A Caras do Reclame, entidade que congrega atores profissionais, veicula em seu site (www.carasdoreclame.ato.br) uma novela fictícia na qual ironiza o mercado publicitário.
Intitulado "A Grande Aventura da Produção de um Filme Publicitário no Brasil ou Como o cachê do ator é massacrado", o texto é dividido em três capítulos e traz fortes ataques à maneira como o mercado brasileiro atua, incluindo citação de bonificação por volume.
Confira a novela da Caras do Reclame:
"Capítulo Um
Silêncio!!!! Uma dupla de gênios esta criando um comercial. É a chamada dupla de criação. O foco é o “produto” e o “público consumidor”, que devem ser reverenciados a qualquer preço! Opa, a qualquer preço não! Paga-se muito bem para os criadores de peças publicitárias: o redator e o diretor de arte - sim caros amigos, para quem não sabe o redator é o que escreve e o diretor de arte cuida do visual do filme. Pasmem! Os gênios de plantão tiveram uma excelente idéia (e às vezes têm mesmo). Saem criações geniais. Às vezes sai muita bobagem, mas quem não faz bobagens nesse mundo?
Bobagem ou não a peça está pronta e precisa ser levada pra “deus” aprovar. Correria e tensão na agência, lay-outs os mais sofisticados, referências etc, etc, etc. Tudo pronto. Os Arcanjos (sim, porque para falar com “deus” só os Arcanjos, os anjos apenas compõem o cortejo), os Arcanjos olham pra campanha, se inspiram, se convencem que estão diante de uma obra digna de ser apresentada ao criador. Vamos abreviar esta parte. “deus” aprovou. Vivas, comemorações, champagne! “deus aprovou, execute-se”. Quem ousará ir contra as ordens e os desígnios de “deus”?
continua no próximo capítulo
Capítulo dois
“deus” aprovou. Agora, a agência de publicidade tomará todas as providências para realizar o projeto. Já sabem quanto estaá destinado para a mídia, os planos já foram feitos e refeitos milhares de vezes antes de serem levados a “deus”, e, com a verba aprovada vão tratar de usar a bonificação por volume (êpa! Que isso? Isso é um assunto complexo... bem... deixa isso pra lá...); enfim, vão tentar maximizar a veiculação do filme.
O RTV da agência vai contratar uma produtora de filmes. É certo que devem mandar o roteiro para pelo menos três produtoras diferentes e assim o filme entra em concorrência. Aliás, tudo neste mercado é concorrência, meus amigos, tudo. Tudo mesmo, e nem sempre, das mais leais. Mas isso é outra história. O RTV ou a RTV que conhece o mercado pensará: “bem, este é um filme de humor refinado, um filme de texto, portanto, vamos precisar de um diretor que saiba dirigir atores e, por conseguinte, saiba fazer um bom casting . Pra filmes de texto, temos o fulano (que conhecemos bem, fará o que o roteiro manda sem grandes invenções), o sicrano (criativo, está surgindo com força no mercado, se vacilar acaba em Hollywood), e o beltrano (Ah! Beltrano é arrogante, chato, mas é competente) Se bem que acho que vou mandar pra “frulano” também. Os caras são especialistas em filmes de multidão, muito grafismo, muita computação etc etc. Vamos ver o que acontece. Quem sabe num aparece por lá uma figura “inédita” pra estrelar o filme.”
Então, o filme vai para quatro produtoras que por sua vez apresentarão seus orçamentos para a agência de publicidade. Tchan, tchan, tchan, tachan !!!! Suspense e emoção. O que será que rolou nas produtoras durante a montagem dos orçamentos ???? Bem, esse é um universo mais próximo de nós, atores e atrizes... Aguardem o próximo capítulo.
continua no próximo capítulo
Atenção: Cadê o Capítulo 3?
Pedimos desculpas aos nossos leitores, mas em função da crise política que colocou a publicidade brasileira no olho do furacão, ficamos sem verbas de patrocínio. Nosso novelista pediu demissão. Mas, garantimos que voltaremos em breve..."
* o texto, publicado no newsletter do ccsp, sob a rubrica polêmica, demonstra um sintoma do qual não pensávamos padecer o ccsp. onde está a polêmica ? será que tudo que não é puxa-saquismo, lantejoula, maria-vai-com-as-outras, tem de ser adjetivado como polêmica. que polêmica, alguém duvída que isso acontece mesmo, aliás, acontece muito pior. ora, deixemo-nos de merda, afinal esta merda toda tái mesmo e fomos nós que a criamos. depois quando nos esfregam na fuça, nem reagimos no mesmo tom de bom humor. não há polêmica quando a coisa é sistêmica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário