receita das nossas sobremesas na tv local, após mangue com colorau* é: muita música ruim, muita bunda ruim, muita barriga, obesa, de fora, muitos peitos e cabelos esvoaçantes, muito kamasutra coreografado, incluindo quase zoon no cuum e muita, mas muita mesmo, cara com cara de gente que tem cara de pau. riso de aparelhos e apresentadores que fazem o tipo, reserva do reserva do reserva no quesito terceiro time de passarela.
os que podem ver, não fecham olhos. os que não podem ou exercitam um minuto às cegas, devem achar a salada de frutas a maior roubada, daquelas do tipo “ dez frutas”; e tome, banana e laranja, laranja, laranja, laranja, laranja,laranja, laranja, laranja, laranja, tamanha parecência das bandas entre si.
dos backs balés as protagonistas, singers mais para elgin do que para cantoras, tamanhas máquinas de grasnados quase pré-coito em que tudo gira às voltas com dor de corno, de um jeito ou de outro. o que acaba por vitimar, mesmo quem vive por tal dieta, com dores na cabeça, mochas de outras programações.
a receita da salada é: garota e garoto cantando e dois casais as costas buzanfando esgrimas corporais mais manjadas do que desfile de tanques no sete de setembro, aliás, cavalaria faz melhor. enquanto a ala feminina da cantoria sempre ensaia mesma coreografia com apresentador. sim, todos dão beijinhos para câmara. se a camara focar trocentas vezes, trocentos beijinhos. e haja celulares a mistura para serem sorteados nos alôs, alôs, guess who? exclusividade e versatilidade de quatro canais. antes até na tv universitária tinha. como tinha tinha é pior que lepra, mudou de endereço.
mas pasmem! vida inteligente há na televisão na hora do almoço, para quem almoça. sopa diária é servida. estética de bandejão universitário, princípios de difusão democratizados com imersão e inclusão social, pitadas de terceiro-mundanismo dos trópicos maneiristas, mas com idéias. só que sem sal. regime de emissão e recepção, com audiência dos manos véios, sem possibilidades maiores de hipertesão benigna, para além da fissuração das tribos nascedouras à extinção.
de há muito que o broadcasting é show e business. não observar tal princípio, o que de maneira nenhuma significa desvirtuar princípios, é reduzir bastante as possibilidades.
roger de renoir funciona na base do anti-timing televisivo, sabe véio, o que pode ser deveras salutar.
mas televisão é como cenário de televisão. o cenografado é sempre melhor que o real. e a falta de direção, apesar dos créditos, faz com que sua catatonia e disposição sofra vácuos que soam peidinhos e engasgos fora de hora. afinal, pra fazer redondo dentro da telinha quadrada ou agora retangular, tem que azeitar a máquina para além de vipes e vips, que são tratados da mesma maneira que ilustres desconhecidos, com a diferença de parecerem mais naturais, tamanha cancha nas performances.
sopa diária tem o método de ser a anti-salada-de-frutas do movimento musical local que gira em torno do pagode e do axé-bunda-music. e, como toda sopa que se preze, é mistura de tudo um muito pouco que se sustenta. caldo é o caldeamento de diversas tendências e ramificações do movimento musical pernambucano. sabidamente marketizado como o mais rico do país mas que é muito acústico, apesar dos tambores eletrificados, quando se trata de fazer barulho para chamar a atenção em massa da população consumidora e ouvidora. prova disso é que ninguém pirateia o segmento.
aliás o equívoco desta falsa agudeza no também pseudodesvendamento do mecanismo da propaganda cultural ou anti-cultura sistêmica está presente na letra da música “propaganda”. propaganda pode ser capitalista como pode ser socialista ou nacional socialista ou maoista, e demais ismos e erres e esses que quiserem.
como pode ser ferramenta beat. para alavancar movimentos manguezais, canaviais, macacheirais que, nascendo de resistência, devem ter esta mesma resistência amplificada para evitar ser o som do gueto ou da mesma burguesia cujo roncos da barriga que frequentam o sopa querem combater. consciente ou inconscientemente. e isto já é o que acontece. já que é mais fácil francês e suíço ter os discos de gente que frequenta o roger do que pernambucano que passa o dial pela renoir.
nisto, o sopa diária, formato muito tudo pode ser mais que descontração autêntica de per si quase afetada, mais amadora. potencializando seus microfones para serem megafones de conteúdos culturais revitalizantes.
desde que haja a compreensão de que a linguagem da televisão pede um andamento onde até mesmo a descontração verdadeira necessita de ser cenografada para tornar-se mais efetiva e contagiante. joão gordo, “ vendido ao sistema” já é quase mestre no seu timing. mas, comprimido pelo rótulo mtv, tem mais qsp do que efeito para além da tchurma mtviana.
não se pede que renoir torne-se serginho groissman. apenas que, da cadeira de balanço dos entrevistados, ao som das bandas ao lado, não se perca o balanço ou que o balanço seja melhor xaxeado, e não caqueado.
ou seja, sopa na cabeça, mas prato, mesmo que popular, cuidado. não tem que ser rendada a toalha de mesa. pode e deve ser até de plástico tipo cortina de box do um e noventa e nove. mas molejo no tamborete. açucar na mariola, gelo no refresco e pimenta à gosto. farinheira e água a postos para evitar engasgos, pão para molhar a sustança não pode ser dormido, a menos que sirva pudim de pão.
do ponto de vista popular ou pseudo popular, pode soar bastante elitista a visão sobre o movimento axé-bunda-music local ou mesmo um tanto preconceituoso. afinal, não deixa de ser libertário camadas e camadas de água oxigenada, estrias e celulites, corpos de mal com a balança mandando ver o balança pança, com livre acesso as tvs onde se acotovelam modelos com cara de travesti e gesso. ou quibundas retocadas a ponta de bisturis no crediário de plantão. e tudo o mais que já se conhece manietam langeries e tratamentos outros para manter audiência.
certo. mas cultura popular não é isto. isto é diluição de aproveitamento maquinado de sensaboria trabalhada como meio de vida para espertalhões que prostituem o que poderia ter sido um movimento. e que a máquina comercial das televisões locais que tanto abanam a cabeça no sim a defesa da nossa cultura alocam ao horário. mas me lembram cines do arouche que já há vinte anos atrás misturavam filmes pornos com kung fus a preço de meia punheta. e o horário catártico está assim: programas policiais, o sofrimento e depois a catarse, o quase prazer. ou seria a catarse antes e o sofrimento depois ? fato é que ver o bom e velho canastrão assumido, por isso mesmo de altíssimo grau de autenticidade, reginaldo cantando dor de corno é uma coisa, melhor só cauby, outra estas bandinhas que só chegam a ser bandonas quanto tem bundonas.
e se pra você nada ficou claro, pense que uma gelatinazinha de vem em quando é ótimo. mesmo da muito vagabunda. mas sobremesa desta, todo dia, ninguém guenta. nem mesmo se pavê de silicone. inda mais fazer disto refeição e não complemento, vá lá.
agora, sopa, alimenta e tem sustança. mesmo sem sal. mata a fome. e por isso você come todo dia porque precisa ficar de pé, pra manter a resistência zen.
só que com sal, não pode ser demais - olha a hipertensão, você toma sem fazer beicinho. e sem o apresentador enfiar goela a dentro na base do olha o aviãozinho deixando a gente com gosto de melado.
com mais tempêro, ne não véio ? até môsca vira filé.
sirvam-se e sirva-se até ao dr. nirvana.
* veja post, da terça, sangue não é colorau, moçada.
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