quarta-feira, novembro 23, 2005

quarta ah portuguêsa: uma fotografia do príncipe sobre o reino

• Dom João Henrique Maria Gabriel Gonzaga de Orleans e Bragança nasceu em 25 de abril de 1954
• É o único filho e herdeiro do príncipe dom João Maria, falecido este ano, e da princesa Fátima Chirine, falecida em 1990
• Casado com dona Stella, tem dois filhos, João Phillipe e Maria Christina
• Possui negócios imobiliários em Paraty(interior do Rio de Janeiro) onde se dedica a causas ambientais

Dom João de Orleans e Bragança. A bronca do príncipe

Irritado com a crise ética, o rosto mais popular da monarquia brasileira ataca políticos e diz que honesto mesmo era dom Pedro II, seu trisavô.

Nas veias do príncipe dom João de Orleans e Bragança corre sangue azul, mas sua indignação com os rumos do País é igual a de um plebeu. Oscila entre a profunda decepção e a esperança. Tataraneto de dom Pedro II e bisneto da princesa Isabel, dom João de Orleans e Bragança, 51 anos, aprendeu com o pai, o também príncipe dom João Maria de Orleans e Bragança, a amar o Brasil sobre todas as coisas. Falecido este ano, dom João Maria nasceu no exílio na França e quando pôde regressar ao Brasil quis vestir a farda das Forças Armadas como sinal de devotado patriotismo. Dom João não se furta a cumprir uma agenda de solenidades que exijam sua presença, como visitar, na terça-feira 15, ao lado de diplomatas brasileiros, a Igreja da Lapa, na cidade do Porto, em Portugal. É lá que está uma relíquia, o coração de dom Pedro I. O imperador está enterrado no Brasil, mas seu coração ficou no Porto, cidade que o acolheu quando retornou a Portugal. Da cidade do Porto, dom João falou longamente ao telefone a Isto É, revelando um engajamento surpreendente para quem o via apenas como bom fotógrafo e surfista bissexto. Mesmo chicoteando políticos e reverberando princípios éticos segundo ele herdados de dom Pedro II, o príncipe não esquece o ofício de fotógrafo. Falou brevemente da mostra de 22 fotos que inaugura no Rio de Janeiro ainda este mês. São registros em preto-e-branco do Siwa, um dos oásis mais famosos do Egito, onde ele esteve em janeiro deste ano. Apresentou a sua família a terra de sua mãe, a princesa egípcia dona Fátima Chirine.

ISTOÉ – De certa forma o Egito lembra o Brasil, não?
Dom João – Sim. É um país fascinante, muito alegre. Eu ainda tenho família lá, primos e tias. A população é muito cordial, hospitaleira, fala com você, mesmo que não o conheça. Esta é uma característica muito nossa.

ISTOÉ – São países também similares na pobreza?
Dom João – Em todos os lugares em que vou, pergunto sobre a realidade política local. No Egito, eu perguntava se havia democracia. A elite, que é muito dependente do poder, dizia que sim. Mas você pode criticar o presidente? Não. Então que democracia é essa? Daí eu contava com muito orgulho sobre o nosso processo de democratização. Nós tivemos 21 anos de regime militar e depois todas as lideranças que voltaram são governadores, deputados e houve até presidente. Contava com muito orgulho que temos liberdade total de expressão, liberdade política. A nossa grande diferença hoje é a democracia.

ISTOÉ – Nesta semana se comemorou a proclamação da República no Brasil. Há 116 anos, começava o exílio de dom Pedro II.
Dom João – A nossa família viveu o maior exílio político da história brasileira, de 33 anos. Foi um exílio imposto por um governo militar, não foi um exílio imposto pelo povo. Na época do império, ainda com dom Pedro II, havia total liberdade de imprensa, de expressão e política. Poucas pessoas se dão conta disso.

ISTOÉ – No exílio, dom Pedro II jamais aceitou ajuda do governo republicano?
Dom João – O governo militar brasileiro sabia da dedicação de dom Pedro ao Brasil e que ele não tinha bens de espécie alguma. Eu sempre achei que a função do homem público não é ficar rico, mas se dedicar ao bem público. E dom Pedro II talvez tenha sido o brasileiro que mais defendeu o dinheiro público. No exílio recebeu uma carta do governo brasileiro, dizendo que ele passaria a ter direito a uma pensão anual. Ele respondeu: “Agradeço ao novo governo do meu país, mas não posso receber um dinheiro do Brasil sem estar servindo à nação brasileira. E desejo sucesso ao novo governo de meu país.” Até hoje, as pessoas me perguntam: “Você tem orgulho desta atitude?” Não, eu não tenho orgulho. Ele fez o que qualquer homem público deve fazer. Não devemos sentir orgulho de agir corretamente. Temos que ter vergonha de agir incorretamente. Dom Pedro queria o bem do Brasil. Gastos supérfluos, nas palavras dele, significavam furto à Nação. Ele era um dos maiores controladores de gastos públicos. Alguns embaixadores que o visitavam perguntavam como ele, imperador de um país tão grande, tão rico, vivia num palácio tão pequeno e humilde. Ele dizia que o imperador não precisa ter palácio grande e todos os bens devem ser revertidos para a nação.

ISTOÉ – A que o sr. atribui este espírito?
Dom João – A ter sido educado a amar e, mais que amar, respeitar um país. No exílio, ele pediu para ser enterrado com um travesseiro com terra brasileira. O professor Darcy Ribeiro (1922-1997) me disse que ele foi um dos maiores progressistas de seu tempo. Que já tinha idéias de esquerda. Ele iria implantar a reforma agrária no País, num grande projeto do engenheiro André Rebouças. Tinha um projeto de reforma agrária para viabilizar a inserção social de toda a população negra. Ele sempre foi contra a escravidão. Ele dava o exemplo, pagava a alforria dos escravos e salário para os escravos. Quando a princesa Isabel libertou os escravos, boa parte da elite não perdoou, porque queria ser indenizada. Foi o mote para os republicanos chegarem ao poder.

ISTOÉ – O exemplo ético de dom Pedro II parece que não resistiu ao tempo.
Dom João – O Brasil tem que vir em primeiro lugar em tudo. Corrupção não é novidade. Desde que o mundo é mundo existe corrupção, roubo, má administração. Não é um privilégio do Brasil. O que me preocupa é a tolerância da população a isso. Eu queria ver como seria o que está acontecendo se a capital fosse no Rio ou em São Paulo. Quantos milhares de pessoas estariam na rua? Brasília, por ser uma cidade dependente do serviço público, não contribui para a ocorrência de manifestação popular. Todo o entorno de Brasília já não ajuda muito a cidadania e a manifestação democrática. Há sem dúvida uma decepção com a classe política. Só tem uma coisa que pode mudar isso. Fazer leis. Acabar com prisão especial para políticos e para quem tem nível superior. Por que isso, por que esse privilégio? Você tem que acabar com tantos casos de crimes que no meio do processo já caducam, como o que está acontecendo com Paulo Maluf, ex-governador de São Paulo. Acabar com os ritos processuais tão lentos em que as pessoas ficam impunes. Acabar com o número enorme de protelamentos. Isso vai mudar brutalmente o quadro, vai atrair mais idealistas para a vida pública do que fazedores de negócios.

por celso fonseca, na isto é.

muito político tuga minimamente interessado em que o príncipe" fotografe" portugal. salamaleques e sorrisos só pra fotos do exterior.

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