“Quero que os lobos da mídia fiquem longe de mim”, disse à torre de controle o piloto Scott Burke, da companhia aérea Jet Blue, enquanto ainda preparava a aeronave que comandava para uma aterrisagem forçada no aeroporto de Los Angeles. Por quê o piloto americano temia tanto a mídia? Por quê recusava o papel de herói, tão prezado em seu país, caso fosse bem sucedido na aterrisagem, como se confirmou em seguida? Por quê classificou os jornalistas de lobos?
Sem a resposta direta de Burke, nos resta interpretar o que estaria por trás de sua declaração. O temor à mídia poderia derivar da falta de confiança no comportamento dos meios de comunicação. Quase 40% dos americanos achavam a imprensa imoral em pesquisa encerrada em 2002, antes da guerra do Iraque. Com as mentiras sustentadas pelos jornais para justificar o conflito que se estende até hoje, sem solução à vista, é bem possível que tal percentual tenha se elevado.
A mídia pró-Bush e o conto das armas de destruição em massa vêm aumentando a falta de confiança dos americanos na imprensa. Mas este não é um problema exclusivo do nosso grande vizinho do norte. Ele está presente em todo o mundo, como se viu também no caso da BBC, em Londres, e como lemos, ouvimos e assistimos, diariamente no Brasil.
O mau comportamento da mídia tem diversos matizes. O mais danoso é o de caráter ideológico, do qual Lula e Chávez são, provavelmente, as maiores vítimas na atualidade. Na crise política brasileira, a mídia se vale de erros flagrados no governo petista para desclassificar todos os envolvidos com a história do partido, sejam militantes ou simpatizantes, e corroborar a já notória declaração do senador pefelista Jorge Bornhausen: “a gente vai se ver livre dessa raça por pelo menos 30 anos”.
No afã de “se livrar dessa raça”, agora representada pelo PT, mas na história política brasileira personificada em outras personalidades, como Getúlio, Jango e Brizola, vale tudo. A mídia perde completamente os seus parâmetros e incorre em erros frequentes. De apuração, de critério e de edição. Tudo isso vai minando sua credibilidade e justificando declarações como a do piloto da Jet Blue.
Outro aspecto relevante dos erros midiáticos é sua tendência ao linchamento e intromissão na vida privada das pessoas. O fato de determinada pessoa ter vida pública não permite à imprensa entrar e investigar todos os aspectos de sua vida, como seus amores e seus hábitos pessoais. Tais elementos podem ficar a cargo de biógrafos, mas não se justificam, salvo algumas exceções, no dia-a-dia da cobertura jornalística. Nesta invasão de privacidade, a mídia, com freqüência, torna-se hipócrita e moralista e distancia-se da realidade da maioria dos cidadãos.
Se o piloto americano não tivesse sido bem sucedido na aterrisagem talvez fosse execrado e isso pode ter lhe ocorrido. Mas o pedido para que a mídia ficasse afastada poderia ter sido feito após a manobra final, quando, certamente, mereceria dos meios de comunicação a aura de herói. Qualquer que tenha sido a razão de Scott Burke, sua declaração deve servir de motivo de reflexão para todos os envolvidos no ofício jornalístico.
Texto publicado originariamente no Direto da Redação
(*) Mair Pena Neto trabalhou no O Globo, JB e Agência Estado. Foi correspondente da F-1 em Londres, por 3 anos. Foi editor de política do JB e repórter especial de economia.
lobos da mídia ? farpa do preconceito ? ideologia internalizada em fábulas e afins, que exploram o lobo, semântica e semioticamente, como paradigma do homem que arranca nacos, principalmente da dignidade,do próprio homem ?
apesar das suas unhas grandes e afiadas a mídia é feita de animais que nada em comum tem com os lobos, cujas alcatéias beiram extinção. tivesse o homem princípios de socialização e regras de comportamento lobistas, não confunfir com lobbystas, e a imprensa não era este cadáver de caráteres que anda solto por aí a revirar mortos e feridos pra deleite das suas manchetes que expoem fraturas mas nunca causas.
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