segunda-feira, janeiro 16, 2006

bagdá também é (quase) aqui

Rangel diz que veto dos EUA é agressão contra Espanha e Brasil .

O vice-presidente venezuelano, José Vicente Rangel, afirmou hoje que a Espanha e Brasil são os "mais afetados e agredidos" pelo veto dos Estados Unidos à venda de material militar à Venezuela.

A restrição de Washington à venda de 12 aviões espanhóis com tecnologia americana "mais do que uma agressão à Venezuela é uma agressão à Espanha", disse Rangel, ao alertar que a "pressão americana" sobre Madri pode fazer o país europeu perder um mercado.

Os mesmo ocorre com a eventual negativa dos EUA a que o Brasil forneça à Venezuela aviões de prática tipo "Supertucano", com motor americano, acrescentou Rangel, segundo um comunicado da Vice-Presidência Executiva.

O vice-presidente classificou de "irônico" que a Casa Branca "que põe ênfase em um mundo globalizado e na liberdade de mercado" assuma essa "atitude grotesca com a Espanha e com o Brasil".

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, disse na sexta-feira perante a Assembléia Nacional que o veto dos EUA à venda de aviões espanhóis à Venezuela "evidencia o horroroso imperialismo que Washington quer impor ao mundo".

O Governo espanhol anunciou que os contratos assinados com a Venezuela para a venda dos aviões militares, por um montante de 1,7 bilhão de euros, "devem ser cumpridos", por isso serão substituídos os componentes fabricados nos EUA por tecnologia de outra origem.

Madri também esclareceu que não compartilha o argumento de Washington para vetar a venda do material militar, segundo o qual o Governo do presidente venezuelano, Hugo Chávez, "desestabiliza a região" e "solapou sistematicamente as instituições democráticas".

Chávez denunciou na terça-feira que Washington não autorizou a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) a utilizar tecnologia americana para a fabricação de um lote de aviões "Supertucano" pedidos pela Venezuela.

O ministro brasileiro de Relações Exteriores, Celso Amorim, disse esta semana que "seria contraproducente uma eventual negativa" da Casa Branca à venda a Caracas dos "Supertucanos", que utilizam motores americanos.

pela agência EFE - mais informações sobre veto abaixo


Como o governo americano proibiu a empresa brasileira de vender 36 aviões para a Venezuela, num negócio de
US$ 470 milhões

Foi uma notícia inesperada, surpreendente. Em conversa ao pé do ouvido, uma autoridade do Departamento de Estado comunicou a um diplomata brasileiro em Washington, há pouco mais de um mês, que o governo de George Bush decidiu vetar a venda de aviões da Embraer para a Venezuela. Nada ficou registrado, nenhum documento, nenhuma palavra oficial. Mas o recado foi claro. A Embraer está proibida de vender aviões militares para o presidente Hugo Chávez. Já estava tudo acertado entre as partes, um contrato de US$ 470 milhões a ser anunciado em fevereiro, no qual o governo venezuelano compraria 12 aviões AMX-T (última geração da família Tucano), ao custo de US$ 300 milhões, e 24 patrulheiros Super Tucano, por US$ 170 milhões. O emissário de Bush fez ainda uma ameaça velada. Caso o governo brasileiro não forçasse a Embraer a desistir do negócio, o Departamento de Defesa obrigaria as empresas americanas a interromper o fornecimento de componentes para os aviões da Embraer, inclusive civis. Enfim, abateria em pleno vôo a quarta indústria aeronáutica do mundo e maior exportadora do País. O recado foi imediatamente transmitido ao chanceler Celso Amorim, que avisou o presidente Lula, que deu a má notícia para seu amigo Hugo Chávez. Na terça-feira 10, em Caracas, ele denunciou publicamente a pressão. “Os Estados Unidos não autorizam a Embraer a fazer aviões para a Venezuela porque a Embraer utiliza tecnologia americana, como trataram de impedir que os espanhóis nos vendessem navios e aviões de transporte”, disse Chávez. Em seguida, foi irônico. “Parece que o Brasil tem limitações, precisa de permissão dos Estados Unidos”.

Amorim e Rice: Chanceler fez apelo à chefe do Departamento de Estado americano

No dia seguinte, em Brasília, Celso Amorim confirmou o problema. “O Brasil se posiciona contra as restrições de transferência de tecnologia, sobretudo quando não há sanções internacionais, como é o caso da Venezuela. E não há razão para veto, pois não são aviões de poder ofensivo”. Gostando ou não de Hugo Chávez, não se pode negar sua coerência ao colocar o dedo na ferida. Se dependesse do governo brasileiro, o assunto seria tratado como tema ultra-secreto, a ser resolvido sabe-se-lá quando. Às vésperas do Natal, Amorim chegou a entrar em contado com a secretária de Estado Condoleezza Rice para tentar demovê-la. Argumentou que Chávez vai comprar os aviões de qualquer maneira, e que é melhor comprar do Brasil, um País aliado, do que comprar da Rússia ou da China. Em vão. Mesmo tendo se convertido no mais leal aliado dos Estados Unidos no continente, quase um bedel de seus vizinhos de esquerda, cada vez mais numerosos, o Brasil continua tendo tratamento de segunda. A direção da Embraer, por sua vez, já dá o contrato como perdido. “Isso deixou de ser uma questão comercial e virou um problema de Estado”, disse um executivo da empresa.


Provocação de Chávez: “O Brasil tem de pedir permissão aos EUA”

O cancelamento do contrato também deixou Hugo Chávez desapontado. Ele pretendia, com a ajuda da Embraer, criar uma indústria aeronáutica local, com aeronaves não apenas militares. Estava sendo negociada a transferência de tecnologia dos aviões Brasília e Ipanema (usado em atividades agrícolas). Mas há, além da tecnologia americana, a questão mercadológica. Hoje, na aviação comercial, que é a galinha dos ovos de ouro da Embraer, 80% das vendas têm como destino o mercado americano. O maior cliente da empresa é a Jet Blue, que encomendou 100 aeronaves. Um negócio de US$ 2,5 bilhões. E nas apresentações da Embraer a investidores, projeta-se que 53% das vendas que serão feitas entre 2006 e 2025 terão como destino os EUA. Por isso a direção prefere não sustentar atritos com os americanos. Mas isso ameaça um outro negócio civil. Chávez estava prestes a bater o martelo na compra de 18 aviões comerciais da Embraer para sua estatal. Seria um negócio de US$ 900 milhões.

Mas o que confere ao governo americano poder de veto num negócio entre dois países soberanos? De um lado, a questão tecnológica, pois vários itens importantes da aeronave são produzidos por empresas americanas (leia quadro),que impõem restrições à transferência de tecnologia. A restrição maior é sobre o computador de bordo e o sistema inercial de vôo, a chamada “aviônica”, fornecida à Embraer pela israelense Elbit. Hoje, muitos componentes são importadas. O motor, por exemplo, é de uma subsidiária da americana Pratt-Whittney no Canadá. A hélice e o sistema de visão noturna também usam tecnologia americana e os assentos ejetáveis são da britânica Martin Baker. Essa não é a primeira vez que o governo americano bloqueia a venda de equipamentos de defesa para a Venezuela. Recentemente, uma empresa israelense tentou vender caças F-16 para Chávez e teve de retirar a oferta. “Mas os Super Tucano não oferecem risco à soberania americana”, diz Nelson During, especialista em defesa.

O Super Tucano é reconhecido como a melhor aeronave para voar em áreas equatoriais, pois seus computadores foram desenvolvidos para suportar calor e umidade extremos. A venda para a Venezuela seria a segunda grande exportação da Embraer na área de defesa. O primeiro contrato foi assinado em dezembro e prevê a venda de 25 Super Tucano para a Colômbia – aliada incondicional de Bush no continente. Também por isso Chávez colocou a boca no trombone e disse a Lula que seria muito ruim o Brasil vender aeronaves para a Colômbia e não para a Venezuela. O próprio presidente da Embraer, Maurício Botelho, estava otimista. “Outros contratos no mercado internacional se seguirão, pois trata-se de uma aeronave exceiocional e que o estava aguardando”, disse ele, após a venda colombiana.

No mercado financeiro, espera-se que o governo brasileiro intervenha a favor da negociação ou tente barganhar algo em troca, uma vez que a Embraer vinha lutando para entrar no mercado americano de defesa. A tentativa era vender um lote da aeronave ERJ-45, num programa de US$ 1 bilhão. Na quinta-feira 12, veio a má notícia, pois a licitação foi cancelada. “Esse contrato seria um catão de visitas para a Embraer entrar definitivamente no mercado de aviões de defesa mundial”, diz a analista do banco Santander, Daniela Brettauer. Outro ponto que esse incidente trás à tona é a oportunidade perdida pelo governo Lula, ao não realizar a licitação para compra dos novos caças da FAB num contrato de US$ 700 milhões. O negócio previa a transferência de tecnologia para um parceiro nacional e, do ponto de vista estratégico, a melhor alternativa era aquela que unia a Embraer à francesa Dassault. Com mais tecnologia própria na área de defesa, a Embraer poderia ter mais independência para escolher seus compradores. Ainda há tempo.

o pouso forçado da embraer, na isto é dinheiro da semana, por hugo studart e leonardo attuch, com reportagem de elaine cott

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