quinta-feira, junho 02, 2005

quase igualdade de direitos

há dois dias recife e olinda com água pelas canelas. ricos e pobres agora quase iguais. os pobres vivem o drama de verem as cópias de sandálias famosas descolarem-se - quem as tem, pois há a turma das cópias das havaianas que de tão gastas já lhes fogem do pé - apesar da elegância com que se deixam invadir pelas águas até quase joelhos. registro que o mundo mudou. antigamente todos elevavam as sandálias as mãos. agora, não as retiram dos pés e não vejo explicação lógica para uma certa vergonha do ato. talvez medo de espetar-se em algum prego ou objeto cortante. mas os sorrisos e os gritinhos ante a situação nada cômica continuam. se não houver mortes na família que mora nas periferias, favelas e do mangue, palafitas, será assunto jocoso o resto da semana. que capacidade extraordináriamente consciente ou alienada de rir da desgraça alheia, sabendo que é a sua própria. já os ricos, coitados, não tem a prática de se verem em situações de água pela canela, salvo no lodo tratatado das suas piscinas, muitas delas agora invadidas pela chuva miserável. é tragicômico. ilhados em seus carros, apesar de alguns possantes, quase morrem de pânico, junto com o motor que engasga pela falta de habilidade de condutores que fizeram muita auto-escola para comprar carteira. resultado, por mais que adiem tem de molhar os membros inferiores. e aí, não resisto. também caio na gargalhada. não sendo pobre nem rico, salvo-me à seco, pilotando o velho e bom jeg, jipe de 78 que qualquer dia destes apresento aos leitores e que custou-me algo em torno de dois mil reais e que causa muito estranheza, por ele e por mim. sim, os ricos, com stilo ou sem stilo, para não falar das pajeros, mitsubishis, nissans e outras mais, detestam estes dias de chuva. afinal, isto molha os carros tão ciosamente engraxados para buzinar por sobre os pobres na faixa de pedestres que ninguém respeita e anunciar com arrancos a desigualdade social cuja expressão motorizada é sinal de status e de suicídio já que os assasinos são impermeáveis. a água, que tudo lava, traz para rua coliformes fecais, tifo, ites de diversos tipos, mas ninguém liga. a questão é não molhar os pészinhos. tá feito. daslu não combina com lama. é um vexame. mas ricos e pobres n´àgua submersos são como patos fora, os ricos, e pobres como sapos dentro. até coaxam. alguns bandidos, tomam a pele de jacarés. se a chuva continuar vamos ver mais alguns animais boiando. eu, vira lata, apenas sacudo os pingos e dou graças por mais um dia de osso que a minha pele vai rasgar. a quase igualdade de direitos para pobres e ricos não resiste a um mínimo temporal mudo agora a figura. não há mais olhos semânticos de bloguista. agora imaginem se fosse de sal.

Nenhum comentário: