quarta-feira, março 01, 2006

quarta ah portuguêsa: bang bang nas novelas dos dois lados

o apíce do reconhecimento a uma novela brasileira mede-se por sua repercussão na china, onde a escrava isaura, poderia até ter-se candidatado ao comitê central.
porém, novela nenhuma parou um país. como o fez gabriela, em portugal. aonde as ruas ficavam desertas quartos de hora antes do capítulo diário.

ainda que permaneça a dúvida, isto é dito em forma de chiste, entre a performance de um elenco fenômenal, numa história acima da média do próprio jorge amado, e um feitio competente até dizer basta, quem não mudaria o trajeto para ver a sonia braga subindo ao telhado, ainda que não segurasse a escada? até as mulheres, diriam. os tempos eram outros. portugal estava começando a ser outro. e a bunda da gabriela, também ela, era outra. e que outra.

reações houveram. até com chamadas de temperos prosaicos e xenófobos, a produção portuguesa de novelas em “ bom português” como incitaram algumas chamadas ou genéricos, como lá dir-se-ia, procurando equilibrar a importação que continua. porém com teor arrefecido ou, traduzindo em bom português de cá: já não se fazem mais novelas como antigamente. apesar da belíssima, de belíssimo ibope, mas sem o charme de uma belíssima novela.

tempos passaram e chegamos ao fiasco de banb-bang no brasil. antes, tivemos, no brasil a importação de novelas portuguêsas, made in nicolau breyner. menos por seu teor qualitativo e mais por uma questão de economia de mercado. e quando me refiro a teor qualitativo sirvo-lhes por cima da entrada explicação. as novelas portuguesas são ruins – a maioria muito ruim mesmo – simplesmente porque não são novelas de televisão. são uma espécie de tele-teatro. por aqui também já feito nos anos 60. sem a essência da linguagem de representação para televisão de fond en comble. a falta de intimidade como a essência de representação para o meio vitimou, pelo over acting, respeitável dama do teatro, cuja atuação completamente impostada acabava por igualar-se também a dos mais jovens. que ainda por cima achatavam-se com o desconhecimento para ambos os lados da gramática de câmera que parece não ter sido aprendida com anos à fio das congêneres brasileiras(globo) que começaram imitando as mexicanas e que por isso mesmo dão a deixa de que as portuguêsas mais dia menos dia vão chegar lá, tendo como exemplo a seguir melhor, disparado, produto.

- a camêra de televisão, nos aspira e nos asperge de maneira diferente da de cinema, e exige uma construção de interpretação profundamente descartável, nem por isso menos sincera que a teatral. vítima de preconceito descabido, os atores que fizeram a transposição para o meio, acabaram por aperfeiçoá-lo em níveis que hoje vemos. não sabemos se isto aconteceu em portugal. mais uma coisa acontece. as novelas são pouco ou nada interativas. e um certo conservadorismo impede a crítica da sociedade com base nestes mesmos instrumentos, afirmando-se uma certa preferência por novelas de época, de resto também detectadas como as preferidas para o horário das seis( da globo) o que facilitou o sucesso de novelas da record, que não chegam a ser " a manchete " da hora.

exibidas por aqui, as novelas portuguesas sofreram o ultraje ou o achincalhe de serem dubladas, como já se não bastasse o handcap da comparação sensorial com a estruturação dinâmica e gramatical das nossas, infinitamente superiores, pelo menos por enquanto.

a dublagem, além do desrespeito cria um hiato na organicidade de tempos e pausas, para além do distanciamento aos figurinos e cenários distoantes, assentidos como cafonas, bregas, pirosos, contribuindo para dar ao produto novela portuguesa um carimbo de produto de segunda, exibido por emissôras de segunda, num horário de segunda. estas novelas não mereciam isto. e nisto a responsabilidade social se houvesse deveria ter pago o preço de exibí-las sem dublagem. contribuindo para a diminuição da distância entre sonoridades e sua compreensão. o que ainda hoje verifica-se num certo ar de riso manifesto pela estupidez de quem rí do fato. alguns vocábulos sem imediato entendimento, alguns períodos, algumas reações, preço muito barato para iniciar-se o intercâmbio mais descobridor entre povos que se dizem irmãos. mas que assim não agem imediatamente ao descobrir que até podemos ser irmãos, mas não gêmeos. como se mesmo gêmeos, univitelinos até, não pudessem ser diferentes, para riqueza de ambos.

perdemos nós por cá, portugal perdeu por lá, a oportunidade de explorar melhor a mão de walter avancini, um artífice perfeccionista do produto. talvez por seu feitio. mas em matéria de feitio, nicolau também não faz feio. o que lhe custará atraso significativo. idem também, em menor grau por perder mário prata.

e por falar em mário prata, o grande fiasco em matéria de novela brasileira está sendo a do mário – bang bang - que paga o preço de uma experiência inovadora a quem se atribue texto não capaz de gerar resultados visuais. outrossim, outronão, a maior inovação ao fim e ao cabo parece ter sido ignorar os primados básicos na construção da narrativa, sejam guiados pela arte retórica aristotélica, sejam por princípios outros que desenvolvam a tensão dramática a ser fortalecida no desenvolvimento dos capítulos e não diluídos a exaustão como acontece em bang bang, onde cada capítulo esfumaça-se a sí próprio sem gerar calor sequer para o dia seguinte, guilhoteando o encadeamento diário. quanto mais para uma semana. que parece não passar uma vez que a repetição de gags e piadas é tão pífia quanto a dasmaioria interpretações que arrastam para o fundo atores reconhecidos pela qualidade de sua trajetória.

bang-bang é um belo exemplo de como não fazer, escrever, atuar ou dirigir novela. narrativa frouxa, repleta de citações estéreis, personagens descontruídos a cada instante e onde todos torcem, não pelos personagens, para que a trama acabe o quanto antes – emissora, patrocinadores, atores e público – e cujo fim, ainda mais previsível, já era fava mal contada desde a primeira semana.

não vão pois os portugueses querer agora seguir este. é preferível ficar como estão.

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