segunda-feira, janeiro 23, 2006

nada de novo no front ou o novo de novo requentado

1.Entrou na minha sala feliz da vida.

“Trouxe o brief que vai dar um baita faturamento para a agência”.

Sim, e daí, perguntei, fingindo indiferença.

“O cliente vai lançar um novo produto”.

Sim, e daí, perguntei de novo.

“Já passei o brief pra criação, inclusive com a pesquisa que ele forneceu”.

Sim, e daí?

Meu executivo de contas caiu em si.

“Pôxa, eu trago uma grande notícia e você só sabe dizer sim e daí?!”

Sim, e daí, que contribuição você deu ao brief do cliente?

“Passei ele pra criação e pra mídia.”

Entre o momento em que o cliente passou o brief e o que o passou para a criação e a mídia, o que você fez, perguntei.

Ficou confuso.

“Ué, tinha de fazer mais alguma coisa?”

Tinha. Tinha de ir ao mercado, conversar com o consumidor, levantar e checar informações secundárias, analisar a concorrência, ver se a estratégia proposta pelo cliente está correta, criar e sugerir táticas surpreendentes de marketing e de comunicação etc.

Ficou atônito, cara de bobo, olhando pra mim. Eu com uma vontade danada de mandar que ele estudasse sobre a verdadeira função do atendimento.

2. Outro dia fui surpreendido com as declarações de publicitário famoso, afirmando que sua agência vai revolucionar a publicidade, porque passou a praticar a comunicação integrada de marketing.

Fiquei surpreso porque comunicação integrada de marketing é algo, como todos sabemos, de importância reconhecida desde a década de oitenta. Assunto tão carne de vaca que a grande maioria das agências diz pratica-lo, embora boa parte delas não tenha a menor idéia do que se trata.

3. Agora, outra surpresa: a Fischer anuncia a extinção do atendimento. O cliente passa a ser atendido pelo planejamento e pela criação.

Mas que coisa, pensei quando li a notícia: na minha concepção, e ela é antiga, atendimento tem de entender e fazer planejamento. Planejamento e criação têm de atender o cliente. Isso sem contar com a mídia, sobre a qual não me lembro de ter lido na notícia. Trocando em miúdos: na agência ideal tem de haver um suporte. Uma área com informações da qual o atendimento, digo, o planejamento, a criação e a mídia podem lançar mão. Mas eles não podem perder a iniciativa.

4. Agora só falta vir a público outra agência para dizer que obriga os profissionais daquelas áreas a visitar mercado, a conversar com os consumidores e membros do trade, e assim enriquecer brief fornecido pelo cliente, sugerir iniciativas, aproveitar oportunidades, orientar a melhor aplicação da verba disponível.

5. Para essas agências que ainda não fizeram isso, recomendo a leitura da revista Exame desde janeiro, 18, da matéria cujo título é “no super mercado, na favela, no bar...” Explica “porque cada vez mais empresas deixam de lado as pesquisas formais e fazem executivos mergulhar no mundo real dos consumidores”. Só como aperitivo, aí vai uma declaração de Eduardo Bendzius, um dos responsáveis pelo marketing da Diego, sobre sua experiência no ponto de venda, publicada na reportagem:

“Essas saídas são um choque de realidade”.

Se as agências prestes a anunciar essa “inovação” quiserem completar a informação, leiam também, na revista Management de janeiro/fevereiro dossiê sobre O Novo Consumidor.

6. Enquanto redigia estas mal traçadas, lembrei-me de experiência que vivi recentemente. Contratado por agência de Floripa, exultei quando percebi que ela estava dentro do prédio de um shopping center. Isto é, dentro do templo do consumo. Era uma grande oportunidade de gerar um programa de atualização permanente para os profissionais da agência e mostrar isso ao mercado como um fantástico diferencial. A sugestão foi recebida com ironia. Começou, ali, minha caminhada em direção à porta da rua.

7. Coisas como essas me confundem. Quem sabe se você, mais inteligente e mais bem informado do que eu, me ajuda a compreender.

só estou querendo entender, do eloy simões, no www.acontecendoaqui.com.br

a propósito, no: e se,...? como criar uma revolução criativa no trabalho, do dave allan, matt kingdon, kris murrin, daz rudkin, da best seller, 2000, tradução do original what if, de 1998, os autores sugerem, pregam, praticam - e ganham dinheiro com isso,a what if é uma empresa - justamente fazendo, e fazendo ver e praticar, o que os profissionais da agência catarina não entranharam. e olhe que encostar a barriga no balcão em santa catarina é um convite aos sentidos, irrecusável, para quem os tem funcionando e desejosos de fuçar.

Um comentário:

Alex Camilo disse...

E quando os "atendimentos" são os donos das agências como é que a gente faz pra demitir eles? Creio que pedindo demissão, não é? ;p