha. era a glória, por exemplo, lavar(sem sacanagem) os "pincéis do benício" - sim, antes de se denominar diretor de arte, o estagiário durante pelo menos um ano lavava pincéis, e olhe que já haviam "rafeado" arrôbas de leiautes, e arriscado mais pinturas que os dez primeiros volumes dos gênios da pintura. os redatores por sua vez, já haviam lido metade da biblioteca, dentro e fora da agência(sim, na agência havia biblioteca) e produzido quase dúzias de livros(que felizmente não lançaram). havia um aprendizado de sentido universal - a chamada cultura geral - que foi exterminada para e por pela geração diploma(de publicidade). não conto nos dedos da mão nomes de formandos que realmente tenham feito algo de relevante para a profissão(que está sepulta muito embora ainda a julguem catapulta. isso que está aí é enganação pura, sequer é punheta de propaganda, e estagiáriamente e profissionalmente falando, a começar do preço que paga-se pelo curso e pelo curso que a vida segue a partir deste mesmo curso, que formata o estudante a ser um eterno estagiotário, o que seria muito bem feito também para papais e mamães que, ou amam ou odeiam demais os filhos para darem-lhes fundos para tais faculdades se estas não tornassem, cada vez mais, o mercado esta mata de ralabundos soerguidos a bestas e pavões. e tome os mbas ou seriam amebas?

sexta-feira, maio 21, 2010

país de cardeais

De uma hora para outra eu passei de herói a irresponsável, com direito a tratamento de bandido.
Corria a década de setenta e eu, na Norton, recebi a incumbência de cuidar de

um produto de limpeza da Cyanamid. A verba era pequena, e o concorrente era

Fúria, que veiculava uma agressiva campanha, cujo conceito era o furacão

branco.

Com aquilo na cabeça, fui ao cinema. Vi, então, um documentário onde duas

pessoas, com enorme dificuldade e enfrentando um baita perigo, lavavam o

Cristo Redentor. Bingo, pensei. Vou promover a lavação dele, com o produto da

Cyanamid.

Mas como?

Fácil, imaginei. Lembrei-me de que naquela época Sílvio Santos promovia, com

grande sucesso, uma gincana entre entidades filantrópicas: quem completasse a

tarefa em primeiro lugar, ganhava um baita prêmio. Foi só juntar as coisas.

Junto com a produção do programa criamos e colocamos em execução um

plano. O programa faria o desafio, a Agência se entenderia com a administração

do Cristo Redentor e ambos tomariam todas as medidas necessárias de

segurança.

As providências foram tomadas e as coisas iam às mil maravilhas. Dentro da

agência o ambiente era de entusiasmo e eu tratado como gênio. A notícia

chegou nos Estados Unidos e a diretoria matriz avisou que viria ao Brasil só

para assistir ao evento.

Aí aconteceu o imprevisível. O cardeal que na ocasião das tratativas estava

viajando, retornou. E informado do fato não gostou. Nem um pouquinho:

“O que¿ Cristo transformado em garoto propaganda¿ Não admitido.

Cancelem!”

Cancelaram. Quase em cima da hora. O cliente ameaçou tirar a conta da agência

e eu, ex-herói, fui colocado na geladeira.

“Irresponsável! Como você foi ter uma idéia maluca dessas¿”


Por força das minhas responsabilidades na área pedagógica, adquiri o hábito de recortar anúncios publicados em jornais em revistas do país. Chamo isto de dissecar cadáveres.

Como se faz nos Cursos de Medicina, procuro descobrir, através deles, as doenças. A saúde também, embora não esteja certo de que naqueles Cursos essa ação esteja voltada para sacar a saúde dos cadáveres.

Não sei se isso está me fazendo bem. Tenho visto tanta peça, tanta campanha ruim, tanto lugar comum, tanta repetição de cenas, tanto anúncio ilegível, tanta droga que me sinto mal.

Outro dia me disseram:

“Os tempos mudaram. Hoje, os clientes interferem mais.”

Engano: os clientes interferem, ou tentam interferir, como sempre. A questão é: as defesas do trabalham não convencem.

E não convencem por falta de argumentos. Ou por covardia.

Quem cria, quem planeja, quem apresenta o trabalho ao Cliente, tem de ser macho, ainda que a apresentação seja feita por alguém do sexo feminino. Tem de assumir o risco, se estiver apresentando uma boa idéia. E assumir as consequências, se não der certo.


Se a idéia revolucionária que apresentou não der certo, você pode ser chamado de irresponsável. Até perder o emprego. Paciência.


Sua consciência estará em paz. E seu valor será reconhecido logo em frente, talvez até pela mesma agência que o(a) demetiu. E pelo cliente que recusou o trabalho.

(de mocinho a bandido, do eloy "enciclopédia" simões, no acontecendo aqui.