domingo, novembro 27, 2005

a culpa é da publicidade( da má)

A CAMADA DE OZÔNIO DIMINUIU? CULPA DA PUBLICIDADE.
SEU TIO DEU PARA BEBER? CULPA DA PUBLICIDADE.
O FLAMENGO NÃO TEM TIME.CULPA DA PUBLICIDADE?

Vamos dizer de cara ao leitor: somos a favor da publicidade. Mais: nós amamos a publicidade. Ela fortalece marcas, informa o consumidor, aumenta vendas, cria empregos, gera riqueza. Mas não viemos aqui fazer publicidade da publicidade.

Nosso foco de interesse, como o próprio nome, Clube de Criação de S. Paulo, deixa claro, é a Criação.

Como esses profissionais, a despeito de todas as dificuldades, do pouco prazo, dos orçamentos pequenos, das enormes dúvidas dos clientes e da avalanche das pesquisas, conseguem colocar no ar comerciais brilhantes.

Mas você deve ter reparado: esses comerciais brilhantes estão cada vez mais raros.
Culpa dos nossos criadores? Parece não ser, pois o Brasil continua se destacando como nunca nos festivais internacionais.

Somos a terceira potência mundial em Criação, atrás apenas dos EUA e Inglaterra, mesmo dispondo de verbas terceiro-mundistas e criando em português.

Então, o que está acontecendo?

Isso não é uma desculpa, é um diagnóstico: a Criação está sob ataque.

Primeiro, sob ataque de briefings e estratégias de marketing banais, iguais, sem ousadia, elaborados numa moldura por profissionais que parecem entender muito de MBAs e pouco da vida.

Segundo, sob ataque da insegurança de clientes que, tirando as honrosas exceções, se escondem atrás de pesquisas e mais pesquisas para recusar idéias ousadas e veicular publicidade convencional.

(Essa sim, a maior inimiga do nosso negócio: aquela que irrita o consumidor, invadindo sua casa para tagarelar mesmices e ofender sua inteligência.)

Agora vem o pior dos ataques: o do politicamente correto. Não se pode mais gozar de ninguém, não se pode rir de nada, não se pode usar nenhum grupo ou atividade, sem que alguém se sinta ofendido e queira tirar o comercial do ar.

Relembremos dois comerciais inesquecíveis da nossa publicidade: “Hitler”, da Folha de S. Paulo, e “Primeiro Sutiã”, da Valisère. O que aconteceria com eles hoje?

Imagine “Hitler” sendo submetido a pesquisa: “O que? Hitler? Eu odeio esse homem e não quero que meus filhos vejam seu rosto na TV!”.

Ou: “Você quer usar o maior tirano de todos os tempos para vender um jornal liberal?”

Pau. Gaveta. Próximo ?

“O Primeiro Sutiã”, então, coitado, nem iria para pesquisa. Seria recusado por ser sexista, por explorar a sensualidade de menores, processado pelo fabricante de almofadas pelo fato da menina jogar a sua displicentemente na cama.

A onda do politicamente correto faz as pessoas se sentirem ofendidas pelos
motivos mais estapafúrdios.

Grupos de ilusionistas reclamam de efeitos especiais. Entidades de defesa dos
animais denunciam maus-tratos a bichinhos criados em computador. Chegamos ao cúmulo de uma associação de palhaços reclamar da utilização da expressão “palhaço” em um comercial, por considerar ofensiva.

E, como nada está tão ruim que não possa piorar, essa loucura virou uma grande mina de ouro para advogados entrarem com processos e recursos, exigindo até reparação financeira para seus indefesos clientes.

Seria cômico se não fosse nauseante.

Não pensem que somos um bando de engraçadinhos irresponsáveis, que perdem a credibilidade mas não perdem a piada.

Foram os próprios publicitários que criaram o Conar, o Conselho de Auto-
Regulamentação Publicitária. Para que existisse um canal onde quem se sentisse atingido, ofendido ou enganado pudesse pedir a suspensão do comercial.

E ele vem cumprindo bem esse papel: em 77% dos casos o Conar julgou que o Cliente tinha razão. Em 100% deles, a campanha foi cancelada.

Por isso mesmo, pedimos, em nome da Criação brasileira: gente, o mínimo de
bom senso.

Por favor, não peçam para que a Escolinha do Professor Raimundo saia do ar
porque faz piadas com portugueses.

Não peçam para a torcida parar de xingar o juiz de ladrão, porque ele provou
em cartório não ter antecedentes criminais.

Não peçam que Hollywood deixe de filmar “Tubarão” porque o bicho morde um prefeito judeu.

Caso contrário, já, já, rir de um comercial será motivo suficiente para tirá-lo
do ar.

E desculpe se algum torcedor do Flamengo se sentiu ofendido pelo título. Mas
que isso não seja motivo para nos processar nem pedir a suspensão do anúncio.

Mesmo porque, time, que é bom, ele não tem mesmo.

(último anúncio para/do CCSP)

2 comentários:

Alex Camilo disse...

A ditadura do politicamente correto... Minha saliva evaporou de tanto combater esse mal desgraçado. Eu não sei porque os brasileiros escolhemos sempre os piores modelos pra seguir. Um exemplo craço da multiplicação dessa ética hipócrita e idiota é aquela vinhetinha irritante e também hipócrita, que vemos na MTV diariamente. 5 minutos de cartela preta, um ruidozinho nojento de fora do ar e a fatídica frase: "desligue a TV e vá ler um livro". Cara, nada contra ler um livro ou muito menos desligar a TV, sou viciado, obsecado por leitura. Mas o máximo que aquilo pode fazer é irritar quem sabe que a MTV, que até já têve conteudos mais nobres e edificantes agora só vive reproduzindo os enlatados da pior MTV do mundo. Já tivemos a melhor Music Television do planeta, com VJs que sabiam o que diziam e programas que tinha o objetivo de abrir o debate e mente dos jovens brasileiros tão carentes de educação e leitura. O pior do politicamente correto é justamente isso, quem prega essa ética é que a quebra com mais força. Estão querendo acabar com todas as chances dos seres humanos poderem conviver com o mínimo de bom humor e sinceridade. Mas que bom, o povão mesmo tá cagando e andando e nós, classe média politicamente correta, morremos de nojo e medo de admitir que também nos divertimos com o som de Tati Quebra Barraco, com as apelações de Jonh Kleber, com as piadas de mau gosto de Tom Cavalcanti. Acho que já falei demai, uma abraço, já está dada a descarga.

celso muniz disse...

e não sou eu que vou passar perfumado alex. bem vindo a nossa quase cloaca. aqui a sinceridade é tanta que, equivocada ou não, a coisa fede na maioria das vezes.