terça-feira, novembro 15, 2005

recaída ou ordem e progresso e orelha assada

para além do pau-de-arara, dos palitos enfiados sobre as unhas, dos alicates nos bicos do peitos e dos cacetetes no cu, a maquininha de dar choques era um dos mecanismos de tortura mais utilizados pelas forças armadas nos tempos da ditadura. isto quando não apelava para sutileza dos canos de escape na boca, dos coturnos rompendo orgãos e dos afogamentos e sufocamentos que não ficavam só nas ameaças. claro havia também o voo livre dos helicópteros, que a força aérea não deixou barato na disputa com o exército. era o “bung jump” sem suspensórios.

da maquininha nunca mais consegui lembrar o nome, que esqueci de um choque. muito embora a literatura da época faça o registro. assim quem quiser que procure.

vem à baila, porque desde ontem imagens chocam o país. a coroação da formatura de um treinamento onde métodos afins são usados para a construção do caráter de um soldado revela bem o quão torto é nosso estado de direito. e o que está por detrás dos decálogos de honra pregados nas instituições militares. o que mais deveria chocar é que tais práticas são consideradas praxe. e praticadas à soldo. quartéis mundo afora e não só no brasil.

mas com estamos aqui, e é aqui que a mula manca, mais do que o estardalhaço, que torna-se-à oportunista pelas forma como a imprensa trata as denúncias contra o estado e os crimes cometidos por ele, o que deve chocar ainda mais é saber que o aparato militar-policial do estado, auto-instruiu-se impunemente exemplar. tornando-se categoria acima do bem e do mal. em nome da defesa dos ideais de soberania de quem prega a ordem e o progresso num estado que tem como patrono do exército, caxias, que sabem todos CDF, mas não conhecido pelas práticas de guerra biológica na guerra do paraguai — ordenou a contaminação do rio paraguai pelo vírus da cólera e a matança dos ninõs-combatientes, núcleo de resistência composto de aproximadamente cem crianças e quase adolescentes - numa guerra que dizem orgulha nossa história, mas que historiadores independentes classificam de genocídio atrelado a subserviência ante o capital inglês.

cavando minha trincheira, que não seja sepultura, ensarilho a pena em um tempo em que a guerrilha do tráfico domina as principais cidades do brasil. quando ninguém se espanta quando comandantes afirmam que o exército não está preparado para a luta contra o tráfico, já que os traficantes de há muito fazem forças armadas pedir penico, inclusive invadindo-lhes instalações ao luz do dia, na mão grande. nesta hora, onde estão os sargentos?

temeriam ser brincados no “micro-ondas”, onde padeceu o tim lopes, forma de tortura onde pessoas são colocadas dentro de pneus que descem para o precipício em fogo nada brando? "normalmente" serradas para caber lá ? ou porque jogos de guerra "sem baixas" que não a moral são mais facilmente praticáveis intra-muros sob a calada das instâncias superiores e de tribunais militares que arquivam processos atrás de processos ?

a brincadeira militar, de demonstrar coragem em trotear com tortura jovens aspirantes à vida com maiores possibilidades já foi praticada a torto e a direito neste país. a tal ponto, que a classe média acreditava ser invenção dos esquerdistas, não acreditando ser possível tamanho horror. apesar de acreditar que comunistas comiam criancinhas no café da manhã.

tortura nunca mais? pois sim!

pelos próximos meses, estou propenso a não frequentar bares que tenham apenas uma via de entrada e saida; a não ficar de costas para a rua; a querer distância de carros suspeitos; e a fugir de quaisquer três listas que não sejam da adidas.

e paranóico é a puta que vos pariu!

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