sexta-feira, janeiro 20, 2006

aula de geografia

A morte do general brasileiro trouxe o assunto de volta. Mas à distância, que ninguém gosta de país pobre: do Rio, de São Paulo, de Brasília comenta-se o envolvimento brasileiro no Haiti – e, com a ajuda de agências internacionais, procura-se traçar um perfil do país onde há tropas brasileiras, mas jornalistas brasileiros não há.

Claro, não deve haver fila de repórteres pedindo para cobrir o dia-a-dia do Haiti. É mais legal mostrar aquela bola enorme caindo no réveillon de Nova York, ou acompanhar o passeio de Paulo Coelho, José Dirceu e Fernando Morais de um restaurante francês a outro. Mas, se o importante é o leitor, é inconcebível que um país ocupado para reconstrução, sendo as tropas de ocupação comandadas por um brasileiro, com riscos reais para a vida de soldados brasileiros, não tenha um vestígio sequer de imprensa brasileira.

O Haiti é aqui, cantava Caetano Veloso. Não, o Haiti não é aqui: o Haiti é longe. A falta de conforto repugna os jornalistas, o custo de mandar gente repugna os patrões; teme-se que as imagens obrigatoriamente feias repugnem o consumidor de notícias.

Mas as imagens dos atentados de terroristas muçulmanos em Londres e Madri, imagens de sangue e morte, foram vistas; nossos repórteres estavam por lá. Qual a diferença? Só uma: Madri e Londres estão em países ricos. Se o Haiti quiser cobertura jornalística no Brasil, que enriqueça primeiro.

o haiti fica longe daqui, do carlos brickmann

Um comentário:

Anônimo disse...

Certeiro.
Realmente observação das mais lúcidas que li. Tá cheio de jornalista com Síndrome de Justo Veríssimo, louco por rapa-pé e jabá, sem jerimum.