sábado, junho 25, 2005

briefing para sérgio bastos ou não grifo na agência do pará

sérgio bastos é diretor de arte. daqueles que fazem a roda girar mas que carrega dedos em falta. preço que pagou por ser mastigado por algumas das engrenagens que de um jeito ou de outro matisgou tantos de nós que deixamos pedaços por ela, a publicidade, principalmente quando se quer fazer um bom trabalho e não se consegue.

sérgio é gente boa mas ainda duvido que seja ou não inocente útil. apesar de saber-lhe consciente. na sua aparente calma repousa um magma que os cabelos brancos foram transformando em aquarelas na sua nova via de expressão para além da propaganda, uma pintura naiff, onde, julgo, ainda falta afinar pincéis da ironia que sérgio destila muito educadamente como seu andar quase paquidérmico. sim, não queiram ver um elefante em fúria. mas quem se importa? afinal, não estamos na índia, apesar de marajó, que nunca conheci, lembrar-me a índia, interrogo por que ?

conheci sérgio na então já decadente mendes publicidade. ainda assim bom anúncio para quem estava em são paulo batendo porta como egresso do mercado carioca: a agência que está lá em cima procura redator que está lá embaixo”. a agência não estava mais lá em cima. não era a mesma mendes que, mesmo estando em belém do pará, tornou-se a quarta agência mais premiada internacionalmente do brasil nos anos oitenta. é verdade que os critérios dos festivais ainda se deixavam pegar pelo exotismo e não imbuídos dos critérios archivísticos. mas isso não desvaloriza o feito da mendes. sim a mendes era o mendes. em nada agradável no dia-a-dia, de sorte que minha temporada no pará durou quinze dias e apenas uma farra de sarrabulho no mercado central, um passeio no emílio goeldi, alguma coisa com tacacá, ou tucupi, e o melhor da estada: cair nas graças do sérgio, ao que parece.

já algum tempo sérgio bastos enviou-me o portfólio da griffo comunicação, cujo título é a agência do pará. tentei “ignorar”. poderia responder com um muito obrigado e ponto final. mas em mim os cabelos brancos não trouxeram parcimônia e simancol. e lá vou eu grifar a respeito.

o que exatamente é um portfólio da agência, já há algum tempo? na maioria dos casos equívoco, lambança, bluff e impressão de ego. pensado para ser uma ferramenta de venda, onde para além do trabalho feito, mostras do dna do pensamento operacional e filosófico da estrutura. mas as coisas não acontecem mais assim, principalmente nas regiões mais sub-desenvolvidas em termos de propaganda: leia-se nordeste e norte, acho que também centro-oeste, o que não salva dos equívocos até mesmo das ditas grandes agências do eixo – rio, são paulo, considerando-se são paulo com pelos menos 65% do rotor.

não que o portfólio da griffo não seja um trabalho de impressão profissional. o é. capa dura. boa qualidade gráfica – requisito que muita gente não cumpre - lombada presente, texto revisado. mas falta-lhe o principal: idéias, qualidade de idéias, qualidade criativa de idéias. no tudo e no todo, até no conceito que apresenta mas que não desenvolve – o traz a idéia na capa, perdura algumas páginas e some, reaparecendo ao final, perdido. com seria de se esperar, centrado no regionalismo, no bairrismo, o que é no mínimo previsível. e previsível em publicidade é tiro no pé até na conchicina, quanto mais no pará.

rasteiramente é um portfólio datado, com uma linguagem de fim dos anos oitenta, início noventa, quando muito. conceito e leiautes apresentados, ainda que profissionalmente centrados, são iguais a trocentos outros que já vimos, nas mais variadas regiões. não se distingue. inclusive o seu anúnco grand-prix do prêmio colunistas norte-nordeste – ô premiozinho pra resistir a sí próprio – hora do rush, tem a infelicidade de ter sido feito após uma agência baiana usar o mesmo conceito para vender um resort, onde lia-se: hora do rush em itaparica, mostrando casal naquelas fotos de praias paradisíacas que ninguém aguenta mais. o anúncio da griffo mostra um engarramento de búfalos e o título hora do rush em marajó o que é mais simpático, mas déjà-vú. não é nem o caso de coincidência. coincidências acontecem ao mesmo tempo. é infelicidade mesmo porque acredito que o pessoal da griffo não conhecia o outro anúncio que saiu primeiro com meses de diferença. o que denota também um outro problema. ao fechar-se no pará, temáticamente por demasia, a griffo dá outro tiro no pé. a expressão criativa de uma agência paraense não deve – poder pode – fechar-se na temática bairrista tão-somente. é louvável não cair nos patterns globalizantes. mas é por demais pobre, ser pobre em nome a uma fidelidade a cultura local. e este é o problema. o portfólio não traz uma coisa nem outra. e o que é pior, acaba por ser colonizado ainda que faça que não.

e é colonizado desde a abertura onde fala das “ famosas dificuldades “ que todas agências tem no seu começo. a salles, fez sua primeira reunião num banheiro de médio hotel, com mauro salles praticamente sentado na privada pensando criativamente em como posicionar o então aero-willys. tivesse idéia de merda e história não faria o menos sentido, interesse ou diferencial.

não é que a griffo tenha idéias de merda em seu portfólio, ressalvo. mas o que apresenta não dá sustentação ao portfólio. no máximo corretas, o que é muito pouco hoje para uma agência, se bem que a coisa anda tão mal- e não só no pará – que ser correto hoje acaba sendo “ a alma do negócio “ onde a incorreção, a mesmice, a mediocridade, gera fortunas. mas caramba, nada que justifique um texto – e fotos – que ao final de contas acabam por fazer um registro emocional da trajetória da agência, o que é muito pouco recomendável para uma ferramenta de vendas. e isto não quer dizer que uma ferramenta de vendas não deva ter emoção. deve. e muita. mas não fake como as fotos pré-posadas onde vejo até o meu amigo sérgio bastos com seu parceiro pouco a vontade. o que demonstra que faltou conceito e direção na hora de mostrar a equipe, perdida pictoricamente no espaço onde pra piorar é saudado o projeto arquitetônico da agência que nada tem de saudável, pois também é datado.

cacete! deve ser insuportável ter um amigo assim, — ele deve ser frustado não é ? - dirão ao sérgio, isso se ele ousar comentar o post. desses que vê na foto do orly bezerra e antonio natsuo a merecer página única em close, a leitura ideológica muito mais que o destaque dos donos sobre a equipe que se aglomera ao pé da escada - a falsa igualdade também é uma merda – outro referencial datado e usado por outras tantas e tantas agências. vê-se muitos sorrisos amarelos e uma certa desconfortabilidade por conta daquelas coisas que todos nós sabemos que fazem o dia-a-dia e que por isso mesmo, mesmo sendo uma agência feita em noventa por cento, de pessoas e suas idéias, devem ser evitadas, afinal, portfólio não é album de fotografias, seja de quem for. mesmo quando são “ estrelas “, o que não é o caso mesmo.

ainda que o soerguimento de uma empresa e sua manutenção – ainda mais sendo uma agência de publicidade: não entendi porque a griffo diz que se tornal global, sic! queria dizer full agency ? – devam ser considerados. pois é trabalho hercúleo ou de cada vez mais picaretagem sem tamanho, o que nos mostra os sites de notícias de hoje, há que ter um certo brilho e algo mais que dizer quando se intenta um portfólio do meu ponto de vista que quanto a mim não tem este portfólio da griffo, “ a agência do pará “.

se , como dizia dostoiévski, queres ser universal, deves falar da tua aldeia, imagino que um portfólio feito sobre o conceito – expressão, linguagem e abordagem – do trabalho autoral de pintura e ilustração do pintor, diretor de arte publicitário sérgio bastos, seria uma peça muitíssimo mais interessante, criativa, universal e absolutamente paraense . e nada hoje é mais up-do-date. é o que está a dar em londres, nova iorque, singapura. marrocos. é o sun city que vai estrear em breve . aí até caberia mostrar fachadas e os tipos da agência numa radiografia onde as imperfeições estariam perfeitamente colocadas.

obviamente que as idéias expressas no material produzido – campanhas, logomarcas, etc- teriam que estar a altura. altualmente não estão. e por isso mesmo o portfólio ao fim e ao cabo acaba sendo o “ olha como foi difícil, olha como a nossa sede e bonita “ típico reflexo, no fundo, da agência, repito, colonizada que quer se mostar primus inter pares, usando modelos, digamos assim, paulistas. mas até nisto infeliz, pois remontam como já dissemos aos anos 80.

a griffo merece todo o nosso respeito. mas para ser a agência do pará, é preciso mais que um portfólio de capa dura. é preciso ter conteúdo criativo que torna-se bastante fragilizado uma vez que seus pilares – realidade do mercado ? são assentados no atendimento de contas de governo o que sendo jornalistas por fomação, seus donos devam saber o quão perigoso isto é.

por isso mesmo ficamos pelas fotos da cerâmica marajoara ? mesmo que sejam também datadas. afinal se o homem veio do barro, no portfólio da griffo, o homem de criação ainda não tomou forma por falta de idéia ? independentemente do monolito da sede traduzir sucesso ?

é o que reafirmo. com as mãos completamente meladas de barro. mas não de lama ou merda, como tantos querem fazer parecer

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