no chão, entre raízes de inseto, esma e cisca o sabiá.
é um sabiá de terreiro.
até junto de casa, nos poldres dos baldrames, vem apanhar grilos gordos.
no remexer do cisco adquire experiência de restolho.
tem uma dimensão além pássaro, ele!
talvez um desvio de poeta na voz.
influi na doçura de seu canto o gosto que pratica de ser uma pequena coisa infinita no chão.
nas fendas do insignificante ele procura grão de sol.
a essa vida em larvas que lateja debaixo das árvores o sabiá se entrega.
aqui desabrocham corolas de jias!
aqui apodrecem os vôos.
sua pequena voz se umedece de ínfimos adornos.
seu canto é o o próprio sol tocado na flauta!
serve de econto pros corgos.
do barranco uma rã lhe entarda os olhos.
este ente constrói o álacre.
é intenso e gárrulo: como quem visse a aba verde das horas.
é ínvio e ardente o que o sabiá não diz.
e tem a espessura de amor.
sabiá com trevas, manoel de barros, poeta do mato grosso do sul.
millor, na sexta-feira 8/11/85, em sua coluna de opinião do jornal do brasil.
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