Detalhes tão pequenos
No Brasil do jeitinho, pessoas que se preocupam com detalhes são consideradas neuróticas, exigentes, perfeccionistas, enfim, irritantes. E para não parecer chata, boa parte da população evita com todo cuidado a atenção nos detalhes: se o português for muito correto, pode parecer pedante; se o acabamento for primoroso, é porque o sujeito não tem mais o que fazer na vida; se cuida bem da roupa, só pode ser “mauricinho” ou “patricinha”.
Experimente, como eu, pedir para substituir o errado hífen “-“ entre expressões que separam idéias, pelo correto travessão “—“ em uma peça gráfica. A moral da senhora sua mãe vai virar alvo dos piores julgamentos e a sua saúde mental será levianamente questionada. Onde já se viu prestar tanta atenção em “tracinhos” que ninguém mais vê?
É impressionante como é comum pegar um cartão de visitas e ver aquele festival de hifens mal colocados. A desculpa mais comum é que isso não tem nada a ver com design gráfico. Ora, design gráfico é essencialmente uma ferramenta de comunicação, e para fazer isso direito, há que se respeitar as regras e convenções da língua. Para mim, um bom profissional deve buscar todas as informações necessárias para exercer bem o seu ofício, incluindo aí as coisas que ele não aprendeu na escola mas que deveria ter aprendido. Isso é cultura! É o que faz a diferença.
A relevância das informações é também freqüentemente ignorada. Ou que outra explicação haveria para alguém colocar as palavras óbvias como endereço e CEP em um espaço tão exíguo como um cartão de visitas? Ou será que o designer teme que alguém possa confundir o CEP com o número de celular?
Os erros de português, então, são um capítulo à parte. As pessoas erram, sabendo que estão errando, e ainda dizem que é bobagem se preocupar, afinal, todo mundo entendeu o que elas disseram. Penso que em qualquer área de atividade profissional um dicionário e uma gramática em cima da mesa de trabalho são ferramentas fundamentais. Afinal, a nossa língua é mesmo complicada, e a toda hora a gente tem dúvidas. Eu erro, todo mundo erra, é humano, mas por que não tentar reduzir esses eventos tão chatos? Dá o mesmo trabalho fazer uma coisa caprichada e outra malfeita, onde, no segundo caso, se perde mais tempo e dinheiro quando tem que fazer de novo.
Há pessoas que se jactam de não se preocupar com detalhes afirmando que só se preocupam com o que é mais importante. Mas o que é mais importante? Se um engenheiro eletrônico achasse que os componentes menores não têm importância, se um oftalmologista acreditasse que 0,5 grau é só um detalhezinho mínimo, se um piloto de avião desprezasse os indicadores menores, se um contador passasse a arredondar todos os centavos para não dar trabalho, se um costureiro considerasse que 1 cm em uma roupa não faz diferença, se um físico pensasse que os átomos são pequenos demais para merecer que alguém se ocupe deles, onde é que a gente estaria? E por que somente designers gráficos deveriam se dar ao luxo de ignorar detalhes? Será coincidência que os líderes de mercado e os profissionais mais respeitados sejam justamente aqueles que primam pela qualidade em todos os aspectos, inclusive naqueles que os concorrentes desprezam?
Alinhamentos precisos, espaçamentos estudados, cuidado na revisão, símbolos usados corretamente, nomes de arquivos coerentes e organizados em pastas com nomes elucidativos, documentação atualizada, backups periódicos, apresentação cuidadosa, respeito pelo tempo e dinheiro alheios, boa educação para tratar as pessoas — detalhes nem tão pequenos que, certamente, não tornam ninguém um neurótico obsessivo — mas certamente contribuem para uma atuação profissional muito melhor.
Em tempo: O hífen serve para unir palavras e números. Já o travessão, que tem o comprimento aproximado de dois hífens colados, serve para fazer justamente o contrário — separar e enfatizar conceitos e idéias. Ah, o número do CEP vem sempre antes do nome da cidade. Quer saber mais? Consulte o Manual de Redação da Presidência da República em: http://www.planalto.gov.br/ccivil/manual/
lígia fascioni demostrando a que ponto chega o pensamento equivocado da gestão da eficácia no design brasileiro. teria sido ela que afugentou carlson do país ?sim, fomos comunicados que david carlson não virá mais ao recife. pensando bem, foi até melhor. que se vá até o fiteiro e se faça um estudo. a variedade será proporcional a quantidade de alcóol ingerida.
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