segunda-feira, junho 20, 2005

quero a minha pilar de volta

quando eu era “menino pequeno lá em barbacena”, o mundo e as bolachas eram diferentes.

cream cracker era pilar. o nome, quase uma onomatopéia, já dizia tudo: quebradiças, estaladiças e encorpadas. faziam a delícia de avós a netos, principalmente nos lanches e cafés a tarde. mas o “ mundo gira e a lusitana roda “.

a pilar foi vendida, revendida, recomprada e agora está nas prateleiras igualzinha a “vilã” que acabou com um dos pilares da nossa infância e quase reduz a pilar a farelos na sua participação de mercado.

a nova, “reação a concorrência”, é igualzinha a quem copia. quase gosmenta, o que dizem ser amanteigada, semi-dobrada, uma heresia industrial que a vinca no meio; e fina como as pernas da propaganda concorrente, onde o pagode ensina que cream cracker é vitarella, argh!. e tudo feito por uma agência cem por cento pernambucana. — não, eu não estou pedindo que o jingle fosse um frêvo. que este já foi denegrido em seu próprio nome ao tornar-se marca de tubaina, destas ainda mais vagabundas porque pretenciosa. e que se dane a sua participação no mercado. refrigerante também era fratelli, crush. e dore e sanhauá, nas esticadas a joão pessoa, claro, sempre com pilar na “ lancheira”.

mexeram na massa da pilar com certeza. mas principalmente na massa da gestão. como pode se destroçar ainda mais um patrimônio emocional, facilmente recuperável, por exemplo, com qualquer campanha que resussite os “ caminhõeszinhos da pilar”, que hoje teriam que ser adaptados as regras de segurança vigentes – eram de aço com pneuszinhos de borracha que passavam mais tempo sendo apertados do que rodando – o que mostra também que as crianças de hoje são como as bolachas que comem.

não me lembro de nenhum acidente ocorrido com o brinquedo, salvo as cotoveladas infantis aos desavisados que tentavam passar a mão na direção: é que as portas abriam.

faria a inveja - e a delícia - ainda mais da geração playstation. porque o caminhãozinho da pilar carregava o lúdico e o telúrico sem acidentes, reafirmo, salvo os da memória, com um sabor que combina com qualquer game de hoje.

continua rodando na mente do consumidor que hoje é pai, até avo, que sabem que cream cracker é pilar e que nunca mais houve nada igual. os consumidores mais novos só precisam mesmo de um empurrãozinho , como aqueles que dávamos no brinquedo, cream de promoção.

mas falta agência, falta visão de marketing, falta memória gustativa, principalmente. então, copie-se o líder, como dizem alguns manuais de pseudo sobrevivência. — poupem-me, não me falem que as pesquisas determinaram tal sabor de merda. na cópia e no original.

a nova pilar é axé bunda das bolachas tal, por mais assépotico que seja seu rito de produção.

quero a minha pilar de volta. até porque, não satisfeitos, impregnaram também as novas embalagens também com a sensaboria do conteúdo.

falando em bolachas, lembrei-me do ênio mainardi, enfant terrible que desgostava o status cu da propaganda com suas tiradas, entre as quais a minha preferida: “ eu odeio publicitários. de publicidade até que eu gosto “ e de quem, dizia-se, pura atitude denigritória? que nos últimos tempos em sua agência, costumava aparecer na criação só com a parte de cima do paletó, de cuecas, para além de dar uns tiros ao fundo da enio, para além da célebre caminhada sobre a mesa da diretoria de um banco que foi pedir a sua agência, no auge da inflação, uma campanha para que o cliente sentisse que o banco estava ao seu lado. ênio, de cima da mesa, sobre o presidente despejou: “tá vendo seu filho da puta, é assim que o cliente se sente no seu banco com os juros que você cobra”. folclore ou não, dizem que ele ficou com a conta. seja o que for, o assunto é bolacha, ninguém até hoje fez nada melhor em termos de slogan para o produto. “ vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho por que vende mais ? “.

de gênio. que também cabe, mesmo sendo da tostines, no meu caminhãozinho da pilar. que continua a fazer entregas de crackers sem manteiga para quem sabe o que é bom.

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