sábado, dezembro 03, 2005

das neves

e já que o assunto é de escritas e escrivinhadores, tioolavo.blogspot.com é o blog do famosíssimo publicitário e escritor quase isso, edson athayde. pelo menos em portugal.

brasileiro, ex-ceo da edson-fcb, o homem tem na mala mis ou mais prêmios internacionais, amados ou odiados, quase meia dúzia de livros, idem. tudo isso, não importa se de conteúdo ou não, já faz dele um escritor de renome e um publicitário discutido aos não beijos e disputado às tapas.

edson escreve no português de portugal mas isso é só um detalhe que faz a diferença.
de escrita variada sobre o mundo e as cousas, inclusive da publicidade, faço seleta que pode não fazer justiça ao material disponível no tioolavo.blogspot.com mas como há que se ter um critério, escolhemos o abaixo pela pauta de hoje.


a gaveta do escritor

Na gaveta do escritor cabe tudo, cabem todos.
Na gaveta do escritor há rascunhos, há rabiscos, há ladrões.
Há fadas, há cabras, há poemas, espiões.
Amigo, a gaveta do escritor é, como diz o outro, um perigo.
É melhor não abri-la sem mandato do juiz, sem carta do ministro, sem autorização.
Da gaveta do escritor podem sair delírios, unicórnios, maldades.
Podem sair belas morenas, mas também dragões.
É na gaveta que o escritor esconde a verdade, seus medos, manias, mistérios, ansiedades.
É lá que está um futuro prémio Nobel, um manifesto surrealista e uma apólice de seguro vencida.
,é uma verdadeira Torre de Babel, lá falam-se línguas secretas, criadas pelos astecas, onde as frases começam com vírgulas e terminam com dois pontos:
O escritor mente quando diz que não tem uma gaveta. Por melhor que seja, há sempre um conto incompleto, um artigo esquecido, um romance de fundo.
A gaveta do escritor é um túmulo.
Ali jazem segredos, personagens, mundos.
Se procurar com jeitinho vai encontrar um labirinto de Borges, um Pessoa obscuro.
Há canetas sem tinta, papelinhos, envelopes.
Há cigarros mofados, clips entortados, piratas torturados, miúdos reguilas, filósofos velhotes.
Há agendas repletas, fitas cassettes, fotos antigas.
Há pó, há lixo, há vestígios do crime, há aspirinas.
Mas se quer mesmo abrir a gaveta, faça com uma certa precaução.
Passe na Papelaria Fernandes, compre um fato de abrir gavetas ou de assaltar estantes, vá então a duas ou três igrejas distantes. Peça um padre para fazer uma extrema-unção.
Depois espere que o escritor saia para encontrar a sua musa ou para tomar uns copos ou para pedir esmolas.
Entre no seu quarto não de pé mas sim de cócoras, tomando cuidado para não partir os cornos nem rasgar a blusa.
Aí então atire-se sobre a mesa, respire fundo e abra a gaveta.
Leia sem grandes critérios o que está lá escrito, marimbe-se para a falta de unidade literária, com o maralhau de estilos.
Dê gargalhadas com o que vão dizer os críticos.
Depois pense em plantar um árvore e ter um filho.
Foi o que fiz. E virei um livro

2 comentários:

Anônimo disse...

Celso,
Quem escreveu este poema?
Luis Gaspar

celso muniz disse...

ave! grande luiz gaspar:
o poema foi escrito, sem trucas, pelo próprio, edson até prova em contrário, pois está lá e já lá está em um dos seus últimos posts. seria demais supor que é conteúdo de algum dos seus novos livros? quem sabe nos responde ele ou você.
celso