sábado, abril 15, 2006

quase tio patinhas ou porque ostentação rima mais com pobretão ?

O misterioso bilionário da construção civil brasileira.
Como o recluso Elie Horn tornou-se um os homens mais ricos do País ao fazer da Cyrela uma empresa de R$ 5 bilhões

Elie Horn gosta de carro velho. Dirige um Versailles, sedan da Ford que saiu de linha em 1996 e não deixou saudades.O carro só conhece um caminho em São Paulo: do bairro onde Horn mora à avenida Faria Lima, sede da Cyrela Brazil Realty, seu local de trabalho. O dono da maior incorporadora e construtora brasileira não gosta de fazer nada muito diferente do roteiro casa-trabalho-casa. A única exceção são as visitas à sinagoga, feitas religiosamente todas as sextas e sábados. Mas a pé - porque durante o "shabat" ele, judeu ortodoxo, não dirige. Eventos? Esqueça. Ele não vai a nenhum. Fotos e entrevistas? Nem pensar. É uma verdadeira aversão a aparições públicas. Perguntar a um de seus funcionários sobre sua personalidade ou temperamento é ver o empregado tremer de medo de perder sua vaga. Esse é o mundo fechado de Elie Horn, o bilionário da construção civil, 60 anos, com fortuna pessoal de US$ 1,3 bilhão - o que o levou a figurar na lista dos homens mais ricos e poderosos das Américas. No caso de Horn, poderoso e misterioso. O que se sabe dele é o que poucos amigos contam. E, mesmo os amigos, sabem muito pouco sobre ele.

Humberto Franco ; Edifício em SP : apartamentos que custam R$ 11,5 milhões


Nascido em 1944 na cidade de Alepo, na Síria, Horn veio para o Brasil aos 11 anos. Na adolescência, começou a trabalhar com os irmãos em uma construtora paulistana, onde aprendeu a lidar com terrenos, cimento e tijolos. Já formado em direito e depois de 20 anos como funcionário da construtora, fundou sua própria empresa, a Cyrela, hoje uma potência do setor. Na terça-feira 28, a construtora divulgou seu balanço financeiro, com um reluzente lucro líquido de R$ 127,8 milhões (leia quadro) . A Cyrela tem muito dos hábitos pessoais de Horn. "Os corretores não fecham nenhum negócio das 5 da tarde de Sexta-feira até o pôr-do-sol do Sábado", conta Luiz Paulo Pompéia, diretor da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp), que mapea o mercado imobiliário na cidade de São Paulo. Nesse horário, o período em que dura o Sábado sagrado judaico, todos os 1,2 mil funcionários da empresa são orientados a deixar o trabalho - mesmo que um baita negócio esteja para ser fechado. Ou mesmo sendo o Sábado o dia em que mais da metade das vendas do setor são concretizadas. "Elie Horn é profundamente enraizado no judaísmo e por isso faz questão de que sua empresa e seus negócios sigam seus preceitos", diz o rabino Henri Sobel, presidente da Congregação Israelita de São Paulo, com quem Horn gosta de se reunir eventualmente para debater filosofia hebraica. Tanto que o empresário, conforme atestam seus amigos, doa mensalmente 20% de seus rendimento a entidades de caridade - sempre ligadas à crença israelita.

Fora do período do santo descanso semanal judaico, Horn é do tipo que trabalha umas 15 horas por dia."Ele acorda às 4 da manhã e às seis já está no escritório. Sai às oito da noite e pouco depois das nove vai dormir", diz o empresário e amigo Romeu Chap Chap, presidente do Sindicato das Empresas de Compra, Venda e Locação de Imóveis (Secovi-SP). “É um sujeito simples, de hábitos simples. Não veste grife e você não o verá em campos de golfe, de pólo e nem mesmo em encontros do setor”. Chap Chap conta que certa vez tentou convencer o dono da Cyrela a comparecer a eventos nos quais sua empresa seria premiada. Ouviu a seguinte explicação de Horn: “As premiações desta vida são negativas na próxima vida”. Ele pode até abrir mão dos prêmios, mas não abre mão da liderança da Cyrela. Horn conseguiu transformar a empresa na maior incorporadora e construtora de imóveis do País, com 5,5% do mercado nos últimos dois anos, segundo a Embraesp."Ter essa fatia num ramo onde as dez primeiras companhias do setor detém 30% do mercado é muito expressivo", diz o diretor da entidade. E é verdade: entre incorporadoras (as empresas donas de uma obra) e construtoras (as que executam a obra) existem cerca de 400 firmas somente na região metropolitana de São Paulo.

O que faz a Cyrela ser diferente e a maior entre suas concorrentes, segundo o gerente sênior de auditoria da BDO Trevisan, Henrique Campos, são as estratégias de negócio adotadas por Horn. A primeira, é o foco no cliente que pode pagar por apartamentos de até 1.500 metros quadrados, com preço para lá dos R$ 7 milhões. Um deles, o Parque Alfredo Volpi, na região do Morumbi, em São Paulo, tem cinco suítes e uma varanda de quase 90 metros quadrados - maior que muito apartamento e classe média. Custa R$ 11,5 milhões, o que garante uma boa margem de lucro à empresa. Fazer parcerias com construtoras concorrentes também é outro traço da Cyrela "Dessa maneira, dividimos riscos e somamos nossas forças de vendas", diz Meyer.Joseph Nigri, presidente da Tecnisa, outra grande construtora, parceira da Cyrela. Segundo ele, os lançamentos da Tecnisa com melhor margem de lucro e maior velocidade de vendas foram feitos juntos com a companhia de Horn. Um condomínio na Vila Nova Conceição, em São Paulo, por exemplo, teve 108 unidades totalmente vendidas em duas semanas.

As parcerias, também ajudam a capitalizar a empresa, segundo o auditor da Trevisan. "Em 2004, a companhia tinha R$ 242 milhões em imóveis a comercializar, o que no setor eqüivale a um bom estoque e representa um sinal de saúde financeira", diz Campos. "No final de 2005, essa quantia tinha quase duplicado, chegando aos R$ 421 milhões." Não é para menos. A Cyrela abriu capital em setembro do ano passado, o que garantiu o maior aporte de investidores, boa parte deles do exterior, e catapultou a fortuna de Horn, dono de 52% da construtora. Hoje, o valor de mercado da empresa chega a R$ 5 bilhões. Mas, apesar do lançamento de ações ter sido bem sucedido, é aí que pode estar o calcanhar de Aquiles da empresa. Fechada como é e avessa a se relacionar com a imprensa - assim como seu fundador - a Cyrela não é tão transparente em suas informações como deveria ser, já que está listada no Novo Mercado - as companhias da Bovespa que devem ter o maior grau de governança corporativa. "A princípio, parece bom ser tão 'low profile' e não oferecer informações que podem chegar aos competidores. Mas uma vez que a empresa é aberta, isso pode ser um tiro no pé. O investidor toma sua decisão de colocar ou não dinheiro na empresa conforme o nível de informações que tem dela", explica Alexandre di Miceli, pesquisador-chefe do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Talvez de olho nisso, a Cyrela já esteja pensando em ser mais comunicativa. Na semana passada, abriu uma nova diretoria na empresa: a de marketing. Resta saber se o novo executivo fará da Cyrela uma empresa mais transparente, ou se também ele vai rezar pela cartilha de Elie Horn.

lílian cunha , para a isto é dinheiro, no comecinho de abril

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