Um ato de submissão espiritual
Toni Bentley: "Se não consigo, fico triste, chorosa, solitária, infeliz"
A bailarina Toni Bentley dançou na companhia George Balanchine, de Nova York, durante 10 anos. Até o ano passado, ela tinha uma segunda carreira bem sucedida – a de escritora de livros sobre dança, que descrevem as agonias e sacrifícios de quem se submete aos rigores do balé. Aos 21 anos, publicou o que a crítica norte-americana considerou um dos melhores livros sobre dança já escritos, e foi co-autora da auto-biografia da também bailarina Suzanne Farrell.
Foi, no entanto, com um relato pessoal sobre a opção preferencial pela prática de sexo anal, no livro “A entrega – memórias eróticas”, que Bentley chegou ao topo. Escolhido pelo jornal “The New York Times” entre os 100 mais notáveis do ano de 2004, e pela “Publishers Weekly” como um dos melhores lançamentos daquele ano, “A entrega” está sendo lançado no Brasil pela Editora Objetiva no rastro de uma série de publicações nas quais mulheres exploram suas vivências eróticas para, supostamente, fazer delas material literário. O que diferencia “A entrega” é o mérito de ser uma narrativa inteligente sobre um tema tabu.
O tabu alimentou o interesse da sociedade norte-americana sobre o livro e o transformou em polêmica. Escrito na primeira pessoa, o texto contabiliza mais de 200 vezes de prática de sexo anal na vida de Toni e ainda associa o vigor físico da prática do balé ao seu preparo para as jornadas de horas de sexo. Ícone de submissão feminina plena, o sexo anal é defendido por Toni como o caminho para o encontro com si mesma, a libertação dos ideais feministas de emancipação, o prazer absoluto da entrega, através do qual se pode aprender a ser amada. Um assumido exibicionismo serve como justificativa para o livro, que ela diz ter sido “escrito para si própria”. “Ninguém ficou mais surpresa do que eu quando me descobri nesse caminho”, diz ela. É sobre essa experiência aparentemente tão redentora que Toni Bentley falou nesta entrevista:
O que motivou sua decisão de relatar sua experiência pessoal com o sexo anal? Por que você optou por um relato tão pessoal e na primeira pessoa?
Eu queria registrar, em primeiro lugar, para mim mesma, a extraordinária experiência que eu estava tendo - para entender, testemunhar e preservá-la. Eu nunca considerei não usar a primeira pessoa. Eu queria contar a verdade, sem disfarces, sobre o que aconteceu comigo.
No livro, você afirma que o sexo anal "reordena o equilíbrio de uma mulher com poder demais". Você acha que sexo anal é uma forma saudável ou necessária de submissão feminina?
É claro que não é necessário para a mulher fazer sexo anal ou ser submissa! É uma escolha - e foi isso que a liberação da mulher nos deu: a escolha de dominar, de ser submissa, de fazer sexo anal ou a escolha de nunca fazer nenhum tipo de sexo. O sexo anal foi o centro de um profundo caso de amor que eu tive; então, para mim foi uma escolha. Meu livro não defende o sexo anal. Eu simplesmente queria contar a minha história.
Uma das suas críticas é ao movimento feminista e as mulheres independentes. Você se decepcionou com a emancipação? Por que?
Não, eu não me decepcionei com o feminismo – nós trilhamos um caminho longo e necessário. Mas a jornada das mulheres para a liberdade real, para definir essa liberdade, para o autoconhecimento e o poder é constante e fascinante. Eu não estou, no entanto, interessada no comportamento chamado "politicamente correto", que dita qual tipo de roupa, sapato, maquiagem ou sexo é emancipado ou não. Eu mesma quero escolher, essa é a liberação real. Eu adoro batom, roupas dramáticas e submissão sexual de vez em quando.
Você associa sexo anal a transgressão, superação de barreiras, à superação de medos. Pode explicar como essas duas coisas se relacionam?
O sexo anal nunca deixará de ser um tabu, nunca será considerado comum. Portanto, sempre terá o poder de transgressão para aqueles que se interessam. Eu me interesso pela transgressão como meio de autoconhecimento. Além disso, também pode ser muito divertido!
Você afirma que o treinamento de bailarina clássica foi fundamental para a sua boa prática de sexo anal. Como?
Eu não sei exatamente como, mas eu acredito que há uma ligação com o que eu aprendi, desde muito cedo, com a dança: através do corpo, a pessoa pode alcançar a transcendência do próprio ego.
Apesar de toda a liberação sexual, o seu relato é de uma mulher emocionalmente frágil, insegura, infeliz, que passa pela entrega total no sexo anal para se encontrar consigo mesma. Você acredita que está mais madura após a experiência relatada no livro?
Eu não sei se estou mais "madura", mas eu estou diferente, maior, mais livre, um pouco mais sábia, e meu senso de humor e ironia aumentaram consideravelmente!
Você reconhece que o sexo anal ainda é um enorme tabu na sociedade americana. Conte como foi a recepção do seu livro nos EUA.
Por um lado, é um milagre que o livro tenha sido publicado na América de Bush. Iinicialmente foi rejeitado por alguns editores, mas Judith Reagan é uma editora muito ousada e corajosa e aceitou. Teve uma grande repercussão, especialmente no “New York Times”, o que me entusiasmou e me surpreendeu. Por outro lado, meu livro deixa algumas pessoas, especialmente feministas declaradas, muito nervosas, enquanto os homens simplesmente adoram. Mostrou também que os americanos têm uma atitude nada sofisticada em relação ao sexo em geral. Na Itália, por exemplo, o livro entrou para a lista de best-sellers e foi levado a sério de uma forma que seria impossível o público americano levar. Acima de tudo, tem sido uma experiência maravilhosa, surpreendente e fascinante.
Carla Rodrigues, in no mínimo.
Michele Mattei
Trechos do livro “A entrega”
“Sexo anal é sexo? Fico pensando sobre isso. Minha conexão com ele é antes de mais nada penetrativa e, especificamente, anal. Isso é sexo? Ou meramente um ato de submissão espiritual, de submissão divina?”
“Meu orgasmo com ele é um ato de doação e abertura. Com outros é contenção, uma batalha de controle. No passado, alcancei o orgasmo por meio da paradoxal experiência de manter o controle de meu prazer durante todo o tempo que meu orgasmo, que tem vida própria, desejar para sua realização.”
“Sou uma viciada anal, mas apenas com ele. Quero isso consistentemente, freqüentemente, repetitivamente, ritualmente e, se não consigo, fico triste, chorosa, solitária, pesarosa, infeliz, nervosa, incrédula e deprimida. Quero injetá-lo em mim. Apenas a sua penetração em meu cu escava meu medo e restaura minha fé, a fé que ele criou.”
“Sexo vaginal é preliminar. Às vezes, ele salta a boceta e vai direto para o cu, o que é realmente sacana, apenas o cu – a fase final. Mas normalmente ele come a boceta primeiro. Quando ele me penetra, sinto-o empurrar o colo do meu útero, para dentro do colo do meu útero, e isso sempre me surpreende. Entro na Zona de Liberação. Ás vezes, ele chega tão fundo lá dentro e depois começa a pulsar, com empurrões pequenos e experientes, empurrando minhas paredes para fora, para cima, ainda mais dentro de meu ser. Cada empurrão quer mais e ganha mais. Esse é o início da magnitude, um estado em que o corpo, desejando, suplica sem cessar. As ondas de prazer rolam vagarosamente, depois mais rapidamente, mas nunca param. Auge após auge, muitos podem supor que esses já são os melhores de todos, até transcendentes. Mas ele e eu somos insaciáveis e sabemos onde buscar mais.”
Tradução de Carolina Medeiros
até no país onde a bunda é preferência nacional, tomar no cu não é preferência da maioria para além da xingação.
entre fantasias e jogos de mitificação e desmitificação há uma distância mais do que clitoriana peniana entre o desejo e concretização do orificio desejado ao nível do desejável, para ambos.
submissão ou sub ou super permissão? transcendência ou trangressão ?
não são estas as questões na hora do “vamo ver”, pelo menos colocadas de quatro conscientemente. pois todo sexo enquanto governado pela cabeça é uma merda.
mas ainda assim a quem goze com isso. e não goze pelo sexo em sí.
a verdade é que grande maioria não goza por nenhuma das vias.
e muita gente reza apenas pra não ajoelhar.
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