quinta-feira, dezembro 22, 2005

a literatura brasileira fica me devendo

dia oito de dezembro fiz-lhe um grande favor. não fui ao lançamento de um certo livro mineral que se quis maldito e visceral. anunciado até nos fartar com titulinhos demonstrativos de que, para além de fazer má literatura, o autor, não satisfeito com o que faz na publicidade, ainda fez mais das suas alardeando o livro com diluições de conceitos fartamente usados.. orelha por orelha, fico com a de burro, então. porque só trepo a estante pelo que vale a pena.

não me venha dizer qu´ eu tenho birra contra autores novos. mas cacete!, como diria picasso, leva-se muito tempo para se ser jovem. eu, por exemplo ainda continuo velho e o mesmo ranzinza de sempre.

e por falar nisso, que tal um livro de um autor jovem? rubens fonseca, que lançou o mandrake mas não é nenhum mandrake acima está de livro jovem de novo.

"Se, como disse Keynes – citado por Eduardo Giannetti em seu novo livro sobre juros –, à medida que envelhece, o homem vai desistindo da criação e da construção, e vai se apegando mais ao dinheiro e à segurança, então Rubem Fonseca deve ser uma exceção. Um dos maiores contistas brasileiros vivos, como convém sempre lembrar, nunca produziu tanto como a partir dos seus 65 anos – época que coincide com a consolidação da editora Companhia das Letras (é sabido que o editor Luiz Schwarcz quis, desde o começo, ter em seu catálogo as obras do autor de Feliz Ano Novo ). Foram, desde 1990, quatro romances (sendo que um histórico e um biográfico), duas novelas e seis livros de contos – fora antologias, reedições e participações em coletâneas esparsas. Ao contrário de seu personagem Gustavo Flávio, o poeta que detestava ser indagado sobre o que andava escrevendo, Rubem Fonseca, dos anos 90 pra cá, poderia responder sempre positivamente à mesma questão. E desde 1997, especialmente, vem inclusive ressuscitando o próprio Gustavo Flávio e o detetive Mandrake – duas de suas criaturas mais evocadas. Do meio do mundo prostituto, só amores guardei ao meu charuto (1997) mistura, justamente, os dois; e Mandrake: a Bíblia e a bengala (2005) trouxe, evidentemente, Mandrake de volta, solo, em duas histórias policiais escritas e publicadas agora. Tendo em mente esse panorama, de produção alucinante, em uma década e meia, é possível descontar o fato de que, mesmo em grande estilo e forma (para um homem de 80 anos), Rubem Fonseca vem se repetindo um pouco. Ou será que nós – que o lemos e que o amamos tanto – fomos desvendando seus mistérios logo nas primeiras folhas com o passar dos anos? Rubem Fonseca, ainda assim (ainda que não nos surpreenda nem nos desaponte), continua dando aulas de bom português, continua levantando sobrancelhas e sobrolhos, e continua entretendo como poucos. Enfim: o que mais esperar de um autor dando as últimas pinceladas na sua obra?

o selvagem da opera, by julio daio borges sobre Mandrake: a Bíblia e a bengala - Rubem Fonseca - 200 págs. - Companhia das Letras, a dezenove e noventa pauzinhos.

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