quinta-feira, novembro 28, 2013

não ganha oscar nem leão mas é um filme sobre o animalesco que recrudesce em(todos)nós

Apenas o Vento: fenômeno de bilheteria de um filme modesto e desconhecido.


  Divulgação

Por que um filme modesto, de diretor desconhecido para a maioria das plateias, cinéfilos e espectadores leigos, vindo de um país sem um marketing convincente da sua indústria cinematográfica, e apresentando um tema distante de nós – a perseguição aos ciganos no leste da Europa – se mantém em cartaz há nada menos que quatro meses, no Rio de Janeiro, embora em cinemas pequenos e horários restritos?

O húngaro Benedek Fliegauf é o autor da proeza. Dirigiu Apenas o vento e integra o grupo de cineastas do jovem cinema magiar que está rodando o mundo. Foi assistente do mitológico diretor  Miklos Jancsó, de Os vermelhos e os brancos e Os sem esperança. Pouco tem a ver, do ponto de vista formal, com o cinema de outro compatriota de peso, Istvan Szabó, diretor de filmes clássicos, exibidos no Brasil: as obras primas Coronel Redl, Mefisto e Tomando partido - O caso Furtwängler, que trata do interrogatório do genial maestro alemão Wilhelm Furtwängler por um oficial do exército de ocupação americano - Harvey Keitel faz o papel -, no imediato pós-guerra, em Berlim.

Seu cinema é quase experimental.
 
Bence, como Benedek é conhecido, tem 39 anos, vive e trabalha na Alemanha. Cancelou projetos em andamento para voltar a Budapeste onde fez este filme entre 2008 a 2009 depois de ler, na imprensa alemã, os casos de massacres de ciganos que ocorriam em zonas rurais da Hungria. Autor de um filme ambiente (como ele define), sem diálogos, chamado Via Láctea, que alcançou notoriedade na Europa, e de outro reconhecido no circuito dos melhores festivais, Dealer, agora, com Apenas o vento, ele levou o Premio Especial do Júri no Festival de Berlim e chegou a ser incluído na lista de pré-candidatos dos melhores estrangeiros do Oscar.

A história versa sobre a série de covardes ataques a famílias ciganas, pessoas desarmadas, adultos, velhos e crianças pequenas, abatidas a tiros de fuzil no meio da noite, nas casas de suas comunidades enquanto dormiam. Mais de cinquenta pessoas foram vítimas.

Baseado em documentação pública, Benedek criou essa história de uma família de ciganos vivendo em uma área afastada, na floresta. A mãe trabalha, a filha estuda, o menino - de cujo ponto de vista a trama é narrada - está envolvido em atividades escusas e o velho avô se mantém em casa. São vizinhos de uma das famílias massacradas. O pai, ausente, se encontra no Canadá, à espera de reunir dinheiro suficiente para retirar a família desta vida sórdida e paupérrima.

A narrativa de Fliegauf é naturalista, a câmera é ofegante e trêmula, e não deixa em qualquer momento de seguir e vigiar o pequeno grupo de personagens, atores amadores, alguns ciganos, durante os 86 minutos da produção que pode ser cansativa ao espectador. Ao contrário, no entanto, o ritmo ansioso pode, em alguns casos - e eles são muitos, visto o sucesso comercial do filme - garantir a atenção e segurar o interesse no suspense deste thriller sombrio - uma das marcas do cinema de jovens diretores e escritores escandinavos, do norte europeu, dos Bálcãs e da Europa oriental, estes, herdeiros da tradição artística da região na qual se misturam à depressão um travo de melancolia, de tédio, racismo e brutalidade.

Aos jornalistas que o entrevistaram no Festival de Berlim e indagaram se Fliegauf se reconhece nesta tradição específica, de Bela Tarr, dos russos, Kieslowski, Tarkowski, de Stieg Larsson (o autor da série Millenium), fazendo filmes obscuros e com certa melancolia, ele resumiu a sua linha de trabalho como resultado de pertencer a uma geração que, ao nascer, encontrou “este mundo de hoje, consumista e conformista.”

Para Fliegauf, o racismo e o empobrecimento da população húngara transformam os ciganos em bodes expiatórios da crise econômica do continente e oferecem um retrato explosivo da situação no seu país que não é bem visto pela União Europeia embora faça parte dela, mas não da zona do euro. Governado pela direita, por conservadores, ex-comunistas hoje liberais, o governo nacionalista sonha com uma nova “grande Hungria”, liderada por um inflexível Viktor Orbán.

Durante dois anos, o diretor entrevistou grupos de ciganos em diferentes regiões de seu país. A intenção era filmar exclusivamente com atores ciganos. Não foi possível e garante que há mais racismo entre eles próprios. “Os ciganos só queriam fazer o filme se fosse uma produção para a TV; queriam a celebridade fácil”.

Mas mesmo com este quadro étnico complexo em sua terra, o jovem cineasta húngaro oferece um retrato impressionista do que é uma comunidade marginalizada pelo racismo e pelo preconceito em um filme praticamente sem diálogos, com parca trilha musical e sons ambientes inquietantes.

A câmera de Benedek, com imagens insistentes beirando o abstrato, nos devolve uma Europa onde as diferenças, dentro de um cenário econômico difícil, estão sendo cada vez menos toleradas. E nos sugere refletir sobre o mundo de hoje onde os indivíduos são substituídos com desenvoltura e abatidos sem piedade ao sabor do vento.

( texto da léa maria aarão reis p/ carta capital que se você ainda não lê, devia, pelo menos para discordar mais profundamente)

quarta-feira, novembro 27, 2013

a justiça não é cega: é zarôlha

“Num país onde Paulo Maluf e Brilhante Ustra estão soltos, enquanto Dirceu e Genoíno dormem na cadeia, até um cego percebe que as coisas estão fora de lugar”.

(pinçado por luciano martins, in observatório da imprensa, com o comentário de que saiu na folha a melhor defesa do pt,curiosamente o jornal que tem abrigado o que de pior há no conservadorismo e reacionarismo atual)

terça-feira, novembro 26, 2013

o lado negro da força - ou seria o lado branco? - e vem mais disso por ai

Teste psicológico detectou em Barbosa uma personalidade insegura, agressiva, com profundas marcas de ressentimento


Charge de Aroeira


Antes de se tornar juiz, o atual presidente do STF, Joaquim Barbosa, tentou a carreira diplomática (imagine...), mas foi reprovado no exame psicológico que o definiu como "uma personalidade insegura, agressiva, com profundas marcas de ressentimento".

Meus parabéns à equipe que aplica os testes no Itamaraty, porque, no caso de Barbosa, acertou em cheio, você não acha?

(diretamente do blog do mello, que também é ou já foi publicitário(nobody is perfect?:)

segunda-feira, novembro 25, 2013

o outro lado dos fatos - ou pelo menos das versões - no tempo em que publicitários também interessavam-se por isto


O papel da máfia no assassinato de John F. Kennedy

A ninguém, nem à família, interessava revelar as ligações de Kennedy com a Máfia, os complôs para assassinar Fidel Castro e comprometer a CIA.



Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira
Arquivo
[Nota do autor: Maiores detalhes sobre esses episódios podem ser encontrados, com as respectivas fontes, nos meus livros "Formação do Império Americano" e  "De Marti a Fidel - A revolução cubana e a  América Latina", ambos da Civilização Brasileira]

“Es una mala noticia” - exclamou Fidel Castro, ao saber do assassinato do presidente John Kennedy, no dia 23 de novembro de 1963. No momento, ele estava almoçando, em Varadero, com o jornalista francês Jean Daniel, editor internacional de L’Express, que passara antes por Washington e a quem Kenndey solicitara que o sondasse sobre a possibilidade de normalizar as relações entre Cuba e Estados Unidos, caso ele adotasse uma linha de não-alinhamento, como a da Iugoslávia [1]. Ele, outrossim, havia instruído o embaixador William Attwood, adjunto de Adlai  Stevenson na ONU, no sentido de explorar a possibilidade de acomodar a situação com Fidel Castro, mediante a cessação de suas atividades subversivas na América Latina e a completa neutralização de Cuba, com a retirada dos militares da União Soviética, que lá ainda ficaram [2].

O presidente John Kennedy, aparentemente, havia desistido de invadir a ilha, dado o alto custo político  e de vidas humanas, bem como por causa do acordo com a União Soviética, para a retirada dos mísseis (outubro/novembro de de 1962) que lá estava a instalar. E daí que passou a jogar outras cartas para resolver o problema com Cuba, antes da eleição presidencial a ocorrer em 1964.

Não obstante, ao mesmo tempo em que Kennedy experimentava abrir um caminho para a negociação, em 22 de novembro de 1963, o agente Desmond FitzGerald (1910 -1967), substituto de William Harvey como chefe da Cuban Task Force W, da CIA, apresentou em Paris, como representante pessoal de Robert Kennedy, ao major Rolando Cubela Secades, antigo dirigente do Directorio Revolucionario, representante de Cuba na UNESCO e recrutado pela CIA desde 1961, a fim de tramar o golpe de Estado, em Havana, e entregou-lhe uma caneta com um dardo envenenado, para que disparasse contra Fidel Castro, operação  esta conhecida pelo criptônimo de AM/LASH. Se Fidel Castro fosse eliminado até novembro de 1964 e se instalasse em Cuba um governo aceitável para os Estados Unidos, Kennedy poderia apresentar-se ao eleitorado americano como o presidente que impediu o avanço do comunismo no hemisfério.

Conforme alguns dos seus colaboradores, talvez a CIA não houvesse informado ao presidente Kennedy sobre o projeto AM/LASH, embora ele não tivesse preconceito contra assassinatos políticos. Quando a CIA, 1961, articulava o golpe contra Leónidas Trujillo, na República Dominicana, Kennedy declarou que os Estados Unidos, “as a matter of general policy, could not condone assassination” e também autorizou o golpe de Estado contra o presidente do Vietnã do Sul, Ngo Dinh Diem, assassinado em 2 de novembro de 1963, em negociações secretas com o Vietnã do Norte. Entretanto, em 23 de novembro, no dia seguinte à entrega da caneta com dardo envenenado a Rolando Cubelas por Desmond Fitzgerald, foi Kennedy que tombou assassinado, em Dallas, por Lee Harvey Oswald. O projeto AM/LASH fracassou como dezenas de outras tentativas de matar Fidel Castro.

O assassinato do presidente John F. Kennedy constituiu um ato de terrorismo individual, cujas causas a razão de Estado (Raison d´État) obstaculizou a investigação realizada pela President's Commission on the Assassination of President Kennedy, conhecida como Warren Commission, nome do chefe da Justiça dos Estados Unidos, Earl Warren. Sua conclusão foi que Lee H. Oswald atuara, isoladamente, assim, como Jack Leon Ruby, quando o matou na estação de polícia [3].

Houve um "covert-up", acobertamento, usual nos Estados Unidos. Embora a viúva, Jacqueline Kennedy, estivesse convencida de que seu marido fora morto não pelos comunistas, como J. Edgar Hoover e outros queriam crer, mas como resultado de uma conspiração doméstica, a ninguém, nem à família, interessava revelar as ligações de Kennedy com a Máfia, os complôs para assassinar Fidel Castro, comprometer a CIA. O presidente Lyndon B. Johnson temia que um inquérito mais profundo indicasse algum envolvimento da União Soviética e de Cuba na morte de Kennedy e tornasse inevitável uma guerra nuclear [4], ou, quiçá, por algum motivo pessoal.

No entanto, após exaustiva investigação, o Select Committee on Assassinations of the U.S. House of Representatives (HSCA), estabelecido, em 1976, constatou que foram dois os atiradores que dispararam contra o presidente Kennedy, que o terceiro tiro partiu de Lee Oswald e que, com bases nas evidências disponíveis, se podia assentar "that President John F. Kennedy was probably assassinated as a result of a conspiracy" [5].

O professor G. Robert Blakey, chefe do Conselho e diretor da equipe da House Select Committee on Assassinations, e Richard N. Billings, diretor editorial da House of Commmitte e antigo diretor da revista Life, assinalaram que Lee Oswald tinha estabelecido significativas conexões com ativistas anti-Castro e o crime organizado, e afirmaram que “we concluded from our investigation that organized crime had a hand in the assassination of Presidente Kennedy” [6].

De fato, todas as evidências apontaram para a existência de um complô, com a participação da CIA e da Máfia e de cubanos asilados [7]. Segundo o gangster Sam Giancana, Lee Harvey Oswald trabalhava para a CIA, participara de uma série de sessões de intensivo treinamento em inteligência, quando servira como marine, servira como espião na União Soviética, onde se casara, em Minsk, com Marina Prusakova, e tinha ligações com a Máfia desde a juventude [8]. Quando voltara aos Estados Unidos, em 1962, proclamava-se abertamente a favor de Fidel Castro e não só distribuíra material de propaganda do Fair Play for Cuba Committee [9] como tentara obter, no México, visto para Cuba, que lhe foi várias vezes negado [10].

Ele estava preparado para representar o papel do terrorista no complô contra Kennedy [11] . Tinha características similares às de  Marinus van der Lubbe, o autor do incêndio do Reichstag, na Alemanha (1933) [12] e que fora fichado como comunista, de acordo com o plano dos dois próceres do nazismo, Joseph Goebbels e Hermann Goering, a fim de possibilitar que Adolf Hitler obtivesse poderes extraordinários e implantasse a ditadura, legalmente, sem revogar uma linha sequer da Constituição de Weimar.

A CIA, logo após o assassinato, havia elaborado um Memorandum com as informações de que Lee H. Oswald estivera no México, entre 23 de setembro 2 de outubro, e visitara o vice-cônsul Kostikov [13], conhecido agente do KGB, especialista em sabotagem, e previu que ele seria assassinado, a fim de que nada pudesse revelar às autoridades americanas, se estivesse realmente envolvido em uma conspiração estrangeira. E cumpriu-se a previsão.

Dois dias depois, 24 de novembro, Lee H. Oswald foi executado por Jack Ruby, proprietário de cassino em Dallas e, vinculado ao crime organizado de Chicago [14]. Ele prestara serviços à Máfia, contrabandeando dinheiro de Cuba, nos anos 1950, quando o sargento Fulgencio Batista era o ditador. Sua eliminação, dentro da própria estação de polícia, sob o olhar impassível dos detetives, que o agarravam para impedir qualquer reação, teve como objetivo impedir que ele revelasse a extensão do complô. Tornava-se necessário apagá-lo [15].

Sam Giancana revelou ao irmão Chuck, que escreveu suas memórias, haver escolhido Jack Ruby para executar essa tarefa, porquanto ele havia trabalhado com a CIA, na invasão da Baía dos Porcos, e sempre tivera entendimento com os policiais de Dallas [16].  Cada homem envolvido no complô para matar Kennedy recebeu US$ 50.000,00, revelou Sam Giancana, confessando que ele, pessoalmente, ganhara milhões em petróleo, “from the wealth right-wing Texas oilmen” [17].

O complô, no entanto, não se restringiu aos membros da Máfia, Jimmy Hoffa, Sam Giancana, Johnny Rosselli, articulados com Frank Fiorini Sturgis, que também trabalhara com a CIA na invasão da Baía dos Porcos e recrutara Marita Lorenz para envenenar Fidel Castro [18].  Giancana afirmou que o complô envolveu “right up to the top of the CIA” e "meia dúzia de texanos de direita fanáticos, o vice-presidente Lyndon Johnson" e Richard Nixon, que havia encorajado os preparativos para a invasão da Baía dos Porcos, sob o governo do presidente Dwight Eisenhower [19].

O general Alexander Haig, secretário de Estado no governo de Ronald Reagan, declarou que o presidente Lyndon Johnson, de quem fora assessor, acreditou até morrer que o “obsessivo desejo” de matar Fidel Castro [20], alimentado por Bob Kennedy, estava por trás do assassinato e  ressaltou que a existência do grupo secreto, que o tramava, não fora revelado à Comissão Warren nem à opinião pública, e o operação de cobertura visou a proteger a reputação do Presidente [21].

O jornalista Seymour M. Hersh escreveu que o custo de uma completa investigação seria muito alto, porquanto revelaria a verdade a respeito do presidente Kennedy e de sua família [22] , os vínculos com Sam Giancana e Johnny Rossely, que se consideravam traídos por causa do processo contra eles movido por Bob Kennedy, como procurador-geral. Robert Kennedy talvez por isso se evadiu de prestar depoimento perante a Warren Comission [23]. O custo seria, realmente, muito alto.

A investigação revelaria que Sam Giancana, que lhe fora apresentado por sua amante (de ambos) Judith Campbell Exner, ajudara-o durante a campanha presidencial nas eleições primárias em West Virgínia e Chicago, juntamente com outros gangsters, tais como Joseph Frischetti e Meyer Lansky, e entendimento com a Máfia foi intermediado por Frank Sinatra e conduzido por seu pai, Joseph Kannedy.

Os que tramaram o assassinato do presidente Kennedy, provavelmente, tiveram o propósito de compelir os Estados Unidos a invadir Cuba, sonho acalentado pela Máfia, pelos Cuba Project plotters da CIA e do Pentágono [24], assim como pelos mobsters Sam Giancana, Johnny Rosseli, Joseph Frischetti, Meyer Lansky, Santo Trafficante e outros capi da Máfia, ansiosos para reabir os cassinos em Havana.

Estavam todos inconformados com o esforço de Kennedy para conseguir uma acomodação com Fidel Castro. Frustraram-se, porém. Lyndon B. Johnson (1963-1968), ao assumir a presidência, não deu maior atenção ao conflito com Cuba, como o fizeram os irmãos Kennedy, que se deixaram dominar pelo compulsivo anseio de revanche, após a humilhante derrota da Brigada 2506 em Playa Girón. Em 7 de abril de 1964, ordenou à CIA que cessasse as operações de sabotagem e não mais participasse dos raids contra Cuba, assim como cancelou um plano elaborado durante a administração de Kennedy para uma segunda invasão, que deveria ocorrer entre março e  junho de 1964 [25].

Entre 1975 e 1976, quando Senate Select Committee to Study Governmental Operations with Respect to Intelligence Activities (Church Committee), tratou de esquadrinhar as ações da CIA, FBI etc., seu presidente, o notável senador Frank Church, do Partido Democrata, ampliou seu raio  de investigação até o assassinato de Kennedy e intimou vários gangsters a prestar depoimento. Nenhum, porém, pôde comparecer perante o Church Committee. Foram misteriosamente assassinados, a fim de que não rompessem ou traíssem o código de silêncio, a omertà.

San Giancana, que mantinha relações pessoais com Kennedy e colaborava com a CIA para matar Fidel Castro, morreu com um tiro na nuca e seis em torno da boca, em 19 de junho de 1975 [26]. “Undoubtedly, Giancana was murdered to prevent him from talking about CIA-Castro plot or any other Mafia secret”  - afirmou o advogado do gangster (mob lawyer) Frank Ragano em suas memórias [27]. Cerca de dez dias depois, em 30 de julho de 1975, o líder sindical James (Jimmy) R. Hoffa, vice-presidente da Teamsters Union, que fizera doações para a campanha de Nixon, desapareceu, misteriosamente, quando viajava para encontrar-se, em Detroit, com o gangster Anthony Giacalone [28]. Ele também estava convocado pelo Church Committee, dado ter ligação com os gangsters Santo Trafficante, proprietário de extensa rede de jogo em Cuba, fechada por Fidel Castro, e Carlos Marcello, cujo nome aparecera vinculado ao assassinato de Kennedy. Sam Giancana, conforme seu irmão Chuck, revelou que articulara, antes dele próprio ser assassinado, a execução de Hoffa, por solicitação da CIA, tarefa empreendida por cinco soldados: dois de Chicago, um de Boston, um de Detroit e um de Cincinnati [29].

Muitos anos depois, em 14 de janeiro de 1992, o New York Post afirmou que Hoffa, Santo Trafficante e Carlos Marcello participaram do complô para matar Kennedy. O advogado Frank Ragano, em suas memórias, confirmou que, em começo de 1963, Hoffa lhe incumbira de levar a Trafficante e Marcello mensagem relativa a um plano para assassinar Kennedy: “The times has come for your friend and Carlos to get rid of him, kill that son-of-a-bitch John Kennedy” – disse-lhe Hoffa [30].

Quando o encontro se realizou no Royal Orleans Hotel, Ragano falou: “Vocês não acreditarão no que Hoffa quis que eu lhes dissesse. Jimmy quer que vocês matem o Presidente”. Ambos - Trafficante e Marcello – deram-lhe a impressão de que pretendiam efetivamente executar a ordem.

Em sua autobiografia, publicada em 1994, Ragano contou ainda que, em julho de 1963, Hoffa lhe mandara outra vez a New Orleans, com outra mensagem sobre o assassinato de Kennedy. Conforme contou, Carlos Marcello, Santo Trafficante e Jimmy Hoffa tiveram de fato importante participação na morte de Kennedy [31].

Santo Trafficante odiava Kennedy e dizia haver ele traído os cubanos anti-Castro, não dando apoio aéreo à invasão da Bahia dos Porcos, em 1961 [32]. Hoffa, por outros motivos, destestava também os Kennedy [33]. E todos esperavam que Lyndon Johnson, ao assumir a presidência, demitisse Bob Kennedy da procuradoria-geral [34] e cessasse a investigação por ele promovida contra o crime organizado.

Os Kennedy haviam violado o compromisso assumido pelo pai, Joseph Kennedy, quando buscou seu apoio financeiro e político para a campanha do filho, John, em 1960 [35]. Com efeito, alguns poderosos chefões da Máfia e Frank Sinatra, a eles vinculado, apoiaram financeiramente a campanha de Kennedy, o que foi constatado por um agente do FBI, em New Orleans, em março de 1960 [36]. Sam Giancana e os mobsters do nordeste dos Estados Unidos, sobretudo de Chicago, julgavam que haviam colocado John Kennedy na Casa Branca e tinham direito a um "quid pro quo" [37]. Todos, os cubanos anti-Castro e os mobsters, julgavam-se também traídos [38].  Seu assassinato configurou, portanto, uma vendetta.


NOTAS 


[1] Schlesinger Jr., 1965, pp. 998-1000. U.S. Senate - Alleged Assassination Plots Involving Foreign Leaders, pp. 173 e 176.

[2] Memorandum by William Attwood, Washington, September 18, 1963;  Memorandum for the Record. Subject: Minutes of the Special Meeting of the Special Group, 5 November 1963. Washington, November 5, 1963; Memorandum from William Attwood to Gordon Chase of the National Security Council Staff, New York, November 8, 1963. Ibid. pp. 868 a 870, 878 e 879 .

[3] Report of the President's Commission on the Assassination of President Kennedy - United States Government Printing Office - Washington, D.C. U.S. Government Printing Office, Washington : 1964

[4] Trento, 2001, pp. 265-270.

[5] Report of the Select Committee on Assassinations of the U.S. House of Representatives - Union Calendar No. 962 - 95th Congress, 2d Session - House Report No. 95-1828, Part 2 - Findings and Recommendations March 29, 1979.--Committed to the Committee of the Whole House on the State of the Union and ordered to be printed - U.S. Government Printing Office, Washington: 1979.
http://www.archives.gov/research/jfk/select-committee-report/


[6] Blakey & Billings, 1981, pp.  177-180.

[7] Ibid.,  pp. 173, 174 e 176. Schlesinger Jr., 1965, p. 1029.

[8] Giancana & Giancana, 1992, pp. 330-333.
[9] Movimento em favor de Cuba existente no Estados Unidos, sustentado em grande parte pelos militantes do Socialist Works Party (trotskista) e também pelo Partido Comunista, com apoio financeiro, ao que tudo indicava, do Governo de Havana.
[10] Hinckle & Turner, 1992, p. 241. .Dobrynin, 1995, pp. 112.
[11] Sam Giancana explicou que Oswald nunca foi simpatizante de Castro, porém “CIA all the way”, um fuzileiros naval treinado para falar russo e infiltrar-se na União Soviética. Hinckle & Turner, 1992, pp. 271 e 272.

[12] Em 1933, agentes da Gestapo induziram Marinus van der Lubbe, doente mental e fichado como comunista a empreender o incêndio do Reichstag (Parlamento alemão), conforme a idéia de dois próceres do nazismo, Joseph Goebbels e Hermann Goering. Esse que permitiu a Adolf Hitler obter poderes extraordinários e implantar a ditadura, legalmente, sem revogar uma linha sequer da Constituição de Weimar.

[13] U.S. Senate - The Investigation of the Assassination of President John F. Kennedy: Performance of the Intelligence Agencies, Book V, Final Report of the Select Committee to Study Governmental Operations with Respect to Intelligence Activities, April 23, 1976, pp. 91 e 92.
[14] Hersh., 1997, pp. 450 e 451.  Hinckle & Turner, 1992, p. 246.
[15] Vide Bakley & Billings, 1981, p. 279.
[16] Giancana & Giancana, 1992, pp. 330-333.
[17] Id., ibid., p. p. 332.
[18] Frank Fiorini Sturgis foi um dos cinco que arrombaram o Comitê Nacional do Partido Democrata, no complexo hoteleiro de Watergate, em 1962.
[19] Giancana & Giancana, 1991, p. 333.
[20] Johnson, após o assassinato de Kennedy, comentou: “Kennedy tried to get Castro, but Castro got Kennedy first”. Haig, 1992, 114.

[21] Id., ibid., p. 115.
[22] Hersh, 1997 , p. 456.
[23] A Warren Commission on the Assassination of President Kennedy foi criada por uma order executive do presidente Johnson. Seus trabalhos foram presididos Earl Warren, chefe da Justiça da Suprema Corte. Sua conclusão de que o assassinato de Kennedy resultou de um ato individual de Lee H. Oswald não convenceu e as controvérsias sempre existiram.
[24] Hinckle & Turner, 1992, p. 239.
[25] Essa decisão Johnson tomou, não porque respeitasse a soberania de Cuba, e sim porque Robert Kennedy, a quem odiava, era o mentor do projeto.
[26] Giancana & Giancana, 1992, pp. 353-354.

[27] Ragano & Raab,  1994, p. 325.
[28] Em 1983, Hoffa foi declarado legalmente morto.

[29]Giancana & Giancana, 1992, p. 354.
[30] Ragano & Raab, 1994, pp. 144-145

[31] Id., ibid., pp. 348-349.
[32] Id., ibid., p. 154.
[33] Dallek, 2003, p. 299.
[34] Ragano & Raab, 1994, p. 359.
[35] Id., ibid., p. 358.
[36] Dallek, 2003, p. 298.
[37] Ragano & Raab, 1994, pp. 357-359.
[38] Id., ibid., p. 357.




1 Comentário

Orlando F. Filho - 23/11/2013
Kennedy acabou com os negócios da mob na ilha, gigantescos e milionários, envolvendo drogas, prostituição, inclusive grandes canaviais, pois queriam seu antigo poder de volta. A Igreja Católica ficou ao lado dos mafiosos contra a reforma agrária. Bom, não é de espantar, né? 
misterwalk, acrescenta o complemento abaixo, também extraído da carta capital, sim claro, of course, a publicação dos caras que comem fígados de criancinhas no café da manhã.


O ato final de Kennedy: aproximar-se de Cuba
Peter Kornbluh - especial para o La Jornada


Nos dias que antecederam o seu assassinato, o presidente estadunidense explorava ativamente uma aproximação com Cuba e trabalhava em segredo com Castro.


Arquivo
O aniversário de número 50 da morte violenta do presidente estadunidense John F. Kennedy nos projeta um segredo longamente guardado: após o assassinato em Dallas, Fidel Castro enviou uma mensagem por canais discretos a Washington pedindo para reunir-se com a comissão oficial que investigava o magnicídio, para dissipar os crescentes boatos de que Cuba era a responsável. A comissão, encabeçada pelo presidente da Suprema Corte de Justiça estadunidense, Earl Warren, enviou um de seus advogados, o afro estadunidense William Coleman, em missão clandestina para reunir-se com o líder cubano em um barco no Caribe.

Coleman contou, em entrevista ao repórter investigativo Philip Shenan, a primeira relacionada com esta reunião ultrassecreta, que falaram durante três horas. Apesar de pressionar o líder cubano no tema dos vínculos de Lee Harvey Oswald com Cuba e a sua misteriosa visita à embaixada cubana no México antes do assassinato, Coleman informou a Warren: não encontrei nada que me fizesse supor que existem provas de que ele [Castro] o fez. De fato, pese ao acontecido em Playa Girón, a crise dos mísseis, os complôs para assassinar gente em Cuba e o embargo comercial, Castro insistiu em que admirava o presidente Kennedy.

Segredos e teorias conspiratórias

Nos Estados Unidos, o aniversário da morte do jovem presidente gerou uma cobertura massiva nos meios de comunicação: documentários especiais para a televisão, uma onda de livros e artigos novos, um novo filme feito em Hollywood.
Inevitavelmente, surgem novas teorias que discutem mais uma vez as possíveis conspirações relacionadas com quem matou Kennedy e por quê. A Comissão Warren concluiu que Oswald, solitário enlouquecido que se declarava marxista, agiu sozinho quando disparou no presidente. Mas o sigilo do governo estadunidense, em particular que a CIA retivesse informação de seus esforços ultrassecretos para assassinar Castro, e da vigilância que exerceu sobre Oswald quando visitou a Cidade do México (protegendo suas operações de coleta de informação de inteligência no México), levantou suspeitas de que alguém encobria algo. A Casa Branca tampouco compartilhou detalhes extraordinários, como que a atitude de Kennedy em relação a Cuba teve um giro significativo, sendo Cuba um país central em qualquer discussão histórica do impactante assassinato do presidente em Dallas.

Quase imediatamente depois do assassinato cometido no dia 22 de novembro de 1963, os inimigos da revolução cubana começaram a plantar acusações de que o pró castrista Oswald havia conspirado com Cuba para matar o presidente. Em Nova Orleans, onde Oswald criou o comitê “Joguemos Limpo com Cuba” (de apenas um membro), um grupo de exilados com respaldo da CIA, chamado Direção Revolucionária Estudantil (Revolutionary Student Directorate), publicou um boletim no dia 23 de novembro, com um retrato de Castro junto a uma foto de Oswald.

Seis dias depois do assassinato, o diretor da CIA, John McCone, informou ao novo presidente, Lyndon Johnson, que um agente de inteligência nicaraguense no México, Gilberto Alvarado, havia advertido a nossa estação [no México] com grande detalhe sobre o suposto fato de que no dia 18 de setembro viu Oswald receber 6,5 mil dólares na embaixada cubana na cidade do México. Alvarado afirmava que o dinheiro era o pago para matar o presidente.

A CIA suspeitou de imediato da credibilidade desta informação porque o FBI tinha provas concretas de que Oswald estava em Nova Orleans no dia 18 de setembro; os documentos de imigração mostravam que não havia viajado ao México até 26 de setembro. Alvarado foi retido em uma casa de segurança da CIA e depois entregue às autoridades mexicanas para que continuassem interrogando-o. Este não passou no detector de mentiras dessa agência e se retratou de suas afirmações. De acordo com o relatório ultrassecreto da CIA “O assassinato do presidente Kennedy”, Alvarado admitiu diante das autoridades mexicanas que seu relato era uma fabricação desenhada para provocar que os Estados Unidos tirassem Castro de Cuba a chutes.

Castro também observava acontecer uma conspiração, muito diferente. No dia 23 de novembro transmitiu uma declaração pela rádio cubana na qual qualificava o assassinato de Kennedy de conspiração maquiavélica contra nosso país, que tentava justificar, de imediato, uma agressiva política contra Cuba... construída com o sangue ainda morno e o corpo insepulto de seu presidente, tragicamente assassinado. “Oswald”, declarou Castro, “pode ter sido um instrumento dos setores mais reacionários que estiveram tramando esta sinistra conspiração, e que podem ter planejado o assassinato de Kennedy por estar em desacordo com sua política internacional.”

No momento em que acontecia essa dramática declaração, Castro sabia algo da política internacional de Kennedy que o resto do mundo não soube: nos dias que antecederam o seu assassinato, o presidente estadunidense explorava ativamente uma aproximação com Cuba e trabalhava em segredo com Castro para instaurar negociações secretas com o fim de melhorar as relações. Em novembro de 1963, Cuba não tinha razões para assassinar Kennedy porque estava envolvida na criação de uma diplomacia por canais secretos que poderia ter conduzido à normalização das relações. No mesmo momento em que se cometeu o assassinato, Castro mantinha uma reunião com um emissário que Kennedy havia enviado a La Habana em missão de paz.

Conversas secretas Cuba-EUA

As conversações entre Cuba e Estados Unidos começaram, ironicamente, após um flagrante ato de agressão de Washington: a invasão paramilitar de Playa Girón.
Depois da vitória cubana sobre uma incursão armada que contou com apoio da CIA, o presidente e seu irmão Robert Kennedy enviaram ao advogado James Donovan para negociar a liberação de mais de mil membros da incursão que foram capturados. Durante o curso de várias sessões de negociação, no outono de 1962 Donovan conduziu um acordo para abastecer a ilha com 62 milhões de dólares em alimentos e remédios em troca da liberação dos prisioneiros. Este homem não apenas obteve a liberdade dos prisioneiros, mas a confiança de Fidel Castro.

Na primavera de 1963, Donovan regressou a Havana várias vezes para negociar com Castro a liberação de duas dúzias de estadunidenses – três deles agentes da CIA – presos em cárceres cubanos sob acusação de espionagem e sabotagem. Durante o curso destas reuniões, pela vez primeira vez Castro expôs o ponto da restauração de relações. Dada a acrimonia e a hostilidade do ocorrido no passado recente, como poderiam os Estados Unidos e Cuba procederem com o assunto? perguntou a Donovan.

Lee Harvey Oswald que, segundo a pesquisa oficial, disparou no presidente
Sabe como os porco espinhos fazem amor? Respondeu Donovan.Com sumo cuidado. E é assim que vocês e os Estados Unidos deveriam proceder com esse assunto.

Quando o relatório de Donovan sobre o interesse de Castro em sentar-se para conversar a fim de normalizar relações chegou à mesa de Kennedy, a Casa Branca começou a considerar a possibilidade de um enfoque doce em direção a Castro. Os ajudantes de maior graduação argumentaram que os Estados Unidos deveriam exigir de Castro que deixasse para trás suas relações com os soviéticos como precondição de qualquer conversa. Mas o presidente se impôs; ordenou seus assistentes mais próximos que começassem a pensar em temos mais flexíveis ao negociar com Castro, e deixou claro, segundo alguns documentos revelados pela Casa Branca, que se mostrou muito interessado em prosseguir nesta opção.

Em abril de 1963, em sua última viagem a Cuba, Donovan apresentou a Castro uma correspondente da ABC News, Lisa Howard, que havia viajado a Havana para realizar um especial televisivo sobre a revolução cubana. Howard substituiu Donovan como interlocutora central neste prolongado esforço secreto para entabular as primeiras conversações sérias, frente a frente, para melhorar as relações. Em seu retorno de Cuba, a CIA se reuniu com ela em Miami e a interrogou sobre se havia um claro interesse de Castro no melhoramento das relações. Em um memorando ultrassecreto que chegou à mesa do presidente, o diretor adjunto da CIA, Richard Helms, informou: definitivamente Howard quer impressionar o governo estadunidense com dois dados: Castro está pronto para discutir uma aproximação e ela está pronta para discutir o assunto com ele, se o governo dos Estados Unidos pedir.

Como era de se esperar, a CIA se opôs fortemente a qualquer diálogo com Cuba. A agência tinha a autoridade institucional para prosseguir com seus esforços de frear a revolução por meios encobertos. Em um memorando apressado que foi enviado à Casa Branca no primeiro de maio de 1963, o diretor da CIA, John McCone, solicitou que não se desse, pelo momento, nenhum passo na aproximação e pressionou para que Washington fosse o mais limitado em suas discussões em torno de um processo de acordo com Castro.

Mas no outono de 1963, Washington e La Habana ativamente empreenderam passos em direção a negociações reais. Em setembro, Howard utilizou uma festa em sua casa de Manhattan, na rua 74 leste, como cobertura para a primeira reunião entre um funcionário cubano (o embaixador nas Nações Unidas Carlos Lechuga) e um funcionário estadunidense (o embaixador adjunto na ONU William Attwood).

Attwood disse a Lechuga que pelo menos havia interesse da Casa Branca nas conversações secretas, se existia algo do que falar. Também apontou que a CIA maneja a política com Cuba. Após a reunião, Castro e Kennedy utilizaram Howard como intermediária para começar a passar mensagens em torno dos possíveis acordos para efetuar uma sessão de negociações entre ambas as nações.

No dia 5 de novembro, o sistema de gravações secretas do Salão Oval de Kennedy registrou uma conversação com seu assessor em segurança nacional McGoerge Bundy, sobre se enviar William Attwood (que nesse momento servia como adjunto do embaixador estadunidense Adlai Stevenson nas Nações Unidas) para reunir-se em segredo com Castro.

Bundy disse ao presidente: Attwood tem agora um convite para ir falar com Castro sobre as condições e termos sob os quais estaria interessado em discutir suas relações com os Estados Unidos. Se escuta o presidente aceder à ideia, mas pergunta se é possível tirar Attwood da nômina antes que vá, para saneá-lo, fazendo-o ver como um cidadão qualquer, em caso de que vazasse o rumor da reunião secreta.

No dia 14 de novembro, Howard combinou que Attwood fosse a sua casa e falasse por telefone com o assistente principal de Castro, Rene Vallejo, tentando obter a agenda dos cubanos para uma reunião secreta, em La Habana, com o comandante cubano. Vallejo aceitou transmitir uma proposta ao embaixador Lechuga, que informaria os estadunidenses. Quando Attwood passou esta informação a Bundy na Casa Branca, este lhe disse: quando receber a agenda, o presidente vai querer ver-me na Casa Branca para decidir o que dizer e se há que ir [à ilha] ou como proceder.

Isso foi em 19 de novembro, lembra Attwood. Três dias antes do assassinato.

O ato final de Kennedy

Mas Kennedy também enviou a Castro outra mensagem de potencial reconciliação. Seu emissário, o jornalista francês Jean Daniel, se reuniu com Kennedy em Washington para discutir o assunto Cuba. O presidente lhe deu uma mensagem para Fidel Castro: são possíveis melhores relações, e ambos países devem trabalhar para pôr fim às hostilidades. No dia 22 de novembro Daniel passou essa mensagem a Castro, e os dois a discutiam com otimismo no almoço quando Castro recebeu um telefonema informando que haviam disparado contra Kennedy.

“Isso é terrível”, disse Castro a Daniel, dando-se conta de que sua missão havia sido abortada pela bala de um assassino. Ali ficou a missão de paz.

Então Castro previu com precisão: vão dizer que nós o matamos.

Entre as controvérsias que continuam em torno de possíveis teorias conspirativas, o que se perde na discussão histórica do assassinato é que o último ato de Kennedy como presidente foi aproximar-se de Castro e oferecer a possibilidade de uma relação bilateral diferente entre La Habana e Washington. Cinquenta anos depois, o potencial que Kennedy avistou, em relação a uma coexistência entre a revolução cubana e os Estados Unidos, tem ainda que cumprir-se. Como parte da comemoração de seu legado, devemos recordar, reconsiderar e revisar sua visão de um cessar as hostilidades no Caribe.

(*) Peter Kombluh dirige o Projeto de Documentação sobre Cuba no Arquivo de Segurança Nacional em Washington e é coautor, junto a William LeoGrande, do livro de próxima aparição Talking with Cuba: The hidden history of diplomacy between the United States and Cuba

(**) Tradução ao espanhol: Ramón Vera Herrera

(***) Tradução ao português: Liborio Júnior

quarta-feira, novembro 20, 2013

oportunidade,oportunismo, ambas as coisas ou nenhuma das duas?

A Coca Cola das Filipinas anunciou que vai suspender o investimento em todas as suas campanhas de publicidade no país e canalizar o dinheiro para ajudar as vítimas do tufão que fez 4000 mortos.

Numa nota divulgada na terça-feira e citada no Yahoo News, a Coca Cola das Filipinas afirma que a suspensão entrou em vigor no dia 18, não existindo ainda uma data para que a publicidade seja retomada.

"Os compromissos que havia com o espaço publicitário serão redirecionados para apoiar a população de Visayas", diz a marca. Para além dos mortos, o tufão, um dos mais devastadores da história, provocou milhões de desalojados.

Os fundos da Coca Cola Filipinas juntam-se ao dinheiro que a Coca Cola global já doou para apoio às vítimas do tufão. A contribuição da marca é de 2,5 milhões de dólares, sendo um milhão da sua filial naquele país.


(a nota é do briefing/pt)


misterwalk comenta: -  em se tratando da coca-cola, e do que é capaz a publicidade nos dias atuais, não me espantaria nada que a ação decorre depois de contas entre investimento/retorno nos meios tradicionais e a potencialilzação do alcançe em termos de share of mind/heart  alcançado com esta suspensão e aplicação da verba para os filipinos vitimas da tragédia. sendo perverso, diria que na conta seriam calculados os custos de produzir um tufão de tal dimensão. 

não se trata de diabolizar a coca-cola mais do que ela mesmo se diaboliza. mas convenhamos, de boas ações o inferno está cheio. e já vai longe o tempo em que empresas faziam(se é que faziam) ações desinteressadas. ao fim e ao cabo são milhões de dólares que serão canalizados- quem vai fiscalizar? - para a ajuda; desinteressada? aos filipinos. como diriam os portugueses, não há almoços grátis. acredito piamente que quem quer realmente ajudar desinteressadamente faz isso sem amplificar sua ajuda. e nem mesmo quem faz isso está a salvo de uma ação estratégica de revelação. ó tempos, ó costumes.

p.s. nada de me escrever vociferando na inquirição sobre o que fiz ou estou ou não fazendo a respeito, com aqueles ares de que aqui o filha da puta sou eu. antes, disto, pergunte a si mesmo o que você faz, e o que andou fazendo no verão passado.

sexta-feira, novembro 08, 2013

outdoor do caixão - ainda se faz isso em 2013?

homenagens na "maioria das vezes" costumam dar em merda. não fossem sempre discutíveis ou dispensáveis.  neste caso, o objeto da discussão não é o homenageado, que não discuto nem endosso seus méritos. mas pombas! se é para homenagear alguém, ainda mais "do meio outdoor, na linguagem do outdoor", ao qual o homenageado dedicou toda uma vida, que pelo menos se fizesse algo decente, com cara de trabalho feito por profissionais que se respeitam a si e ao seu trabalho e a quem vão homenagear. ainda mais quando assinado pela sinapro - para que serve mesmo a sigla? se é para fazer merdas deste tipo nem precisa existir. se é para fazer outro tipo de merdas, ai quem sabe.

podem fazer muxoxo, espernear, praguejar sobre os meus escritos, mas quero ver quem tem a coragem de assumir que isto é um trabalho que revela propriedade - nem estou falando de criatividade - no uso do outdoor.

caramba! novamente: como uma empresa do meio usa tão mal o meio num desserviço ao próprio? nem se pode chamar isto de trabalho de estagiário, porque estagiário faria outro tipo de merda que não esta: iam querer se mostrar antenados, o que também dá sempre em merda.

nizan já ensinava que outdoor é "chupa o meu pau". e agora: como chupar esta manga, com este cartadoor? ou melhor briefdoor? que ainda por cima tem cara de anúncio fúnebre colombiano, boliviano, paraguaio, que costumam usar esta estética, em muito reforçada pelo 3x4 do homenageado. seria um outdoor pé na cova? se o for, ainda continua ruim por isso mesmo também.

foda-se! quem fez isto ou estava de sacanagem(prêmio de propaganda é sempre uma sacanagem, suas homenagens idem, como comprova esta) ou a preguiça fecal assolou de vez a falta de pensamento de quem diz que pensou, pesou e colocou isto na rua. eis petrificada uma colisão de mau gosto por todos os lados, a começar da diagramação do texto em 04 linhas de texto(chupa meu pau? cacete! haja pau neste retângulo) num outdoor encabeçado como IV prêmio pernambuco de propaganda(que se quer criativo, deste jeito?) sublinhado pela sinapro (que se quer de respeito e endossa este desastre?) e com a citação final de uma empresa de mídia exterior sobre cinco estrelas que não estão brilhando neste caso, estão boiando.

por esta e outras é que na "maioria das vezes" a maior homenagem a quem quer que seja, qualquer que seja a ocasião, é o respeitoso silêncio ou a economia de palavras(para evitar as merdas proferidas em discursos pré- escritos ou improvisados). no caso do outdoor, a economia de palavras é ainda mais inversamente proporcional ao tamanho do respeito e a "justeza" da homenagem. 82 anos de vida e 57 de atuação profissional tonaram-se maiores ou menores com esta homenagem em outdoor?

uma ou mais duas palavras(sinceras),com ideia/foto noutro clima/formato, e pronto: todo mundo teria "chupado o pau do murilo" numa boa, sem cuspir.

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sábado, novembro 02, 2013

quem sabe aplica-se à publicidade (a depender do tamanho da sua cagada)

Aforismo 63
do Tao Te King
 
Quem já foi a palestras motivacionais pela empresa sabe como a coisa funciona. Seu chefe te inscreve, e dá o nome de capacitação. Você entra num auditório e está na presença de seu chefe e seus superiores. Uma pessoa fala manhã e tarde acerca de motivação. Dá exemplos, aponta caminhos, quer te fazer se sentir bem com a vida e o trabalho de merda que você tem. Você sai da palestra com a sensação de que foi enganado, e seu chefe com a ilusão de que resolveu o problema. No fim das contas, as razões pelas quais você está desmotivado continuam lá, e tudo volta ao normal. As palestras motivacionais dão pouco resultado por um motivo bastante simples: elas desmotivam. Sim! Apesar do nome, quando uma empresa recorre à palestra motivacional como método, significa que os empregados já estão desmotivados, e então os pressionam a se motivarem. Praticamente, a empresa está obrigando o funcionário a resolver dentro dele um problema que foi criado pela empresa: a falta de condições em que um empregado esteja devidamente bem com seu trabalho para realizá-lo de maneira satisfatória.
Para os chineses antigos isso seria resumido em uma única ideia: nunca apresse um rio, nem tente retardá-lo. Você não conseguirá apressá-lo, no máximo aumentará a quantidade de fluxo em alguns lugares, e deixará outros vazios, ao ponto de o vazio criar uma necessidade de preenchimento, e o rio, inevitavelmente, voltará. Você não conseguirá retardá-lo, pois a barreira que criou transbordará e inevitavelmente o rio retomará seu fluxo natural. A dica é seguir o fluxo do rio, deixá-lo tomar as rédeas por si próprio. Construa um canal, redirecione a água, faça-a tomar outros rumos, mas faça tudo isso respeitando o próprio fluxo das coisas, sem alterá-las.
Essa prática acima pode ser encontrada no Taoismo e no Budismo Chán pelo nome de Wú Wéi, literalmente "não ação". Essa prática consiste em não ir contra a ação natural das coisas, mas seguir seus princípios. O aforismo 63 do Tao Te King diz que "o sábio nunca tenta grandes feitos, e por isso os realiza", ou seja, o sábio nunca tenta pressionar o caminhar natural das coisas, ele o aproveita em seu próprio benefício. Isso se aplica a todas as especificidades de nossas vidas. Defecar, fazer sexo, trabalhar, exercícios, namoro, educação, conhecimento, artes marciais, vida religiosa etc. Qualquer momento desses, se em algo você é pressionado, o ponto de pressão gerará tensão, e a tendência é o ponto de tensão se romper. No caso das coisas de nosso próprio corpo, somatizamos. Nas coisas sociais, brigamos.
Quem tem prisão de ventre bem sabe que quanto mais preocupado com seu intestino na hora de ir ao banheiro, quanto mais pressão sua mente exerce sobre seu esfíncter, aí é que ele não se abrirá, e nada sairá. Crie pressão para que a outra pessoa goze no sexo, e ela não gozará. Force uma comida de que não gosta a entrar, e você vomitará. Pressione alguém a se sentir bem no trabalho, e ela não se sentirá bem. Crie pressões, chantagens ou ordenamentos para alguém ser missionário, monge ou teólogo, e você afastará essa pessoa da religião. A questão é, imponha um comportamento no agir natural das coisas, e o próprio agir natural das coisas empurrará a ação para qualquer outro lado, menos para aquele que você quer.
E é aí onde entra a paciência. Ser paciente é a arte de entender o fluxo das coisas e planejar um novo caminho aproveitando o fluxo natural. O bom jardineiro não muda o crescimento das plantas, ele as direciona. Assim como ninguém faz uma curva de 90º com arestas, você segue a velocidade do próprio carro e faz uma curva rombuda. Se nesses dois casos há paciência, por que há impaciência nas demais coisas? Simples. As pessoas querem que a realidade se adeque a elas, e por isso tentam forçar até mesmo as leis da física a seguir suas vontades. Um motorista impaciente tentará uma curva de 90º com uma aresta quadrada a 120 km/h, e o resultado será o capotamento. Nenhum fluxo natural é interrompido sem consequências (os hormônios que apressam o crescimento de frangos e bois interferem na nossa saúde). O mesmo se diz das coisas cotidianas.
Esteja no banheiro sem criar pressão mental sobre seu intestino, e você defecará. Apenas transe com a pessoa, e tenha paciência com ela, e naturalmente o gozo virá. Exercite seu paladar para determinados alimentos pouco a pouco, ou tempere-os de forma diferente, e você os comerá. Crie condições melhores de trabalho, remuneração, metas e reconhecimento, e seu empregado agirá com maior motivação. Crie um ambiente acolhedor e coerente na sua religião, e o adepto naturalmente sentirá o desejo de aprofundar-se. De nada adianta forçar, pressionar, ditar. Deixe como está, redirecione sem interferir nas coisas, e as coisas ocorrerão no momento que têm que ocorrer.
De certa forma, ao redirecionar um rio por um canal, você cria um novo vão para o fluxo da água. Ela tem a necessidade de seguir em frente, mas o canal torna-se uma nova opção, e seu vão está vazio. Naturalmente a água o preencherá e ele seguirá seu novo rumo, e o fluxo do rio nem precisou ser mexido. Por isso, leve um livro para o banheiro. No sexo, entre na onda das taras de seu (sua) parceiro(a) (sem nojinho, medo ou vergonha). Entenda e redirecione os anseios e as habilidades de seu empregado, e ele se sentirá pleno em sua profissão. Crie a necessidade de aprofundamento numa religião, e a pessoa se aprofundará (por exemplo, se quer que alguém seja monge, dê aula de uma língua sagrada para apenas os interessados). No fim, aproveitar o fluxo das coisas para seu próprio benefício dá mais resultado. "Como dizem por aí, deixa rolar" (Alan Watts).
 
(não pressione, deixa rolar, no/do calango abstrato) no caso da publicidade, misterwalk diria: não impressione. mas também não deixe simplesmente a coisa rolar. role você também com