quinta-feira, janeiro 19, 2006

nem no limbo ficar em paz agora a gente pode mais

Papa Bento XVI cria comissão de teólogos para estudar o fim do limbo, a moradia das almas não-batizadas

TEÓLOGO Bento XVI já disse que a idéia do limbo deveria ser abandonada

Ao que tudo indica, uma das resoluções de Ano-Novo do papa Bento XVI é reduzir o número de degraus entre o céu e o inferno. Durante os mais de 20 anos em que atuou como presidente da Congregação pela Doutrina da Fé, o então cardeal Ratzinger aproveitou cada oportunidade para anunciar que o inferno não é somente uma metáfora, mas o endereço final de boa parte da humanidade (por exemplo, dos autores de experiências com embriões humanos). Ao coordenar a nova versão do Catecismo, ele reforçou também a idéia do paraíso e sua ante-sala, o purgatório, onde almas com pecados menores são purificadas antes de chegar à presença de Deus.

No fim de dezembro, porém, o papa convocou uma comissão de 30 teólogos que deve abolir um dos andares do edifício celeste - o limbo. Na tradição católica, é ali que ficam as almas de crianças, bebês e fetos que morrem sem o batismo. E, por extensão, os homens de bem que viveram na Antiguidade, antes da vinda de Jesus. Para o público laico, discutir se fetos abortados vão para o céu ou para o limbo parece a versão teológica de uma discussão de botequim. Mas o debate afeta as relações com outras religiões e a atuação da Igreja nos países pobres.

Por muito tempo o Vaticano pregou que os não-batizados iam para o inferno, e ponto. Era a posição de Santo Agostinho, no século IV. Mas pelo menos os bebês, concedia o santo, teriam como destino um círculo infernal com sofrimentos menores. A idéia do limbo foi sugerida na mesma época por São Gregório, o Teólogo, mas só passou a ser levada em conta no século XIII, por São Tomás de Aquino. Para ele, o limbo seria um lugar de 'felicidade natural', porém afastado da presença de Deus. A idéia nunca foi oficializada na doutrina da Igreja, mas em 1905 o papa Pio X afirmou textualmente que o limbo existia e as almas das crianças não-batizadas estavam lá. Escritores como Dante Alighieri, na Divina Comédia, já haviam sugerido que o lugar alojaria Sócrates, Platão e até muçulmanos como o filósofo Averróes e o sultão Saladino.

Para os teólogos, no entanto, o conceito sempre foi problemático. Afinal, implica que algumas almas, independentemente de cometer qualquer pecado, não terão nenhuma chance de chegar ao paraíso. Um menino índio que nasce e morre na selva, sem jamais ouvir falar de Jesus, é um cidadão de segunda classe mesmo no além, porque na melhor das hipóteses chegará ao limbo. Em 1984, ainda cardeal, Ratzinger disse que a teoria era insatisfatória e deveria ser abandonada. O novo Catecismo exclui a palavra limbo e diz apenas que crianças não-batizadas são 'confiadas à misericórdia de Deus'. A comissão do Vaticano deve levar meses para concluir seus trabalhos, e ao que tudo indica dirá que o destino das pequenas almas é o paraíso.

O ar folclórico da discussão esconde o efeito da teologia na prática. A Igreja, que hoje cresce principalmente na África e nas regiões pobres da Ásia, onde a mortalidade infantil é altíssima, poderá dizer aos fiéis que seus filhos que morreram sem batismo estão no céu - o que sem dúvida é melhor que as alternativas anteriores. A novidade também favorece o ecumenismo porque, sem o limbo, católicos e membros de outras religiões concorrem em pé de igualdade por vagas nos mesmos lugares - céu, inferno e purgatório (no Concílio Vaticano II, a Igreja admitiu que a salvação também pode ser alcançada pelos não-católicos). A única voz a defender o limbo, até agora, é o intelectual americano Harold Bloom. Em artigo no The New York Times, disse que havia marcado um encontro lá com um amigo, o falecido escritor Anthony Burgess - que prometera aguardar com uma garrafa de brandy Fundador.

os pagãos chegam ao paraíso, por ernesto bernardes, para a época dia destes.

como vêem só gente boa no limbo, incluindo o saladino?( assista o history channel e o harold bloom de quem, no mínimo, deve ler o" como e porque ler", da objetiva, 2.000, sem esquecer que lá é local de crianças ainda não socializadas- isto não seria o céu ?.
lamentavelmente não teria esta sorte mesmo. batismo atrasado, aos oito anos, padreco vingativo, quase me afoga na pia batismal sem falar do abanão que me custou um galo enorme que de vez quando coça até hoje.
meu limbo, é outro, sem fundador mas a garrafa de brandy ainda se pode providenciar na passagem para o limbo dos quintos.

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