quarta-feira, maio 25, 2005

quarta à portuguesa: assombrações publicitárias ou tirando a dor de cotovêlo do baú de ossos ?

em 21 de abril de 1999, prisma, publicava matéria sobre ghosts ou fantasmagorices. há quem diga que o assunto é polêmico até hoje; polêmico? mas tão óbvio, tão repetitivo - como de resto a indústria da propaganda no seu todo - que vamos nos dar ao luxo de repetir algumas questões sem grandes receios de cair no passadismo.

"se em Cannes a publicidade portuguesa não é reconhecida, a não ser a custa de lobbying e de uns magritos fantasmas, talvez seja melhor começar a admitir que os critérios do festival não se adaptam à realidade do nosso mercado e repensar os nossos próprios critérios de seleção". ooppps! quatro jurados este ano, grand-prix à vista daqui, grand-prix que se foi dali, matéria esclerosada ?

dou-lhes como mote imparcial ? algumas das minhas opiniões à época, que de resto mantem-se. um exercício de instigação é ver o dia-à-dia - hoje - destas e de outras mentes privilegiadas que já cutucaram leão com vara curta ? muita idéia com juba no cotidiano ou apenas pelos de gatinhos espalhados no sofá ? a realidade é que na selva do mercado estes bichos não se criam. sobrevivem apenas empalhados. e só. sem cio.

sobre festivais e fantasmas:

com inteligência tudo ou quase tudo é permitido. desleal é a mediocridade travestida na armadura de uma certa pseudomoralidade que, como todo falso moralismo,faz disso um meio de justificar a pobreza de idéias e uma inveja indisfarçadamente fétida. não se admitem ingenuidades nesta profissão. criatividade pela criatividade? festivais já são um mercado em si, que movimentam cifras elevadas na actividade da meta-publicidade, que é uma rasteira sofisticação de um dos processos de compra e venda, de egos, de marcas, de talentos, de bluffs e o que mais se quiser. foram estruturados para isso, em maior ou menor grau. aproveita quem pode. quem não pode se sacode. aliás desavisados quixotes deveriam se aperceber que o leão de ouro é de bronze. não precisa ser mais que um iniciado em semiologia para saber que isto já é um índice do que verdadeiramente são.

promoção das agências:

convém admitir que há formas de promoção mais graves, quer de conteúdo ético-moral ou de carácter, praticadas por agências de publicidade: agências e profissionais mediocres não fazem trabalho medíocre por conta de limitações de cliente ou budget. fazem-no por limitações auto-impostas, impostas pela estrutura mãe, que opta pelo arrivismo tosco, plantado na falta de tomares manifestos pela aceitação de um jogo onde o trabalho profissional é o que menos conta. a maioria das agências sobrevive assim, salvaguardando algumas, infelizmente muito poucas.



soltando os cachorros

pode fazer-se um bom trabalho sem ganhar prêmios mas não se pode ganhar(alguns)prêmios sem um bom trabalho. acima de tudo, fica difícil ganhar o reconhecimento financeiro, que é caudatório dos prêmios, pelo menos a curto prazo e o poder de aprovar idéias que seriam consideradas medíocres ou inaproveitáveis, caso fossem apresentadas por alguém que tem cachorros e não leões. o mito do criador publicitário também é uma evolução da mitologia básica dos semi-deuses.é assim que são vistos os ganhadores, e em alguns casos, até os finalistas, dos festivais.por isso a questão não é de experimentação. é de acção, com fins muito claros. a distinção valorativa entre os ghosts é a sua qualidade intrínseca.

de boa intenção o inferno está cheio

pro-bonos são um gênero de ghosts. e os publicitários raramente estão a defender uma boa causa - a não ser a deles - e onde as instituições raramente acreditam no espírito humanista dos publicitários. os ghosts são mais éticos em seus princípios, pois costumam ser mais assépticos do ponto de vista moral, já que, quase amorais, pouco apelam para as misérias humanas na busca de impacto emocional, que diminuiu a cada ano - ó tempo, ó costumes -inclusive a nível de premiações, que mal tem passado do bronze. não estou a dizer com isso que pro-bono, em alguns casos, não ajudem imenso causas humanitárias. o cinismo ou o cepticismo não impede que o humanismo se manifeste em doses mais ou menos efectivas. mas deveria ser um antídoto para que não se perca a lucidez. uma coisa é fazer um pro-bono consciente da moeda de troca, outra é advogar isto como princípio de integração da profissão em causas nobres. se é assim, porque inscrevê-los em prêmios ? então façamos assim, de agora em diante, pro-bono não serão inscritos em festivais. vamos ver quantos serão feitos.


mas afinal fez ou não faz fantasma ?

como 99% dos publicitários, não faço ghosts;não incentivo ninguém da minha equipa a fazer ghosts; não participo de festivais que aceitam ghosts; jamais trabalharia numa agência que fizesse ghosts; não acredito que os depoimentos dos publicitários que dizem que não fazem ghosts sejam mentirosos; aliás, em matéria de ghosts, a única coisa que faço é mentir um pouquinho. e viva o tim maia.

2 comentários:

Anônimo disse...

Minha definição de fantasma: anúncio jamais publicado, mas apenas por falta de verba - da agência - para o efeito.

Fantasma é anúncio feito para concorrer em festival. Mas qual anúncio de festival não é?

celso muniz disse...

bom meu amigo: sobre fantasmas, a única coisa que posso dizer é que talvez seja um. fantasma de mim mesmo. e só. e olhe lá. se calhar até faltou verba para a inscrição. ou idéia.