segunda-feira, maio 05, 2014

os bons moços são sempre os piores que os maus da fita


A carreira de Neymar é admirável. Em sua curta história no esporte profissional, o craque do Barcelona evitou até aqui todos os erros crassos de outros jogadores brasileiros que, como ele, despontaram entre os melhores do mundo. Neymar é dedicado aos treinos, sempre está em forma, fez carreira em um único clube brasileiro e evitou propostas de times pequenos europeus. Assim, tem um físico invejável, respeito do torcedor brasileiro pelo que fez no Santos e está posicionado para ter, no Barcelona, seu potencial amplificado de forma magnífica.
São sinais de que Neymar entende o mundo em que vive e está pronto para fazer sucesso nele. Todo esse preparo torna razoável supor que o atacante terá pela frente uma carreira longa e frutífera, na qual não parecem grandes as chances de descasos eventuais, como ocorreu com Romário; de contusões sequenciais, como Ronaldo; de falta de habilidade para lidar com a fama, como Rivaldo; ou de falta de estrutura, como Adriano.
A ânsia do jogador e de seu estafe em prepará-lo para o estrelato, porém, tem ficado esquisita. O mais recente episódio envolvendo Neymar, e certamente não o último, é a hashtag #somostodosmacacos. Talvez não haja causa mais nobre do que o combate ao racismo, e é excelente que Neymar se engaje nela. Ocorre que não foi Neymar o criador da campanha, mas a agência de publicidade Loducca,responsável pela imagem do jogador desde 2012.
A ação de marketing, bolada a pedido de Neymar segundo um sócio da empresa, estava aguardando um novo ato de racismo para ser lançada. Ao site da Veja, Guga Ketzer negou que Daniel Alves fosse parte da campanha, mas é razoável supor que conhecia o projeto de seu companheiro de equipe.
A campanha em si tem problemas. Foi considerada despolitizada e alienante por integrantes do movimento negro, como Negro Belchior, e virou plataforma para Luciano Huck faturar com mais uma tragédia. Tudo isso, entretanto, não tira o mérito de Neymar ter tentado se engajar na luta contra o racismo, uma postura que a sociedade espera de seus ídolos.
O problema é a forma como tudo se deu. Já sabíamos que quando Neymar coloca a mão na cintura é para fazer propaganda da Lupo, e que quando conversa com a presidente da República pelo Twitter é um diálogo armado. Agora, soubemos até que suas boas ações são maquinadas pelas empresas que cuidam de sua marca e imagem, e que desejam transformá-lo no novo David Beckham.
É um momento delicado para Neymar. Afinal, é fácil idolatrar o atacante de carne e osso, que cria um instituto para crianças carentes na região de sua cidade. Mas quem quer idolatrar um atacante de plástico, que funciona como uma empresa ou como um político em campanha e, agora, flerta com o bom-mocismo fabricado?
Aos poucos, as criações da Loducca, da MediaCom e da Doyen Sports estão desenvolvendo uma máscara (lucrativa) para Neymar. O perigo é a máscara se tornar seu rosto, e sua credibilidade, não como jogador, mas como ídolo, ficar em dúvida. Como escreveu o Bruno Bonsanti na Trivela, por um momento foi legal imaginar que Neymar estava agindo só por companheirismo. Daqui para frente, ficará cada vez mais complicado fazer isso.
( neymar precisa do bom-mocismo fabricado das agências? do josé antonio lima, para o esporte fino)
enquanto isto a loducca soltou a seguinte nota "fora" como aliás o são todas as notas(governamentais, empresariais, etc) que são dadas depois que a merda corre solta. e como se não bastasse, de uma ignorância crônica sobre a teoria da evolução*, tomando a sua distorção como base científica para fundamentar a hastag(nos posts anteriores a versão correta) minha nossa! já tivemos dias melhores na publicidade.
"ESCLARECIMENTOS sobre o #somostodosmacacos
Como toda manifestação, o #somostodosmacacos - mesmo atingindo dimensão mundial e provocando uma discussão honesta sobre um tema, infelizmente, mais atual do que gostaríamos - gerou algumas dúvidas sobre ele mesmo, sobre a forma e também sobre a participação de uma empresa de comunicação nele: nós.
Por isso, estamos nos manifestando oficialmente sobre os principais temas levantados, alguns bastante pertinentes, outros, nem tanto, ao nosso ver.
Felizmente a maioria compreendeu a importância e soube ver a maneira irônica e icônica (banana) que foi usada e, por isso mesmo, fez sucesso tão rápida e espontaneamente.
COMO NASCEU O #somostodosmacacos. FATOS.
Segundo o Daniel Alves em entrevista para a revista Placar , após o incidente no jogo de 29/3, contra o Espanyol, onde alguns 'torcedores' jogaram bananas no campo para os jogadores brasileiros do Barcelona, tanto o Neymar Jr. quanto o Daniel Alves, não viram na hora, só tendo conhecimento do que aconteceu mais tarde, pela imprensa. Quando souberam, segundo Daniel Alves, Neymar teria comentado em tom de brincadeira que, “se tivesse visto a banana, teria comido”.
Na volta para Barcelona, depois da derrota para o Granada, torcedores imitaram macacos quando Neymar Jr. estava chegando ao Camp Nou. Nesse momento, Neymar, sabendo da responsabilidade mundial que tem, quis se manifestar contra o racismo e nos pediu, junto com o Sr. Neymar e Eduardo Musa, que pensássemos em algo que pudesse ser feito nas redes sociais.
Por que nós? Há anos a Loducca orienta parte das ações de comunicação do Neymar Jr., do Instituto Neymar Jr. etc. O natural seria conversar conosco. Nos pareceu (e ainda nos parece) que fazer algo bem-humorado, irônico e que ridicularizasse as atitudes racistas teria maior capacidade de levantar a discussão, seria mais eficiente em tocar o coração das pessoas, do que algo que reclamasse, chorasse ou ficasse tentando reforçar um papel de vítima (caminhos que já foram seguidos em momentos diferentes, têm seus méritos, mas que não tiveram a mesma repercussão). Ainda mais para uma pessoa com a personalidade alegre, brilhante e divertida como a do Neymar Jr. Tinha que ser algo como ele.
O que fizemos? Criamos a hashtag “somos todos macacos” e a ideia de “mandar uma banana” para todos os racistas através de uma foto do Neymar comendo uma banana. E também um vídeo onde explicavamos a manifestação do Neymar Jr.
Então aconteceu de jogarem a banana para o Daniel Alves no jogo do Barcelona contra o Villareal, dia 27/4 , que imediatamente “ traçou a banana”.
Poucos devem duvidar que era o momento correto para iniciarmos o movimento que o Neymar Jr. queria, independentemente de ter acontecido com ele ou com o Daniel Alves.
Imediatamente, Neymar Jr., que estava com seu filho naquele momento, bateu a foto (a que ficou conhecida mundialmente) e postou no twitter. Logo após o vídeo.
Qual seria o erro do Neymar Jr. fazer uma manifestação pública pensada e de maneira profissional? Ainda não conseguimos descobrir.
Saber colocar um pensamento, uma ideia, no momento mais adequado e propício para que ela tenha um impacto maior e melhor é oportunismo? Desde quando?
"#somostodosmacacos É RACISTA"
Colocado como foi, ironicamente, na situação (logo após a maravilhosa atitude do Daniel Alves), a hashtag, mais a imagem de Neymar com seu filho, não chama os negros de macacos, mas LEMBRA OU ALERTA AOS BRANCOS que somos todos iguais, vindos “do mesmo macaco”.
*Este é um fato científico provado e comprovado (salvo alguns fanáticos que ainda questionam Darwin), não uma opinião.
Achamos que isso fica bastante claro no post do Neymar Jr. com o seu filho e no vídeo que fizemos para esclarecer as motivações e intenções do movimento.
Achamos 100% válido quem questiona se a hashtag do movimento é a melhor ou não para alertar as pessoas contra o racismo (alguns acham que deveria ser #somostodoshumanos).
Respeitamos e estamos abertos a discutir, ouvir e aprender.
Mas nos parece desinformação, má-fé ou algo pior quando alguns querem tentar dizer que estamos chamando exclusivamente os negros de macacos: somos todos macacos!
"SE TEM AGÊNCIA DE PROPAGANDA, NÃO DEVE SER COISA BOA, NÃO VALE"
O que é isso além de puro preconceito?
O que é isso além de “atirar” bananas nos profissionais de comunicação, que em sua esmagadora maioria são sérios, engajados pessoal ou profissionalmente em causas importantes? (para ganhar prêmios, na maioria das vezes, anota misterwalk)
Engenheiros, médicos, jornalistas, TODOS podem querer usar seu expertise por um mundo melhor, menos os publicitários?! Faz sentido isso?
"A AGÊNCIA SE APROVEITOU PARA APARECER OU, AO CONTRÁRIO, ESTAVA ESCONDENDO QUE TINHA PARTICIPAÇÃO"
A agência não tinha nenhuma intenção de assumir a paternidade da ação, já que a causa era e é infinitamente maior do que isso.
Não havia do que se aproveitar, nem a esconder.
SOBRE AS CAMISETAS
Temos total desconhecimento sobre como e por que as camisetas foram criadas e postas à venda no site da loja da “Use Huck”, parceria da grife Reserva com Luciano Huck.
Não partiu da agência e não temos como esclarecer este assunto.
Mas ele se posicionou claramente no Facebook.


e para atestar a imbecilidade do neymar( e da sua agência?) segue a entrevista abaixo:



"O que o Neymar fez foi uma tremenda imbecilidade"*
Para professor da Unesp, #SomosTodosMacacos é um equívoco. “A campanha é repleta de desconhecimento histórico e cultural desse processo de luta contra o racismo, e a desconstrução do racismo só é possível com o conhecimento do processo, que o Neymar não tem”
Desde o último domingo (27), a campanha #SomosTodosMacacos, lançada pelo atacante brasileiro Neymar, tem sido alvo dos movimentos e ativistas negros, que rechaçam o mote da ação, que se descobriu ter sidocriada por uma agência de publicidade.
O professor da faculdade de Ciência e Letras da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Araraquara, Dagoberto José Fonseca, também atacou a campanha, em entrevista à Fórum. “O Neymar pega a banana e induz, através de uma operação de marketing, milhares de pessoas ao erro, encobrindo inclusive a ação do Daniel Alves. A partir daí, cabe a qualquer um, em qualquer lugar, informar que todos nós somos macacos, ele retirou tudo do contexto”, afirmou o docente, que também é coordenador do Centro de Cultura, Línguas e da Diáspora Negra da Unesp.
Fonseca exalta a ação de Daniel Alves que, para o professor, teve uma resposta “sagaz, rápida e original”. “Quando o Daniel come a banana, ele come a banana e nem olha pra trás, ele deu as costas para o racista, foi uma resposta efetiva.”
A campanha #SomosTodosMacacos foi rapidamente encampada por celebridades como Luciano Huck, Xuxa e Ana Maria Braga. A adesão dos artistas poderia ser melhor aproveitada, segundo Fonseca, mas com uma condição. “Isso só é possível com o conhecimento cultural, social, político de todo esse processo histórico de luta contra o racismo.”
Em 2012, o atacante brasileiro já havia sido contestado pelos movimentos negros quando gravou um videoclipe com o cantor Alexandre Pires, em que se vestia de macaco. “Ele, o Neymar, se coloca de novo em uma situação onde ele não se vê, porque o Neymar não se vê como negro. De quem ele está falando então?”, pergunta Fonseca.
Confira a entrevista: 
Fórum – Professor, o senhor entende que a campanha divulgada pelo Neymar reforça o racismo ou ajuda a combater o problema?
Dagoberto José Fonseca - Não ajuda em nada. O que o Neymar fez foi uma tremenda imbecilidade. O Neymar retirou completamente do contexto o que foi feito pelo Daniel Alves, que deu uma resposta sagaz, rápida e original. Quando o Daniel come a banana, ele come a banana e nem olha pra trás, ele deu as costas para o racista, foi uma resposta efetiva. Aí o Neymar pega a banana e induz, através de uma operação de marketing, milhares de pessoas ao erro, encobrindo, inclusive, a ação do Daniel Alves. A partir daí, cabe a qualquer um, em qualquer lugar, informar que todos nós somos macacos, ele retirou tudo do contexto.
Então, esse jogo brincalhão e jocoso feito pelo Neymar é de uma tremenda imbecilidade e apenas reforça o racismo. A campanha é repleta de desconhecimento histórico e cultural desse processo de luta contra o racismo, e a desconstrução do racismo só é possível com o conhecimento do processo, que o Neymar não tem. (nem a agência, observa misterwalk)
Fórum – Há quem diga que a exposição por meio de celebridades, mesmo que não ligadas à luta por racismo, pode trazer o tema à tona. O senhor acredita que a discussão, mesmo expandida, está sendo conduzida da forma correta?
Dagoberto José Fonseca - A propriedade do debate sobre a questão racial não é dos negros e nem do movimento negro, não há exclusividade em se colocar diante do tema. Mas temos que saber como lidar com o assunto, que esta aí há séculos. Enfrentar de forma inocente não é o certo. Você ter a celebridade da Globo se colocando a favor ou contra não dá conta de a gente estabelecer uma minimização ou solução desse processo de racismo. Mas, se tivermos a capacidade de fazer uma condução boa disso, consultando as pessoas de fato envolvidas com a causa, podemos ter um avanço nessa luta. Mas isso só é possível com o conhecimento cultural, social, político de todo esse processo histórico de luta contra o racismo.
Estamos com um problema maior, que não se resolve aparecendo na mídia com uma banana. O racismo não nasce do futebol e vai para a sociedade, é o contrário. Resolver, ou tentar resolver o racismo no futebol, não acaba com ele na sociedade. Há negros morrendo nas periferias, não podemos enfrentar um problema sério com brincadeira. O Neymar tem uma mídia muito poderosa, mas é um cara absolutamente inconsequente, e não é a primeira vez, haja vista que com o Alexandre Pires ele se travestiu de macaco para um videoclipe. Ele, o Neymar, se coloca de novo em uma situação onde ele não se vê, porque o Neymar não se vê como negro. De quem ele está falando então?
Fórum – O senhor acredita que a palavra “macaco” pode deixar de ser ofensiva através de uma campanha dessa?
Dagoberto José Fonseca - Não, porque o “macaco” nunca deixará de ser ofensivo. Não podemos esquecer que você animaliza um sujeito. Na hora que você animaliza um sujeito, tira dele a condição de ser humano. Em hipótese alguma ele deixará de ser ofensivo. A construção do ideal do “macaco” tem a ver com a ideologia de domínio, que não vem de hoje, retira-se um sujeito social da sua condição de sua cidadania plena toda vez que o chama de “macaco”. Não há como fazer brincadeira com isso, é um tema muito sério, posar com uma banana não vai resolver.
*( do igor carvalho, para a revista forum)

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