O edital e o caminhão da Cruz Vermelha
É incrível a capacidade brasileira de subverter a ordem das coisas. Nos países ditos civilizados (ditos porque lá tem hooligans, Bushes e outros bichos), as empresas pagam para que as agências de propaganda participem de concorrências. Nada mais lógico. Em uma concorrência, a agência coloca todo o seu talento, know-how e dedicação a serviço de um cliente que ainda nem é cliente. Planeja, cria, busca soluções. Isso tem que ser remunerado. Muitas vezes, numa concorrência, a agência cria coisas que podem valer milhões.Imagine se o conceito "não é nenhuma Brastemp" fosse criado pela Talent numa concorrência. Quanto valeria isso? Bem, se fosse no Brasil, saberíamos: não valeria nada. As agências se engalfinham participando de concorrências sem ganhar um centavo. Parecem uma horda de refugiados atrás de comida quando chega o caminhão da Cruz Vermelha. Agora, como se não bastasse, inventaram uma nova modalidade: a concorrência paga. Isso mesmo. A agência é quem paga. No Caderno Cotidiano da Folha de São Paulo do dia 11/03/2005 há um comunicado sobre o Edital de Concorrência número 388/2005 do SENAC-SP, onde com a informação de que as agências interessadas devem COMPRAR o edital da concorrência até 18/03/05 por R$ 400,00. É ou não criativo? Agora as garotas é que devem pagar pelo programa. Você paga, trabalha, trabalha e torce. Acende velas, se veste de branco, sei lá. Tudo bem que nos dias de hoje R$ 400,00 não pagam nem um programa, mas o conceito está subvertido. Bem faz o Marcelo Serpa, que não participa de concorrências. Minha agência não é a Almap, mas também me neguei a pagar pelo programa. Claudio Gonçalves, Diretor da Manufactura de Propaganda.
3 comentários:
É a cadeia alimentar publicitária:
Em Dezembro de 2000, uma senhora chamada Vera autorizou um senhor chamado Albano a me "contratar". Os primeiros 3 meses seriam de experiência, ou seja, não me pagariam nada por isso. Como teria que me alimentar, me vestir, dormir em algum lugar e ainda ir para a empresa, seria o mesmo que pagar para trabalhar. Há quem aceite isso e se coloque no nível mais baixo da cadeia. Eu, que não pretendo ser comido por ninguém, disse não. Hoje, depois de algumas voltas da Terra, acabei entrando por outra porta do mesmo grupo do qual a tal Vera já não faz parte. Ok, estou ganhando menos do que gostaria, mas muito mais do que se tivesse aceitado a primeira proposta.
Nesta cadeia alimentar, prevalece o manda quem pode, obedece quem precisa. Mas o respeito só se conquista depois de conquistado o respeito próprio.
como diz um velho e bom ditado português: quem se agacha demais mostra o cú. torpe da costa heim ?
Ok, Vasco, tem razão sobre começar com calma, de baixo para cima. Esta também foi a minha história (acho que ainda é). Mas em 2000, eu tinha 8 anos de profissão. Pode não ser a maior das experiências, mas acho que é o suficiente para não ter que me sujeitar ao voluntariado para a agência que, na altura, era a que mais faturava em Portugal.
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