Geração omissa.
Por que será que existe uma reação tão forte contra a reunião democrática de empresários e profissionais do setor da propaganda e do marketing em um fórum nacional, onde se discutam e apontem soluções para os problemas da categoria? Talvez seja problema cultural de uma geração. Duvida? Pois o episódio que relato a seguir pode estar indicando isso.
A Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo comemorou de forma solene os 90 anos que faria o seu fundador. Inaugurou um novo campus com seu nome, instituiu a Semana Rodolfo Lima Martensen, com exposição de trabalhos e fotos e exibição de documentário. E organizou um evento com a palestra “Escola de Líderes” proferida por Ivan Pinto, tendo como debatedores Roberto Duailibi, Roberto Civita, José Bonifácio Sobrinho (Boni) e Otávio Florisbal. Ao final, promoveu o lançamento do livro “Na pele de quem paga – o cliente tem sempre razão?”, que reúne crônicas escritas pelo homenageado e que eu tive a honra de selecionar, organizar e comentar.
Como se vê, manifestação densa, importante e altamente significativa, para atestar a gratidão de gerações que passaram pela ESPM e ali se formaram. E para preservar a memória de um dos mais representativos publicitários da nossa história. Havia cerca de 800 pessoas na noite do dia 11 passado, o que obrigou a se retransmitir a palestra em telão para dois outros auditórios, porque não cabiam todas no principal.
O leitor a esta altura deve estar pensando alguma coisa como “que beleza! Oitocentas pessoas! O mundo publicitário estava lá, com certeza.” Pois não é bem assim.
O leitor viu quem estava participando do debate: “só” os comandantes da Rede Globo, da Editora Abril e da DPZ. Mas na platéia estavam, além da família emocionada do homenageado, centenas de profissionais que ajudaram a escrever a história da propaganda brasileira, alguns já aposentados, outros em plena atividade. Amigos, contemporâneos e discípulos do Lima, que não me atrevo a mencionar aqui para não cometer a injustiça do esquecimento, mas que, garanto, formavam um grupo de líderes, profissionais, empresários e nomes de destaque que definiram uma época da propaganda.
Misturados a essa elite da publicidade brasileira, viam-se blocos de jovens – alunos e profissionais em início de carreira, que ali estavam para aprender, fazer contatos, conhecer e ouvir os que fizeram e fazem essa mesma publicidade. Pois esses jovens devem ter se perguntado onde estariam os empresários de hoje, os criativos badalados, os homens de marketing, os palestrantes, sempre protegidos pelo palco e pelo relógio. Onde estariam? Lá não estavam. O que foi uma pena, porque muitos deles ex-alunos da ESPM, teriam feito uma homenagem à sua escola e a seu fundador, a um dos ícones da propaganda brasileira e, ao mesmo tempo, confraternizado com a geração que irá substituí-los.
Passada a intensa emoção de reencontrar tantos companheiros e rememorar pedaços da mais querida fase de minha vida profissional, sai de lá com a frustração de não ver nenhum – nem um – representante da atual geração (para não ser injusto, digo que estava lá o Dalton Pastore, provavelmente na condição de presidente da ABAP).
Tomara que aquela mocidade também tenha percebido, e que forme uma geração de empresários, profissionais e líderes menos omissa e mais humilde.
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