segunda-feira, janeiro 27, 2014

informação - ou a confusão disseminada por ela - sempre foi poder. manda quem tem - ou quem paga

Se há um segmento da sociedade brasileira que está precisando tornar visíveis os seus desejos e necessidades, este é o dos consumidores de jornais, revistas, telejornais e páginas noticiosas na web. O mundo mudou e as demandas da população também, mas a imprensa continua agarrada a um modelo que mostra evidentes sinais de desgaste. 
Temos hoje um déficit crescente de dados e informações capazes de dar à sociedade elementos para a tomada de decisões numa conjuntura cada vez mais complexa e interconectada. Opções relativamente simples – como comprar um equipamento doméstico – dependem cada vez mais de dados que permitam a escolha do produto certo, no preço adequado. Um estudo norte-americano mostrou que metade dos consumidores locais compram produtos inadequados por falta de informação.
Se formos estender a demanda de informações para questões mais delicadas como relações humanas, saúde e problemas legais, a carência de dados é ainda mais dramática porque cada caso é especifico de um determinado contexto social e individual.
O problema existe porque a imprensa precisa associar a oferta de conteúdos informativos à venda de publicidade comercial para sobreviver como negócio lucrativo. Nada contra existência de empresas, só que esse modelo de negócios não consegue suprir a demanda por dados e informações ligadas às necessidades da população, sem depender de patrocínios e anúncios.
No caso da polêmica sobre os rolezinhos, a cobertura da imprensa revelou-se deficiente não porque os repórteres e editores sejam despreparados, mas porque a publicidade dos shoppings força as empresas a buscar abordagens que não comprometam receitas futuras. Nessas condições o público fica sem elementos reais para poder posicionar-se diante de uma questão que provocou insegurança na classe média urbana de várias capitais brasileiras.
Estamos diante de uma situação em que os consumidores de informações acabarão sendo levados a promover o seu próprio rolezinho para que as empresas jornalísticas percebam o que a luta por sobrevivência financeira não as permite ver claramente. É a busca de visibilidade dos leitores para a demanda insatisfeita por dados e informações para o dia a dia das pessoas. Dados e informações que permitam às pessoas fazer opções de acordo com suas necessidades e contexto social, em vez de suas escolhas serem condicionadas pela publicidade.
Também nada contra a publicidade, que é necessária e insubstituível. O problema é os publicitários identificarem claramente o que é propaganda visando negócios e a que está voltada para necessidades reais da população. A guerra publicitária das operadoras de telefonia e de televisão é um exemplo de como a confusão proposital de dados e informações transforma uma opção de compra num desafio que pode acabar na escolha inadequada às necessidades do consumidor.
A primeira coisa que a imprensa deveria fazer para atender à insegurança informativa da população é procurar, de forma sistemática e continuada, ensinar as pessoas a lidar com a informação. São raríssimos os indivíduos que tornaram rotineira a checagem de dados e informações de qualquer natureza. Na era da abundância informativa, não dá mais para confiar numa única informação. Lidar com a informação implica uma série de hábitos e valores novos que ainda não foram incorporados ao dia a dia das pessoas. Hábitos tanto na hora de dar uma informação quanto na de usá-la. O problema não está só nos espertalhões ou irresponsáveis, mas na crescente diversificação das percepções de um mesmo problema.
Antes da internet, como havia poucos canais de comunicação, a informação era escassa e geralmente limitada a um número muito reduzido de fontes. Na era digital, tudo isso mudou. Milhões de pessoas passaram a publicar suas percepções e um mesmo fato, dado ou evento passou a ser percebido de forma diferenciada e não necessariamente falsa. É a velha questão do copo meio cheio ou meio vazio reproduzida dezenas ou centenas de vezes para uma mesma situação. Não se trata mais de distinguir apenas entre o certo ou errado, mas principalmente entre o melhor e o pior para uma determinada situação pessoal ou de grupo.
Aprender a lidar com a informação é talvez o nosso grande desafio em tempos de ação coletiva de vários segmentos sociais, todos buscando visibilidade pública num contexto cada vez mais complexo. Os leitores precisam cobrar isso da imprensa. 
(um rolezinho dos leitores de jornais, do carlos castilho, no observatório da imprensa)

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