sexta-feira, janeiro 06, 2006

o sotaque não engana

Antes de me atirar uma pedra, faça a seguinte pergunta à sua agência: o seu cliente lhe cobra trabalhos, cada vez mais, criativos? Ou, para o seu mercado o impacto criativo é fundamental para o negócio do seu cliente? Ou, o produto criativo, da sua agência, é bom o suficiente para ganhar prêmios nacionais e até internacionais? Ou melhor ainda, a equipe de atendimento da sua agência se empenha para que o cliente aprove os trabalhos criativos que vocês produzem? Agora, seguindo este raciocínio, pare e pense. Vale a pena mostrar trabalhos maravilhosos ao seu cliente, mesmo sabendo que o atendimento da agência não move uma palha para convencer àquele cliente idiota que o logótipo dele, no anúncio, não precisa ser proporcional ao tamanho da calçola da vovó? Apesar de tudo levar a crer que não, é claro que vale a pena. A publicidade hoje é puro entretenimento. Ela tem a obrigação de causar-lhe uma boa impressão e ser simpática. Mas acho que o mercado do nordeste ainda não se tocou disto. E sabe porquê? Porque não tem um mercado que lhe diga: “se não for criativo o suficiente para chamar a atenção do cliente, não vende”. Há conivência todos os lados. Até você meu caro, está neste barco. Não é fácil lutar contra verbas minúsculas para as produções, falta de bons fornecedores e etc. Mas isto só se consegue comprando grandes brigas. E tem sempre um estúpido para dizer “o cliente não tem verba”. Mande ele fechar as portas! Muitas vezes, o tal cliente é um império, cheio da grana, mas que não quer gastar uns reais para fazer uma boa foto. É ridículo. E é esta falta de cobrança que gera uma não necessidade de criatividade por parte de todos. Não deveria ser assim. Somos uma região que exporta músicos, escritores, cineastas, talentos de várias áreas, para todo o Brasil e para o mundo. Porque é então que as nossas agências não têm a mesma relevância de um Caetano Veloso, de um João Gilberto ou de um Alceu Valença, no cenário nacional e internacional? Será que só migrando como fez o Nizan Guanaes, o Andre Laurentino e outros? Eu acho que não. O Brasil (São Paulo, né) é a terceira maior potência criativa no mundo da publicidade. E o nordeste, onde está neste cenário? Poderia perfeitamente estar entre os 15 mercados mais criativos. O Peru tem um melhor produto criativo que o nosso e o PIB deles é inferior ao da Bahia, por exemplo. O PIB do Nordeste é maior do que o do Chile e da Colômbia. Isto, só para você ver que não somos tão pobres assim. Dinheiro não é desculpa. Com o poder criativo que temos, o nordeste tem a obrigação de ser referência mundial na criação publicitária. É brigar muito e querer fazer.

as agências do nordeste não precisam de criatividade, amândio cardoso, FCB portugal;pelo menos até o dia 31 de janeiro.

4 comentários:

Anônimo disse...

"Quem eu quero não me quer, quem me quer eu não quero"

No RS temos a mesma discussão: Se temos tantos talentos fazendo sucesso lá fora, porque não conseguimos que o nosso mercado seja um sucesso aqui dentro?

Simples, quem é realmente bom sai. SP faz sucesso porque os melhores querem ir para SP e SP quer os melhores lá.

Porque nenhuma agência faz sucesso no Porto, se há tantos portuenses fazendo sucesso em Lisboa?

Porque os clientes do Norte não aceitam o que dizem os profissionais do Porto, mas dizem amem para qualquer bobagem megalomana que uma grande agência de Lisboa apresente. Ou há outro motivo para a Optimus investir tanato dinheiro em tanto material lindamente filmado, mas sem nenhum conteúdo que justifique o orçamento?

Para os melhores mostrarem o seu melhor, só estando entre os melhores.

Alex Camilo disse...

Na minha humilde opinião, caro Celso, tudo isso é simplesmente falta de culhão, só isso. Aqui no nordeste, na sua grande maioria, os atendimentos são os donos da agência ou se portam como tal, eles se cagam de medo de contrariar o cliente, de mostrar que nós é que entendemos de publicidade. Estou ralmente farto de ver campanhas criativas irem para a latrina por simples capacidade de argumentação da parte de quem defende. E quando não vão para a privada, acabam mutiladas ou estupradas por mensagens empresariais burocráticas. No caso aqui da Paraíba a coisa é elevada a décima potência, pois além dos donos serem os atendimentos, na sua maioria não entendem patavinas de publicidade, e sua única preocupação é com a prestação do carro importado e da casa de praia em Carapibus. Se não bastasse isso, caro amigo, ainda tem os fornecedores, meu deus do céu! São produtoras que são apenas locadoras de equipamento, são diretores que só sabem fazer video clipes, atores que parecem estar fazendo comédia mesmo quando o texto é sério, são fotógrafos que fazem fotos inferiores as que fazemos para os layouts... Aí, você pode me perguntar: Então que porra tu ainda está fazendo nesse buraco? E eu só posso te responder que sou teimoso feito uma mula e que eu fugir para São Paulo não vai ajudar a mudar isso em nada. Com todas as desgraças, acredito no nordeste, e creio que se alguém não for teimoso o suficiente para permanecer trabalhando aqui, essa realidade não vai mudar nunca.

Um abraço

Alex Camilo disse...

Antes que eu me esqueça, fora isso ainda há, por parte dos "atendimentos" e clientes um tendencia idiota de subestimar a inteligencia do nosso consumidor, como se os nordestinos fossemos generalizadamente tolos imbecis.

Outro abraço

Anônimo disse...

Dono de imobiliária faz campanha com uma agência, fecha todas as negociações, a comissão da agência é paga por fora, depois do acerto direto com fornecedores. Não pode usar foto porque o cliente não pode pagar. O cliente lembra que não pode pagar foto. E pergunta: "Mas é aí que vcs têm que ser criativos."
O cliente resolve abrir espaços para artistas. Os artistas criam suas obras, registram suas obras e as vinculam à marca do ciente, em troca ganham o prazer de poder expôr suas obras como souvenirs de ponto de venda. O artista se rebaixa mas acha que o mecenas, aliás, o cliente, é um verdadeiro visionário das artes.
O cliente resolve então fazer outra campanha. De antemão avisa: "Não tenho dinheiro pra pagar". Quem paga a conta são construtores que vão por seus empreendimentos nos anúncios do cliente. Na verdade quem paga são os fornecedores dos construtores, que têm a honra de poder investir em grandes empresas visionárias, especialistas em negócios de baixo custo e alta rentabilidade. Mas aí, os fornecedores expõem outra faceta, na verdade quem paga a campanha do grande mecenas-cliente-visionário-das-artes-especialista-em-negócios-de-baixo-custo-e-alta-rentabilidade não é o construtor, nem ele fornecedor. O fornecedor acaba de fechar um contrato milionário para tapar buracos de todas as Rodovias Federais, na verdade, como o contrato foi fechado com o governo – que não paga – ocorre um justo acréscimo no preço licitado, afinal nada mais justo do que se preservar do calote do Estado. Na verdade, nem é preciso se preocupar, a agência fez a campanha pro mecenas-cliente-visionário-das-artes-especialista-em-negócios-de-baixo-custo-e-alta-rentabilidade, mas o construtor pagou parte da conta dividida com o seu fornecedor, que contou com a ajuda de um contrato milionário para recauchutar rodovias, levemente inflacionado por uma reserva contra o calote e uma partezinha de fundo de campanha, afinal vem eleição por aí. Assim, garante-se mais obras, já que o fornecedor tá lá pra cooperar, o construtor também e a agência…
Bem, a agência com a parte que lhe cabe. Pode de repente até pegar a conta da ponta, apostar no marketing político, quem sabe?

"Por isso que o Lula não sabe nada do Mensalão".
Ô golpezinho bobo perto do status quo.