sábado, maio 31, 2014

deixe de estórias " rapá"!




há pouco mais de um mês, edson "brasiluso" athayde, o publicitário que faz mais sucesso - e cólicas aos seus pares - por lá do que por cá, esteve em recife, a propósito do lançamento de dois dos seus(bons)livros, devidamente empacotados numa ação palestrante sobre o storytelling. na verdade o pretexto, o desfecho do argumento, o cerne do roteiro, a história que não foi contada era contida nos livros e não no telling, que não passa disso mesmo: pretexto pra boi dormir.

a minha opinião pessoal sobre o storytelling - e dela não arredo pé - é que temos aqui, novamente, mais um bull shit* ou o bull shit do verão passado. mais um factoide, criado pelos publicitários - ou pela indústria da publicidade - modismo, naming ou o que seja, para criar algum folego para uma atividade que ultimamente tem sido pouco condescendida para com os seus e para com os outros, e para com o respeito, que em tamanha falta, degenera o glamour que já teve um dia, para o bem e o mal, desconstruído pelas próprias falcatruas - a propósito, fica realmente muito difícil respeitar quem se vende tão barato ou que dá de graça ou que vende a mãe e passa recibo ou que desdiz o que disse ontem, quando afirmou "eis a solução para os problemas", quando um dos maiores problemas é justamente a solução encontrada. é meus caros: decididamente já não se fazem publicitários - e contadores de histórias - como antigamente.

mas o bull shit pode ser pior quando toma ares salafrários, bisbórrios. e eis que nem ainda o "defunto esfriou", e já temos outro, que estava lá na apresentação do edson, e que difere, e em muito daqueloutro, fernandeando loas sobre o primado do saber até então enrustido de contar histórias para conquistar clientes e consumidores. a diferença é que aqui não há gratuidade sob o custo dos livros em pretexto. agora temos "taxas de investimento". de 220 reais (agora não se paga. se investe. eufemismo, mais um, de bosta, ao ponto de um circunlóquio) o que, em muitos casos, é cerca de um quarto do salário pago a publicitários de criação. um pouco mais, um pouco menos. menos? menos ainda sim senhor. mas há os vale-refeição para iludir a fome dos ouvidores de estórias, algumas sem pé, a maioria sem cabeça. faz parte do caráter do lima fazer esta limonada de sábado, não como gancho de oportunidade de plateias ainda não saciadas mas, como exercício do oportunismo de plantão.** 


mas caralho!(há quem diga que todo caralho tem histórias para contar mais que ninguém quer ouvir, daí a ejaculação precoce) desde que o mundo é mundo a tradição oral sustentou e elevou civilizações ao cume do saber e do poder. quem tinha uma boa história tinha seguidores. e quem a contava de forma ainda melhor, aumentava ainda mais o séquito. aliás, não foi à toa que durante três séculos uma equipe de copies - sob a mão de ferro de um diretor de criação? ou diretores? -  escreveu e reescreveu(arrisco dizer que foi mais reescrito do que escrito, célebre conselho de ogilvy "escreva, edite, escreva e novamente edite") -  o mais vendido, ou maior, como queiram, storytelling de todos os tempos. tanto que até agora convence muita gente do implausível - inclusive a meter a mão no bolso - gerando mais e mais produtos paralelos, merchands múltiplos, licensings diversificados e tudo o mais(sim, é a bíblia, estúpido!) inclusive um de agora, cuja maior crítica foi justamente o material acrescentado - noé, russell crowe, roteirizado por aronofsky e john loga - o que prova que mexer no telling do story dos outros não é para qualquer um. como o sempre o foi na propaganda.

isto posto, agora não me venham vender como novidade, "salvadora do negócio"  algo que existe desde o início dos tempos - e falo dos tempos ac e não dc. chega de bull shit. tenham santa paciência. tenham dó de seus neurônios, por maior que seja a vontade de mistificar o processo. eis mais uma terminologia fabricada, entre tantas outras, tal como 360, por gente que não consegue mais fazer o que devia ser feito. e bem feito. não? bom, se o storytelling existe mesmo, chegou atrasado. afinal, o primeiro sutiã era o que mesmo(1987)? boa propaganda, pois não? pois é. é o que falta.

para não alongar mais esta triste story, nem eu aguento tanto telling, esta semana veiculado nos meios - e nos sites e demais especializados em propaganda - um filme da turkish airlines que foi decantado como um primor de storytelling  mas que convenhamos, é mais do mesmo, de muitos que já vimos.



então reafirmo: mas se isto então é storytelling, o que dizer então do primeiro sutiã? (1987) que junto dele faz o filme da turkish parecer teco-teco? 



então, porra! como é velho este tal de storytelling, não é mesmo? isto é coisa para mim que tenho mais de 60 anos, que ouvia storytelling no radio, estes sim é que eram fodas(criar o filme ou figura na cabeça do ouvinte com o poder do texto/argumento) não para esta moçada nova, que se diz tão antenada, e que portanto devia, se não construir, copiar outro futuro que não tenha a nossa cara do passado. caso contrário, vamos ficar cheios de noés de meia-tigela e ai não tem arca que nos salve ou se salve de(com) tantos furos.

chega de story e menos ainda telling. basta fazer o que tem de ser - realmente feito - e bem feito. ai a história já será outra como deveria de ser e não repetir a cantilena furada.***


* opinião que externei ao athayde antes do evento que, como dizem por aqui, "pegou ar" e mandou a boa resposta de que bull shit é quem critica sem assistir. touché! 

sem tergiversar mais, digo que o melhor "storytelling" do edson é o seu próprio. sua trajetória de adolescente da periferia carioca de trejeitos e risada catatônica ao que é hoje. enfim: ainda hoje zero de physique du role esperado à profissão de criativo publicitário. sendo assim desde aquela época de portatfólios(as célebres pastas do omar) de griffes por fora e conteúdo blasé; de blasers armanis montados; de gravatas de bichinhos e dos tênis dourados dos tais anos dourados da propaganda. como só ele mesmo poderia ter feito, encarnou a metáfora do não sabendo ser impossível foi lá e fez. e fez muito. e muito bem feito(sem rótulos). sendo quixote e pança em uma só pisada. e isto, numa época onde comer no dia seguinte talvez não fosse possível. todo o resto, junto disto, premiado em cannes ou não, é história menor ou estórias de maledicências que nem sequer lhe fizeram a justiça de parecerem ser bem contadas.



** sobre o fernando? bom, eu prefiro o abba.

in tempo: para quem ainda não realizou o que diabos é storytelling, eis uma - das tantas - definições cavilosas, do mcsill storytelling group(brasil/portugal), segundo eles, "contar histórias é para todos. o storytelling, entretanto, deve ser definido como o ato consciente de passar emoções, temas ou posições morais da mente do mensageiro à mente do interlocutor e levar o interlocutor a agir. isto é: estruturar uma narrativa com um propósito e, dentro dela, ser capaz de embutir ordens e informações que levem o interlocutor a se engajar, compelindo-o a tomar uma posição, realizar uma tarefa, aceitar ou rejeitar uma proposta e emocionar-se com um texto escrito ou falado". neste link, se você tiver saco - eu não tenho - tem todo tipo de receita de storytelling - vendedores de banha de cobra, aos montes - o que prova que o storytelling banalizou-se a ponto tal que o chorume esborra na internet. e se dúvidas houvessem, dentro deste link, o do james mcsill, assusta tamanha cara de pau. e pau e picareta, se complementam na ferramenta de cavar o vácuo https://www.youtube.com/watch?v=Xu8jrKiCykQ sim, storytelling e transmídia são "irmãos de gênero" ou de orientação se você achar mais politicamente correto.

*** e nem me venham com aquela outra conversa mole de que os tempos mudaram(falarei sobre isto noutro post - bill bernabach) que os meios mudaram, que a tecnologia isso e aquilo e que a ação de interrupção não funciona mais. esteja você fazendo o que fizer, se algo realmente bom lhe interrompe, você para e presta atenção. eu, por exemplo, toda vez que a vizinha abre a porta da sua casa, eu interrompo até doação de sangue. inclusive este post agora.

quinta-feira, maio 29, 2014

a caminho da jequice total ou seja: numa miami dubex jamais seremos algo mais que sacoleiros de gorjetas

Recife é uma das capitais culturais menos jecas do Brasil. O manguebeat ecoou lá, em plena década de 1990, a mesma percepção de país que já animava o modernismo antropofágico e o tropicalismo. A capital de Pernambuco produzia um antídoto contra a crença na circulação de dinheiro como valor central da sociedade – o yuppismo. Mas, ao mesmo tempo, contra uma certa regressão da cultura pop a valores “machos” e “legítimos” do rock, com o grunge.
Adoro a tese de que a estética de Kurt Cobain e do Nirvana era muito mais uma cria do ambiente riot grrrl, de bandas de garotas feministas, do que do ambiente de seus pares mais tradicionalistas, como Alice in Chains e Pearl Jam. Mas o documentário sobre Kathleen Hanna, de onde vem essa conversa, fica para outro texto. É que lembrei de uma camiseta do manguebeat que eu tive que dizia “Mangue bitch”. Smells like mangue bitch. Tem a ver.
Não é pouca coisa cravar a próxima referência numa linha de pensamento cultural que inclui a antropofagia e a tropicália. A nossa versão da contracultura, toda matizada e terceiromundista, mas sem abdicar da inteligência cortante do pensamento alternativo daquele período (1967-1971), não para de crescer como referência na psicodelia mundial. Na verdade, os Mutantes foram redescobertos antes lá fora (pelo próprio Cobain, além de Sean Lennon e David Byrne), vindo se somar a referências internacionais como Caetano e Gil, e a outras que vão sendo descobertas na gringa, como Tom Zé e Tim Maia.
E o nosso modernismo da Semana de 22, mesmo que não tenha sido muito percebido no exterior, e que haja hoje uma linha de jornalismo histórico que tenta tratá-lo como diletância de filhinhos de papai, tem uma formulação sobre a relação entre cultura popular local e cultura internacional que é absolutamente sagaz, totalmente em sintonia com as vanguardas européias. Uma visão que antecipou as artimanhas da cultura pop tanto quanto Dada (1916), o cinema revolucionário russo (1922) ou o surrealismo (1924).
O manguebeat foi uma explosão da inteligência de Recife, e de Pernambuco, em várias linguagens. O cinema é na qual ela mais continua chamando a atenção. Depois do filme que inaugurou o cine pernambucano atual, O Baile Perfumado (1996), vêm se sucedendo obras importantes para o cinema nacional, como Amarelo Manga, Cinema Aspirina e Urubus, Tatuagem e O Som ao Redor. A música, depois da fase brasileiro-eletrônica que revelou Otto e o DJ Dolores, agora tem a “cena Beto”, com músicos e bandas bacanas como Juvenil Silva, Ex-Exus, Dunas do Barato, D Mingus e outros.
Recife tem uma receita única de relacionar maracatu e rock nas ruas do carnaval, de abordar temáticas locais sem muita condescendência ou didatismo pra turista ver, de se manter mais ou menos imune à prostituição institucionalizada do turismo predador. É essa propensão à “psicoprostituição turística” que transformou a produção de outra capital culta do Nordeste, Fortaleza, num gueto minúsculo, ameaçado o tempo todo pelo humor e pela música sexualizados, mercenários e grosseiros. Já Recife vem se mantendo como um laboratório saudável do imaginário nacional.
Ou vinha. Porque uma briga contra a especulação imobiliária acaba de revelar, em toda sua desinibição, uma casta de neo-yuppies locais, que se manifesta postando nas redes sociais frases como “Pra mim eu quero a identidade com cara de Miami mesmo, de Hong Kong e de locais que são explorados o turismo e que se gere empregos, renda e divisas!! CHEGA DE DEMAGOGIA!! Recife não precisa de choro, precisa de renda, emprego e um turismo forte!!!” (vários sics).
Na verdade essa tensão psicocultural é o tema o filme O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho, que trata da chegada de uma milícia de segurança privada a um bairro de classe média, em Setubal, na praia de Boa Viagem. Setubal é zona de transição. A parte, err, chique de Boa Viagem, com seu paredão de “prédios bonitos” na orla, é uma espécie de combinação de Barra (Rio) com região da Berrini (São Paulo). E mostra que herdou as relações da senzala, do engenho, da capitania hereditária, tudo recoberto com muito vidro e dezenas de andares.
Mas o chamado Recife Antigo permanecia quase intocado. Foi em seus puteiros, principalmente o incendiado Frank's Drinks (por algum mistério escrevia-se assim mas pronunciava-se Francis), e também no Atenas Drinks e outros, que aconteceram os primeiras festas e shows de Chico Science e da turma do mangue. Depois da fase mais decadente, houve uma revitalização do centro velho, em parte motivada pelo incremento no orgulho local que a fase do próprio manguebeat produziu – e foi nessa revitalização que os cabarés foram desaparecendo.
Esse é um fenômeno usual. De Nova York a Lisboa, as cenas que projetaram as bandas da new wave, num caso, e o Madredeus, no outro, foram gestadas em regiões decadentes, entregues ao tráfico e à prostituição, antes de influenciarem a cultura mundial. E não é estranho que esses tecidos urbanos e sociais se reconstituam e voltem a circular dinheiro, com base na “contaminação positiva” da cultura que acolheram. São Paulo enfrenta um pouco essa questão com a rua Augusta.
Em Recife o caso é cruel: quer se passar do casario e das instalações industriais e comerciais sobreviventes, sem escalas, a (como disse o despudorado internauta) Miami ou Hong Kong – ou Dubai (tenho certeza de que era desse nome que ele queria lembrar). Recife tem uma configuração especial. A ocupação original é Olinda, mais alta, que permitia a defesa militar. Foi a invasão holandesa que criou Mauritsstad (cidade de Maurício de Nassau), na área baixa, de recifes.
Na capital da Nova Holanda, Maurício impulsionou a tolerância religiosa, permitindo aos judeus a criação da primeira sinagoga das Américas já em 1642, as ciências (o primeiro observatório astronômico do novo mundo) e a engenharia (com as pontes, diques e canais para permitir a tomada do estuário dos rios Capibaribe, Beberibe e Pina), e as belas artes.
Mesmo que não possa se chamar a colonização holandesa de mais humana, arrisco dizer que foi nesse enfrentamento entre Olinda e Recife que se definiu muito do caráter inconformista da segunda. Sair de Recife e entrar em Olinda sempre se parece um pouco com sair de Pernambuco e entrar na Bahia (no sentido de um lugar mais brazuca-cordial; Recife, ao contrário, é marrenta).
O cais José Estelita é um dos limites desse núcleo urbano original. Foi um cais ferroviário, construído no início do século passado, e a RFFSA foi extinta em 1999. Em 2005, um projeto urbanístico para a região foi apresentado pela prefeitura, e jamais realizado.
Em 2008, com a venda do terreno em leilão e a protocolação de um projeto privado na prefeitura, às vésperas da aprovação de um plano diretor que o impediria, começaram as escaramuças entre as incorporadoras, o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), a Fundarpe (Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco), o governo e as associações da sociedade civil. Essas acusam as inconveniências ecológicas, históricas, arquitetônicas e sociais do projeto.
Um texto de 2012 do grupo Direitos Urbanos explica o imbróglio até aquela ocasião. Um trecho esclarecedor: “É um empreendimento imobiliário, que promete sim dinamizar economicamente a área, aumentar o número de empregos, impostos, carros nas ruas do centro, esgoto no estuário, mas que absolutamente não toma o centro da cidade como referência; ao contrário, dá para ele as costas, conectando-se muito mais diretamente com o Shopping Rio-Mar, construído sobre o mangue na outra margem do rio, e com a zona de Boa Viagem, mais ao sul, já saturada pela especulação imobiliária. Este projeto sobrepõe uma dinâmica urbana externa, baseada num alto padrão de consumo, à dinâmica existente, ignorando suas especificidades, fragilidades e potencialidades”.
O Direitos Urbanos está à frente do OcupeEstelita, uma mobilização para impedir a continuidade das demolições (possivelmente ilegais) que começaram na semana passada; neste texto dá pra ver as atualizações. As bizarras e deslocadas torres gêmeas do Cais Santa Rita, ali perto, construídas em 2008, já são uma amostra dessa agressão de 40 andares. A mesma construtora Moura Dubeux, envolvida numa série de acusações, está à frente do projeto Novo Recife (com Ara Empreendimentos, GL Empreendimentos e Queiroz Galvão). Os novos prédios seriam até 13 torres, com os mesmos 40 andares.
Resta saber se o Novo Recife, que começou na Holanda, vai acabar mesmo em Miami. Smells like mangue bitch.
(smells like mangue bitch, do alex antunes)

terça-feira, maio 20, 2014

há uma pedra no meio da camino ou a topada para trás


escamotear o que pudermos?
o mercado de comunicação de joão pessoa é um tanto ou quanto esdrúxulo. alguns diriam irrelevante, enquanto qualidade e quantidade. outros, diriam que não fede nem cheira, sequer faz cócegas.

talvez por ser isso mesmo, possibilita o canhestro dos mais variados tipos. canhestro que enrodilha-se na picaretagem que, seguindo a mesma trilha, não é propriamente uma singularidade do mercado em si. são pegadas de uma atividade que anda de rastros porque perdeu-se pelo excesso de esperteza por um lado, e pela falta rombuda de trabalho, talento, decência(as palavras ética e moral já foram desmoralizadas que bastem) pelo outro. sem contar algumas cositas más que não fariam mal se retomadas por gente que de há muito perdeu a vergonha na cara. neste caso, para o bem da atividade. porém, como isso seria mal para os próprios, segundo os próprios, e pros negócios, segundos os mesmos, logo, portanto, o mercado vai continuar sem-vergonha..

tal mercado borbulha. não se sabe bem o moto de qual efervescência. se da que chia advinda pelo ralo ou daquela que tilinta pela champagne estourada. ou seja: se pelo surgimento de novas oportunidades(para o bem e para o mal) ou se pela estagnação de velhos hábitos, metamorfoseados em novas aparências. o museu das grandes novidades, como diria quem já foi da efervescência e hoje está mais para a evanescência, cazuza, está pra lá de abarrotado. 

temos agora uma escola que se apresenta como escolha - a quantidade copydescada de cursos, e de denominações pseudo criativas, é de fazer inveja a tabuleiro e gogó de camelô - disposta a quebrar paradigmas, o que é sempre uma proposta interessante, pelo menos para quem sabe o que é paradigma. porém, já ao início da pisada diversas pegadas demonstram que o "camino" tem como guia(s) gente nadica-de-nada anti-paradigmática. e muito mais conhecida por marcar passo e dar voltas em torno de si mesmo do que contribuir, inclusive, para a saudabilidade da sua caminhada. aliás, depois que alguém passou a citar o ex-libris da gestaltterapia(caminhante não há caminho, o caminho se faz ao andar) temos um exército de baratas tontas - principalmente na propaganda - que nem por isso alavancam a venda daquele que se diz terrível contra os insetos - contra os insetos - mas que é absolutamente ineficaz contra os blattodeos que fomentam-se por este tipo de fermento.

mas isso não é problema meu. que não sou da vigilância ambiental nem nada. aliás não sou de quaisquer vigilância. contudo, como ainda corre no meu sangue anti-corpos ao avacalhamento da profissão, permito-me, para "espumancia" degenerada de alguns, e imprecações desalicerçadas de outros, emitir algumas opiniões que: se não mudam muito do que vejo, ouço, leio e manuseio, pelo menos asseguram-me a não cumplicidade e a omissão diante de um certo estado putrefato das coisas.

após este introito de fino trato, sendo curto e grosso, pra variar, confesso que me espanta - mas não tanto -  uma escola ou uma escolha de criatividade, cool, hard, freak, free, chavesca ou o que seja, que em sua comunicação de "laçamento" despreza a deontologia. não me parece um bom caminho. nenhuma escola na verdade o é. apenas são atalhos, sendas, vereda, que mais das vezes descambam em pirambeiras 

e porque raios digo isso? algum comichão nos cotovelos ou nas dobras do piloro? ora, um site que utiliza imagens em roldão para ilustrar seu propósitos - ou despropósitos - de uma "deseducação criativa dos velhos moldes" ou vice-versa, se assim o quiserem,lançando mão de imagens que, se algumas talvez ou sim, outras, bastantes, não são de domínio público, para causar frente a moçada, a mim só me causou uma estranheza em nada felpuda, tamanha pedrada. trazendo-me de imediato a lembrança uma certa mão que não é a do facebook (é a mão grande mesmo). e a constatação de que aquele velho, e bota velho nisto, expediente soturno - ou vá lá "cacoete" - está mais vivo do que nunca, exercitado em território escolar na base do ninguém vai se dar conta. afinal estamos mesmo no fim do mundo, apesar da web sugerir o contrário, numa certa espécie de legitimação. o problema é que a web também pode se tornar o começo do fim do mundo ou o fim da picada(ensinam isso nas escolas?) fazendo-me lembrar aqueles fiteiros ou lojas de quinta, que apropriam-se de imagens "walt disney" ou do piu-piu e frajola sem querer saber, neste caso, que estão cometendo crimes, e que o desconhecimento popular acata sem culpa e sem perdão mas nunca desprezando o apanágio da esperteza de quem o fez. já o profissional, sabe o que é indébito, ou não?

não saber não me parece o caso de corpo doscente tão decantado - meio velhinha esta coisa de textos flaneur ou descolados para caracterizar o anti-mesmismo de criativos que se colocam na posição de anti-anti ante o modus faciendi que impregna as atividades de cursos e do cotidiano da publicidade hoje em dia. mas que ao mesmo tempo não abre mão de desfiar os rabos presos aos prêmios que nem mesmo as suas mães conhecem.

intriga-me também, mas não perderei o meneio das meninas do cabo branco por isso, ver a imagética(neste caso, consentida; imagino) do contra-criativo luiz carlos e do alex camilo, por exemplo, conhecidos "defensores das causas perdidas" do e no mercado, adesivados a tanto. teriam sido abduzidos por tal camino? que se mostra(na apresentação) mais deambulador de experiências existenciais/profissionais) do que o camino de san tiago? waal! teria pousado novamente alguma nave louca no planalto do altiplano, coisa que se dizia, no tempo que apanhar cajus por lá era o break the rules de uma moçada que não estava para o "quem me quer" da hora?    

isto posto, se a ladroagem é de boa fé, "um deslize", o que já seria péssimo, diriam alguns, pra que tanto rigor?  mas afinal: que porra de anti-didática ortodoxa libertadora é esta? que começa com o ranho de vício rançoso, não fosse deslize nome de canção chunga interpretada pelo fagner ? e caso não, alimenta-se a rapinagem de má fé? aparentemente pueril na busca da melhor impressão e urdida para fazer escola? não me cabe asseverar que sim. mas com certeza, de que não é o melhor jeito(ou seria trejeito?). só sei que enviei e-mail aos idealistas do "falso plantão", sob a questão, que calaram. e quem cala, consente. outrossim, continua a me parecer que o jack black, mesmo com sua cara de louca porra - só para citar um dos - não tenha autorizado - ou quem o fotografou - a utilização da sua imagem para tal divulgação(seria o fator gulliveriano um insight intrínseco ao conceito da escola: esticar ao máximo pra ver até onde dá, e encolher princípios até não poder mais?) idem para o bush father, mesmo que ele esteja em sua fase pintor em busca de holofotes, e assim por diante até os indefectíveis chitãozinho e chororó (o leitor, rançoso ou não, pode conferir as imagens in http://caminocriativo.com/  e quiçá me alertar que as imagens usadas são franqueadas (não acredito) a preço de par de meias - o que também seria uma merda para uma escola que se diz inovadora e portanto confirmar-se-ia a barriga, furada, furo, mancada ou pisão no pé do cipa.

enquanto não, somatiza-se a má forma, o que e contraditório - conceitualmente o móbile do contra por lá tenta parecer ser outro -  no afã de aparecer/parecer escola descolada, inovadora, pós-antenada, onde a camino claudicou sua passada larga numa coisa tão velha com a posição de cagar de cócoras(para além do leiaute, que mais parece "marcação de texto") marcando o passo curto, como diria o vocabulário popular: ao cagar e andar para a deontologia, que é um conteúdo que não se deve(poder, pode, como fez, e tantos fazem) deixar de ministrar para aqueles que querem uma caminhada sem gêpêesses dúbios, nesta profissão de tantos calos e descaminhos entre meias furadas e furadas inteiras, e topadas e topetes - e a falta ou o excesso deles - que não há pedologista que recupere dedões amargurados.

deontologia pesa na mochila? pra caralho! pesa. mas deixa a consciência leve, até mesmo de quem não a tem muito em conta. que é uma das coisas fundamentais para aqueles que querem ter uma caminhada não menos árdua mais sem sobressaltos, tais como este, de ter um(use sua "criatividade" e me xingue como quiser) no seu pé, apontando sua sola furada, e se bobear a sua cueca(e calcinha) cagada. 

por esta e outras, é que só deve pegar pesado quem não tem problemas de coluna. a quem tem, resta o pega leve. mas isto não faz escola, nem define escolhas, que convém fazer antes de enveredar pelo caminho mais fácil que fatalmente é o que leva ao lugar comum ou ao lugar nenhum, que é onde a maioria está. e o que é pior: nem se dá conta disto pois seus novos caminhos não passam do círculo vicioso da reprodução do mais do mesmo com novas - ou nem tanto - velhas caras e ideias. sendo a mais velha, a ideia que é preciso escola e professores para se aprender o que não se aprende na escola.

como diria o ditado turco: não importa o quanto você foi longe no caminho - ou na escola errada - volte para trás. se não acha, matricule-se, e vá em frente até não poder mais ou não se perder mais. no que me toca, já estou fazendo o caminho de volta - o que é muito diferente de apagar ou desfazer caminhos ou escolhas, só para registrar.


in tempo: este mesmo tipo de raciocínio/valor, o na base do faz que dá, que todo mundo faz, ninguém liga, ninguém vai perceber(com tanta câmera?) "é uma coisinha só", porque que não? é o mesmo que moveu,  numa típica manifestação de histeria coletiva, moradores pra lá de evangelizados(abreu e lima)a cagar e andar para mandamentos sagrados e tocar a promover arrastões, invasões, depredações e o saque de eletro-domésticos que ao fim e ao cabo não lhes deu nenhum prazer e só dores de cabeça - e alguma notoriedade ao "boy do arrastão"

ao utilizar tais imagens, a camino desrespeitou um dos mais sagrados mandamentos da atividade: não roubarás o trabalho alheio, do qual nem o crédito, se dado, absolve. fosse eu o deus do velho testamento e já mandava um raio bem no meio da testa destes que se dizem idealistas da criatividade e da educação(sic!). mas como sou ateu, principalmente diante destas escolas onde os vendilhões da criatividade as promovem como templos de uma nova religião, faço o registro e vou andar com meus cães que são muito mais sábios em farejar caminhos que possibilitem novas descobertas.

in tempo 2 : no uso de tais fotos não houve sequer fermento criativo. só pulhice, e do mais reciclado bolor. 









quinta-feira, maio 15, 2014

a quem se perdeu no meio do caminho ou aos que já estão perdidos antes de começar



STEVE JOBS sempre acreditou que no final sempre vence o melhor. Que as tentações de meio de caminho são muitas, mas apenas capazes de mudar a direção de pessoas com espírito fraco. Que eleito um foco nada a conceder. No dia 24 de agosto de 2011, ao se despedir, entregou a APPLE disputando com a EXXON o título da empresa mais valiosa do mundo. Mais valiosa que todos os seus demais rivais e desafetos, muito especialmente MICROSOFT e GOOGLE. Se dependesse só dele, jamais deixaria o comando... A saúde, mais que debilitada, falou mais alto.

Em sua cabeça, desde o início, a definição de um campo de atuação, a crença nos princípios, e a determinação de criar um mundo e uma plataforma únicos. Ainda que no curto e médio prazo deixasse de ganhar muito dinheiro e contabilizasse desvantagens, apostava na meritocracia do mercado. Que seria reconhecido, e levaria todos os louros. Em benefício dessa consistência viu muitas de suas inovações serem copiadas e faturadas por seus principais inimigos. Muito especialmente a MICROSOFT que “roubou” o seu WINDOWS, muitos concorrentes que pegaram carona no iPHONE, e todos os que se referenciaram no iPAD. Independente de tudo isso, e mesmo amargando dissabores no plano tático, venceu, prevaleceu, superou, conduziu.

Ao se despedir, foi comedido, “Eu sempre disse que se chegasse o dia em que não pudesse mais cumprir meus deveres e expectativas como diretor - executivo da APPLE, eu seria o primeiro a dizer-lhes. Infelizmente esse dia chegou”. A maçã mordida na parede e ao fundo, assim desde sua concepção, de certa forma sinalizava através do pedaço faltante, a partida futura de seu criador; e o futuro chegou.

Com o emblemático, carismático e inovador líder, aprendemos importantes lições, através de suas manifestações em diferentes momentos e circunstâncias. Aprendemos, por exemplo, que “Nascemos, vivemos por um tempo breve, e morremos; a tecnologia não muda isso, se é que tem a capacidade de mudar alguma coisa”. Assim como que “A inovação é o que distingue o líder de um seguidor”. Segundo ele, a maior parte das pessoas prefere passar seus dias vendendo água com açúcar, e outras procurando uma oportunidade de mudar o mundo. Ao WALL STREET JOURNAL, em 1993, confessou, “Não tenho o menor interesse em ser reconhecido um dia como o homem mais rico do cemitério; prefiro ir todos os dias para a cama dizendo para mim mesmo que fiz algo de maravilhoso”.

Recomendava a todos os seus colaboradores que para caminhar para frente era essencial, sempre, “Pensar diferente”. Que “Os verdadeiros artistas são aqueles que criam coisas reais e que serão usadas”. E dentre suas manifestações, a que fez a formandos de uma universidade americana continua reverberando nos corredores infinitos da internet, todos os dias...
- “Você não consegue ligar os pontos olhando pra frente; você só consegue ligá-los olhando pra trás. Então você tem que confiar que os pontos se ligarão algum dia no futuro. Você tem que confiar em algo – seu instinto, destino, vida, carma, o que for. Esta abordagem nunca me desapontou, e fez toda diferença na minha vida...”
- “Seu tempo é limitado, então não percam tempo vivendo a vida de outro. Não sejam aprisionados pelo dogma – que é viver com os resultados do pensamento de outras pessoas. Não deixe o barulho da opinião dos outros abafar sua voz interior. E mais importante, tenha a coragem de seguir seu coração e sua intuição. Eles de alguma forma já sabem o que você realmente quer se tornar. Tudo o mais é secundário...”
- “Você tem que encontrar o que você gosta. E isso é verdade tanto para o seu trabalho quanto para seus companheiros. Seu trabalho vai ocupar uma grande parte da sua vida, e a única maneira de estar verdadeiramente satisfeito é fazendo aquilo que você acredita ser um ótimo trabalho. E a única maneira de fazer um ótimo trabalho é fazendo o que você ama fazer. Se você ainda não encontrou, continue procurando. Não se contente. Assim como com as coisas do coração, você saberá quando encontrar. E, como qualquer ótimo relacionamento, fica melhor e melhor com o passar dos anos. Então continue procurando e você vai encontrar. Não se contente...”
Não se contente; nunca! Como era JOBS em seu exuberante reinado no ambiente digital.

( do francisco madia -  em 25/08/2011-  "adeus jobs, o teimoso por crença e sabedoria", espécie de versão do só morre feliz quem vive tentando, apesar da controvérsias em relação aos princípios do jobs)

segunda-feira, maio 05, 2014

os bons moços são sempre os piores que os maus da fita


A carreira de Neymar é admirável. Em sua curta história no esporte profissional, o craque do Barcelona evitou até aqui todos os erros crassos de outros jogadores brasileiros que, como ele, despontaram entre os melhores do mundo. Neymar é dedicado aos treinos, sempre está em forma, fez carreira em um único clube brasileiro e evitou propostas de times pequenos europeus. Assim, tem um físico invejável, respeito do torcedor brasileiro pelo que fez no Santos e está posicionado para ter, no Barcelona, seu potencial amplificado de forma magnífica.
São sinais de que Neymar entende o mundo em que vive e está pronto para fazer sucesso nele. Todo esse preparo torna razoável supor que o atacante terá pela frente uma carreira longa e frutífera, na qual não parecem grandes as chances de descasos eventuais, como ocorreu com Romário; de contusões sequenciais, como Ronaldo; de falta de habilidade para lidar com a fama, como Rivaldo; ou de falta de estrutura, como Adriano.
A ânsia do jogador e de seu estafe em prepará-lo para o estrelato, porém, tem ficado esquisita. O mais recente episódio envolvendo Neymar, e certamente não o último, é a hashtag #somostodosmacacos. Talvez não haja causa mais nobre do que o combate ao racismo, e é excelente que Neymar se engaje nela. Ocorre que não foi Neymar o criador da campanha, mas a agência de publicidade Loducca,responsável pela imagem do jogador desde 2012.
A ação de marketing, bolada a pedido de Neymar segundo um sócio da empresa, estava aguardando um novo ato de racismo para ser lançada. Ao site da Veja, Guga Ketzer negou que Daniel Alves fosse parte da campanha, mas é razoável supor que conhecia o projeto de seu companheiro de equipe.
A campanha em si tem problemas. Foi considerada despolitizada e alienante por integrantes do movimento negro, como Negro Belchior, e virou plataforma para Luciano Huck faturar com mais uma tragédia. Tudo isso, entretanto, não tira o mérito de Neymar ter tentado se engajar na luta contra o racismo, uma postura que a sociedade espera de seus ídolos.
O problema é a forma como tudo se deu. Já sabíamos que quando Neymar coloca a mão na cintura é para fazer propaganda da Lupo, e que quando conversa com a presidente da República pelo Twitter é um diálogo armado. Agora, soubemos até que suas boas ações são maquinadas pelas empresas que cuidam de sua marca e imagem, e que desejam transformá-lo no novo David Beckham.
É um momento delicado para Neymar. Afinal, é fácil idolatrar o atacante de carne e osso, que cria um instituto para crianças carentes na região de sua cidade. Mas quem quer idolatrar um atacante de plástico, que funciona como uma empresa ou como um político em campanha e, agora, flerta com o bom-mocismo fabricado?
Aos poucos, as criações da Loducca, da MediaCom e da Doyen Sports estão desenvolvendo uma máscara (lucrativa) para Neymar. O perigo é a máscara se tornar seu rosto, e sua credibilidade, não como jogador, mas como ídolo, ficar em dúvida. Como escreveu o Bruno Bonsanti na Trivela, por um momento foi legal imaginar que Neymar estava agindo só por companheirismo. Daqui para frente, ficará cada vez mais complicado fazer isso.
( neymar precisa do bom-mocismo fabricado das agências? do josé antonio lima, para o esporte fino)
enquanto isto a loducca soltou a seguinte nota "fora" como aliás o são todas as notas(governamentais, empresariais, etc) que são dadas depois que a merda corre solta. e como se não bastasse, de uma ignorância crônica sobre a teoria da evolução*, tomando a sua distorção como base científica para fundamentar a hastag(nos posts anteriores a versão correta) minha nossa! já tivemos dias melhores na publicidade.
"ESCLARECIMENTOS sobre o #somostodosmacacos
Como toda manifestação, o #somostodosmacacos - mesmo atingindo dimensão mundial e provocando uma discussão honesta sobre um tema, infelizmente, mais atual do que gostaríamos - gerou algumas dúvidas sobre ele mesmo, sobre a forma e também sobre a participação de uma empresa de comunicação nele: nós.
Por isso, estamos nos manifestando oficialmente sobre os principais temas levantados, alguns bastante pertinentes, outros, nem tanto, ao nosso ver.
Felizmente a maioria compreendeu a importância e soube ver a maneira irônica e icônica (banana) que foi usada e, por isso mesmo, fez sucesso tão rápida e espontaneamente.
COMO NASCEU O #somostodosmacacos. FATOS.
Segundo o Daniel Alves em entrevista para a revista Placar , após o incidente no jogo de 29/3, contra o Espanyol, onde alguns 'torcedores' jogaram bananas no campo para os jogadores brasileiros do Barcelona, tanto o Neymar Jr. quanto o Daniel Alves, não viram na hora, só tendo conhecimento do que aconteceu mais tarde, pela imprensa. Quando souberam, segundo Daniel Alves, Neymar teria comentado em tom de brincadeira que, “se tivesse visto a banana, teria comido”.
Na volta para Barcelona, depois da derrota para o Granada, torcedores imitaram macacos quando Neymar Jr. estava chegando ao Camp Nou. Nesse momento, Neymar, sabendo da responsabilidade mundial que tem, quis se manifestar contra o racismo e nos pediu, junto com o Sr. Neymar e Eduardo Musa, que pensássemos em algo que pudesse ser feito nas redes sociais.
Por que nós? Há anos a Loducca orienta parte das ações de comunicação do Neymar Jr., do Instituto Neymar Jr. etc. O natural seria conversar conosco. Nos pareceu (e ainda nos parece) que fazer algo bem-humorado, irônico e que ridicularizasse as atitudes racistas teria maior capacidade de levantar a discussão, seria mais eficiente em tocar o coração das pessoas, do que algo que reclamasse, chorasse ou ficasse tentando reforçar um papel de vítima (caminhos que já foram seguidos em momentos diferentes, têm seus méritos, mas que não tiveram a mesma repercussão). Ainda mais para uma pessoa com a personalidade alegre, brilhante e divertida como a do Neymar Jr. Tinha que ser algo como ele.
O que fizemos? Criamos a hashtag “somos todos macacos” e a ideia de “mandar uma banana” para todos os racistas através de uma foto do Neymar comendo uma banana. E também um vídeo onde explicavamos a manifestação do Neymar Jr.
Então aconteceu de jogarem a banana para o Daniel Alves no jogo do Barcelona contra o Villareal, dia 27/4 , que imediatamente “ traçou a banana”.
Poucos devem duvidar que era o momento correto para iniciarmos o movimento que o Neymar Jr. queria, independentemente de ter acontecido com ele ou com o Daniel Alves.
Imediatamente, Neymar Jr., que estava com seu filho naquele momento, bateu a foto (a que ficou conhecida mundialmente) e postou no twitter. Logo após o vídeo.
Qual seria o erro do Neymar Jr. fazer uma manifestação pública pensada e de maneira profissional? Ainda não conseguimos descobrir.
Saber colocar um pensamento, uma ideia, no momento mais adequado e propício para que ela tenha um impacto maior e melhor é oportunismo? Desde quando?
"#somostodosmacacos É RACISTA"
Colocado como foi, ironicamente, na situação (logo após a maravilhosa atitude do Daniel Alves), a hashtag, mais a imagem de Neymar com seu filho, não chama os negros de macacos, mas LEMBRA OU ALERTA AOS BRANCOS que somos todos iguais, vindos “do mesmo macaco”.
*Este é um fato científico provado e comprovado (salvo alguns fanáticos que ainda questionam Darwin), não uma opinião.
Achamos que isso fica bastante claro no post do Neymar Jr. com o seu filho e no vídeo que fizemos para esclarecer as motivações e intenções do movimento.
Achamos 100% válido quem questiona se a hashtag do movimento é a melhor ou não para alertar as pessoas contra o racismo (alguns acham que deveria ser #somostodoshumanos).
Respeitamos e estamos abertos a discutir, ouvir e aprender.
Mas nos parece desinformação, má-fé ou algo pior quando alguns querem tentar dizer que estamos chamando exclusivamente os negros de macacos: somos todos macacos!
"SE TEM AGÊNCIA DE PROPAGANDA, NÃO DEVE SER COISA BOA, NÃO VALE"
O que é isso além de puro preconceito?
O que é isso além de “atirar” bananas nos profissionais de comunicação, que em sua esmagadora maioria são sérios, engajados pessoal ou profissionalmente em causas importantes? (para ganhar prêmios, na maioria das vezes, anota misterwalk)
Engenheiros, médicos, jornalistas, TODOS podem querer usar seu expertise por um mundo melhor, menos os publicitários?! Faz sentido isso?
"A AGÊNCIA SE APROVEITOU PARA APARECER OU, AO CONTRÁRIO, ESTAVA ESCONDENDO QUE TINHA PARTICIPAÇÃO"
A agência não tinha nenhuma intenção de assumir a paternidade da ação, já que a causa era e é infinitamente maior do que isso.
Não havia do que se aproveitar, nem a esconder.
SOBRE AS CAMISETAS
Temos total desconhecimento sobre como e por que as camisetas foram criadas e postas à venda no site da loja da “Use Huck”, parceria da grife Reserva com Luciano Huck.
Não partiu da agência e não temos como esclarecer este assunto.
Mas ele se posicionou claramente no Facebook.


e para atestar a imbecilidade do neymar( e da sua agência?) segue a entrevista abaixo:



"O que o Neymar fez foi uma tremenda imbecilidade"*
Para professor da Unesp, #SomosTodosMacacos é um equívoco. “A campanha é repleta de desconhecimento histórico e cultural desse processo de luta contra o racismo, e a desconstrução do racismo só é possível com o conhecimento do processo, que o Neymar não tem”
Desde o último domingo (27), a campanha #SomosTodosMacacos, lançada pelo atacante brasileiro Neymar, tem sido alvo dos movimentos e ativistas negros, que rechaçam o mote da ação, que se descobriu ter sidocriada por uma agência de publicidade.
O professor da faculdade de Ciência e Letras da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Araraquara, Dagoberto José Fonseca, também atacou a campanha, em entrevista à Fórum. “O Neymar pega a banana e induz, através de uma operação de marketing, milhares de pessoas ao erro, encobrindo inclusive a ação do Daniel Alves. A partir daí, cabe a qualquer um, em qualquer lugar, informar que todos nós somos macacos, ele retirou tudo do contexto”, afirmou o docente, que também é coordenador do Centro de Cultura, Línguas e da Diáspora Negra da Unesp.
Fonseca exalta a ação de Daniel Alves que, para o professor, teve uma resposta “sagaz, rápida e original”. “Quando o Daniel come a banana, ele come a banana e nem olha pra trás, ele deu as costas para o racista, foi uma resposta efetiva.”
A campanha #SomosTodosMacacos foi rapidamente encampada por celebridades como Luciano Huck, Xuxa e Ana Maria Braga. A adesão dos artistas poderia ser melhor aproveitada, segundo Fonseca, mas com uma condição. “Isso só é possível com o conhecimento cultural, social, político de todo esse processo histórico de luta contra o racismo.”
Em 2012, o atacante brasileiro já havia sido contestado pelos movimentos negros quando gravou um videoclipe com o cantor Alexandre Pires, em que se vestia de macaco. “Ele, o Neymar, se coloca de novo em uma situação onde ele não se vê, porque o Neymar não se vê como negro. De quem ele está falando então?”, pergunta Fonseca.
Confira a entrevista: 
Fórum – Professor, o senhor entende que a campanha divulgada pelo Neymar reforça o racismo ou ajuda a combater o problema?
Dagoberto José Fonseca - Não ajuda em nada. O que o Neymar fez foi uma tremenda imbecilidade. O Neymar retirou completamente do contexto o que foi feito pelo Daniel Alves, que deu uma resposta sagaz, rápida e original. Quando o Daniel come a banana, ele come a banana e nem olha pra trás, ele deu as costas para o racista, foi uma resposta efetiva. Aí o Neymar pega a banana e induz, através de uma operação de marketing, milhares de pessoas ao erro, encobrindo, inclusive, a ação do Daniel Alves. A partir daí, cabe a qualquer um, em qualquer lugar, informar que todos nós somos macacos, ele retirou tudo do contexto.
Então, esse jogo brincalhão e jocoso feito pelo Neymar é de uma tremenda imbecilidade e apenas reforça o racismo. A campanha é repleta de desconhecimento histórico e cultural desse processo de luta contra o racismo, e a desconstrução do racismo só é possível com o conhecimento do processo, que o Neymar não tem. (nem a agência, observa misterwalk)
Fórum – Há quem diga que a exposição por meio de celebridades, mesmo que não ligadas à luta por racismo, pode trazer o tema à tona. O senhor acredita que a discussão, mesmo expandida, está sendo conduzida da forma correta?
Dagoberto José Fonseca - A propriedade do debate sobre a questão racial não é dos negros e nem do movimento negro, não há exclusividade em se colocar diante do tema. Mas temos que saber como lidar com o assunto, que esta aí há séculos. Enfrentar de forma inocente não é o certo. Você ter a celebridade da Globo se colocando a favor ou contra não dá conta de a gente estabelecer uma minimização ou solução desse processo de racismo. Mas, se tivermos a capacidade de fazer uma condução boa disso, consultando as pessoas de fato envolvidas com a causa, podemos ter um avanço nessa luta. Mas isso só é possível com o conhecimento cultural, social, político de todo esse processo histórico de luta contra o racismo.
Estamos com um problema maior, que não se resolve aparecendo na mídia com uma banana. O racismo não nasce do futebol e vai para a sociedade, é o contrário. Resolver, ou tentar resolver o racismo no futebol, não acaba com ele na sociedade. Há negros morrendo nas periferias, não podemos enfrentar um problema sério com brincadeira. O Neymar tem uma mídia muito poderosa, mas é um cara absolutamente inconsequente, e não é a primeira vez, haja vista que com o Alexandre Pires ele se travestiu de macaco para um videoclipe. Ele, o Neymar, se coloca de novo em uma situação onde ele não se vê, porque o Neymar não se vê como negro. De quem ele está falando então?
Fórum – O senhor acredita que a palavra “macaco” pode deixar de ser ofensiva através de uma campanha dessa?
Dagoberto José Fonseca - Não, porque o “macaco” nunca deixará de ser ofensivo. Não podemos esquecer que você animaliza um sujeito. Na hora que você animaliza um sujeito, tira dele a condição de ser humano. Em hipótese alguma ele deixará de ser ofensivo. A construção do ideal do “macaco” tem a ver com a ideologia de domínio, que não vem de hoje, retira-se um sujeito social da sua condição de sua cidadania plena toda vez que o chama de “macaco”. Não há como fazer brincadeira com isso, é um tema muito sério, posar com uma banana não vai resolver.
*( do igor carvalho, para a revista forum)

sábado, maio 03, 2014

um tiro no pé contra o racismo ou o que se pode chamar também de "fogo amigo"

a ilustração acima, acompanha um libelo contra o racismo, escrito por um negro, e muito bem fundamentando por um artigo acadêmico-científico(nem tudo que é científico é acadêmico e vice-versa)que publico abaixo. 

na ilustração o demonstrativo da estupidez pretendida calça-se e tropeça nela mesma ao deslocar o eixo do racismo do macaco para o burro(se fosse cair na mesma armadilha diria que o racismo é estúpido mas não é burro, compreendem?) o que mostra como a "fundamentação" ideológica simbólica do racismo vitima até mesmo quem é "vítima esclarecida" dele.

chamar de burro, anta, retardado, a quem nos apresenta um comportamento social racista - o racismo é multi-facetado e "multi-colorido", e sua teia deixa passar apenas o que ele quer ou não, a depender do momento histórico de compressão ou relaxamento(mas ele nunca desaparece, apenas metamorfoseia-se de ocasião) - é, de novo, cair na mesma armadilha do "somos todos macacos".

o burro é um animal dos mais inteligentes e tenazes que a natureza produziu. sua teimosia é por demais revolucionária pois empanca ou morre e não se dobra aos dominadores. graças a um par de costelas a menos, tem a capacidade - que os cavalos não tem ( não vamos fazer associações de superioridade ou inferioridade com os cavalos, sejam brancos ou de outras cores, pois é cair no mesmo reducionismo também racista - insobrepujável de carga que o fez um desbravador de lugares inóspitos e insubstituível até o momento em que as motos passaram a asfixiá-los, por exemplo, no interior nordestino que lhes tem uma dívida que jamais será paga.

por outro lado esta sua capacidade também não deve ser relacionada a mesma resistência e tenacidade do negro utilizado como "burro de carga". - certas expressões também são o meneio do racismo incrustado no vocabulário que vão selando a perpetuação de modelos de representação que a semiótica e semântica poderia mas não ajudam a desconstruir uma vez que tal conhecimento não chega as camadas mais vitimadas pelo racismo e que , não por ironia ou acaso - ideologicamente nada é por acaso - as utilizam perpetuando o esquema reprodutor dominante(racista) contra si próprias. basta vez o "comum" de todos nos xingamentos, no comportamento de negros vestidos de fardas a "açoitar" os não fardados e por ai vai.

negros, macacos e burros -a simples construção da frase nesta ordem já detona o gatilho  racista instalado em nós - são seres distintos(para além da sua distinção biológica) como são distintos todos os seres que habitam a natureza das coisas, não importa sua cor, aspecto ou habilidades e ou limitações.

é o pensamento humano - miserável ou não - que os encadeia, amontoa, segrega ou escalona, transformando a existência de outros em prisioneiros de castas simbólicas(tão ou mais cruéis que as reais) que são a antítese dos que defendem o melhor da humanidade como prova de sua inteligência e aptidão.

e neste momento - só não constata quem não quer - somos nós, humanos,a espécie mais equivocada, destrambelhada, cruel, e inapta para vida em sociedade que jamais existiu sobre a terra pois não temos sequer respeito e compreensão para com os nossos pares e muito menos para os diferentes.

sob este aspecto o slogan/bordão/tema todos diferentes, todos iguais, utilizado há anos passados em portugal - o pais que aprendemos a gostar de chamar de burros(preciso dizer mais alguma coisa?) é muito mais inteligente, abrangente e contundente, do que a nossa capacidade de produzir piadas, como as da ilustração acima, cujo gosto sabe a fel, sangue e pus.

por estas e outras, seja quem produziu,seja quem riu, da ilustração acima, que é tão má quanto qualquer piada racista, "apenas" ajudou o racismo a levar mais uma. seria o caso de dizer: só dói quando rio?

(segue abaixo o artigo acompanhado da ilustração que serve de introdução ao do prof. james bradley)


xingar de macaco uma pequena história de uma ideia racista (do douglas belchior)


“Para entender o poder e o escopo do xingamento de macaco, precisamos de uma dose de história”. É o que pensaJames Bradley, professor de história da Medicina/Ciência da Vida na Universidade de Melbourne, autor do texto abaixo, traduzido pelo professor da Uneafro-Brasil e doutorando em literatura da USP, Tomaz Amorim Izabel.
Nas últimas 24 horas muito foi dito e escrito sobre Daniel, Neymar, bananas, macacos e racismo. Não sou um acadêmico e tampouco jornalista. Não passo de um mero professor de rede pública estadual de São Paulo e mais um militante do movimento negro. O que formulei sobre o assunto nada mais é que fruto do acúmulo das lutas concretas. Do ensinamento que recebi das lutadoras mais velhas e o que aprendi com meus iguais. E as afirmações são simples:
O racismo é algo sério, não podemos brincar com ele;
Daniel promoveu uma reação interessante, deu visibilidade ao debate sobre racismo, mas a forma e o conteúdo de seu “protesto” não nos serve. Tampouco a reação de Neymar, que agora sabemos, não partiu dele;
A maioria dos atletas, principalmente no futebol, são alienados e não tem opinião qualificada sobre temas relevantes para a sociedade. E isso não é preconceito ou generalização, mas sim uma constatação mais uma vez comprovada. Só falam bobagens e no máximo se prestam a assistencialismos em seus territórios de origem, vide Pelé, Zico, Ronaldo, Cafú entre outros;
Comparar negros a macacos é racismo e não podemos admitir; Fortalecer a ideia de que devemos absorver ofensas racistas é um desrespeito à população negra, além de um golpe ideológico: “Sofram calados, não façam escândalo, levem na esportiva”; 
Não somos todos macacos! Somos negr@s e merecemos respeito;
A campanha de Luciano Huck e Neymar é racista. Suas camisetas e seu vídeo são racistas. E ganhar dinheiro com uma campanha racista é canalhice, simples assim.
Ou, daqui pra frente, será tranquilo para você levar bananadas por aí e fingir que não se sentiu ofendido?
A ordem é rir da situação para desmobilizar o agressor, tal qual nos orienta papai e mamãe: “Filh@, quando te chamarem de macaca, leva na brincadeira que é melhor! Se você se irritar, aí é que o o apelido pega!”. Pois o que precisamos é desobedecer essa orientação e denunciar a agressão.
Para qualificar o debate, segue abaixo o texto do professor Bradley.
Seguimos!
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Por James Bradley – do  The Conversation
Professor de História da Medicina/Ciência da Vida na Universidade de Melbourne

A maioria de nós sabe que chamar alguém de macaco é racismo, mas poucos de nós sabem por que macacos são associados na imaginação europeia com indígenas e, principalmente, afrodescendentes.
Para entender o poder e o escopo do xingamento de macaco, precisamos de uma dose de história. Quando eu era aluno de graduação na universidade, eu aprendi sobre racismo e colonialismo, particularmente sobre a influência de Charles Darwin (1809-1882), dos quais as ideias pareciam fazer o racismo ainda pior.
Na verdade, isto é fácil de inferir. A teoria da seleção natural de Darwin (1859) mostrou que os ancestrais mais próximos dos seres humanos foram os grandes macacos. E a ideia de que os homo sapiens descendiam de macacos se tornou rapidamente parte do teatro da evolução. O próprio Darwin foi muitas vezes representado como meio-homem, meio-macaco.
Além disso, enquanto a maior parte dos evolucionistas acreditava que todas as raças humanas descendiam do mesmo grupo, eles também notaram que a migração e a seleção natural e sexual tinham criado variedades humanas que – aos seus olhos – pareciam superiores a africanos ou aborígenes.
Ambos estes grupos tardios foram frequentemente representados como sendo os mais próximos evolutivamente dos humanos originais e, portanto, dos macacos.
O papel do pensamento evolucionista
No começo do século XX, o aumento da popularidade da genética mendeliana (nomeada em referência a Gregor Johann Mendel, 1822-1884) não fez nada para destituir esta maneira de pensar. Se é que ainda não piorou as coisas.
Ela sugeria que as raças haviam se tornado raças separadas e que os africanos, em particular, estavam muito mais próximos em termos evolutivos dos grandes macacos do que estavam, digamos, os europeus.
E ainda assim, durante este mesmo período, sempre houve uma corrente da ciência evolutiva que rejeitou este modelo. Ela enfatizava as profundas semelhanças entre diferentes raças e que as diferenças de comportamento eram produto da cultura e não da biologia.
Os horrores do Nazismo deveram muito ao namoro da ciência com o racismo biológico. O genocídio de Adolf Hitler, apoiado de bom grado por cientistas e médicos alemães, mostrou onde o mau uso da ciência pode levar.
Isto deixou o racismo científico nas mãos de grupos de extrema direita que só estavam interessados em ignorar as descobertas da biologia evolutiva do pós-guerra em benefício de suas variantes pré-guerra.
Claramente o pensamento evolucionista teve algo a ver com a longevidade do xingamento de macaco. Mas a associação europeia entre macacos e africanos tem um pedigree cultural e científico muito mais extenso.

Pego no meio
No século 18, uma nova maneira de pensar sobre as espécies emergiu. Anteriormente, a vasta maioria dos europeus acreditava que Deus havia criado as espécies (incluindo o homem), e que estas espécies eram imutáveis.
Muitos acreditavam na unidade das espécies humanas, mas alguns acreditavam que Deus havia criado espécies humanas separadas. Neste esquema, os europeus brancos eram descritos como próximos aos anjos, enquanto africanos negros e aborígenes estavam mais próximos aos macacos.
Muitos cientistas do século XVIII tentaram atacar o modelo criacionista. Mas, ao fazê-lo, acabaram dando mais poder para o xingamento de macaco.
No meio do século XVIII, o grande naturalista francês, matemático e cosmólogo Comte de Buffon (Georges-Luis Leclerc, 1707-1788) deu continuidade à ideia de que todas as espécies de animais descendiam de um pequeno número de tipos gerados espontaneamente.
Espécies felinas, por exemplo, supostamente descendiam de um único ancestral gato. Ao migrarem do seu ponto de geração espontânea, os gatos degeneraram em diferentes espécies sob influência do clima.
Em 1770, o cientista holandês Petrus Camper (1722-1789) pegou o modelo de Buffon e aplicou-o ao homem. Para Camper, o homem original era o grego antigo. À medida que este homem original se moveu do seu ponto de criação ao redor do mundo, ele também degenerou sob influência do clima.
Na visão de Camper, macacos, símios e orangotangos, eram todos versões degeneradas do homem original. Então, em 1809, o ancestral intelectual de Darwin, Lamarck (Jean-Baptiste Pierre Antoine de Monet, Chevalier de Lamarck, 1744-1829) propôs um modelo de evolução que via todos os organismos como descendentes de um único ponto de criação espontânea.
Larvas evoluíram em peixes, peixes em mamíferos e mamíferos em homens. Isto aconteceu não através da seleção darwinista, mas através de uma força vital interna que levava organismos simples a se tornarem mais complexos, trabalhando em combinação com a influência do meio ambiente.
Deste ponto de vista, humanos não compartilhavam um ancestral comum com macacos; eles eram descendentes diretos deles. E africanos então se tornaram a ligação entre macacos e europeus. A imagem popular comumente associada com a evolução darwinista da transformação de estágios do macaco ao homem deveria ser propriamente chamada de lamarckiana.

O poder do racismo
Cada uma dessas maneiras de pensar o relacionamento entre humanos e macacos reforçou a conexão feita por europeus entre africanos e macacos. E fazendo parecer que pessoas de origem não-europeia eram mais como macacos do que como humanos, estas diferentes teorias foram usadas para justificar a escravidão nas fazendas das Américas e o colonialismo no resto do mundo.
Todas estas diferentes teorias científicas e religiosas trabalharam na mesma direção: para reforçar o direito europeu de controlar grandes porções do mundo.
O xingamento de macaco, na verdade, tem a ver com a maneira com a qual os europeus, eles mesmos, se diferenciaram, biológica e culturalmente, em um esforço de manter superioridade sobre outros povos.
A coisa importante a se lembrar é que aqueles “outros” povos estão muito mais cientes daquela história do que os europeus brancos. Invocar a imagem de um macaco é utilizar o poder que levou à desapropriação indígena e a outros legados do colonialismo.
Claramente, o sistema educacional não faz o bastante para nos educar sobre ciência ou história da humanidade. Por que se fizesse, nós veríamos o desaparecimento do xingamento de macaco.


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