Há dois anos e meio, Bruno Xavier foi passar 3 meses em Londres. Até hoje não voltou. Aliás, foi parar na Noruega, onde quase virou picolé de redator. Agora, de volta à Inglaterra, o ex-criativo da 100% e da Doctor está ralando na Grey UK. É dele, por exemplo, esse anúncio do Fairy que ilustra a matéria.
Bati um papo com o cara para saber como está sendo esta experiência. Com a palavra, o Bruno.
"Fábio, está sendo alucinante. Se eu já ficava feliz da vida fazendo título pra varejo de automóveis, imagina pegar um briefing com verba de 2 milhões de libras pra Nokia. E tem a AOL, Procter&Gamble, Visa...
Trabalho com caras que fizeram campanhas que eu via no Brasil e ficava louco. Os criativos do Stunt City (campanha superpremiada da Rexona) chegaram aqui faz 2 meses e um dos diretores de criação daqui criou aquele filme da Citroen, do carro que dança.
Outra coisa que tem marcado é o fato de ninguém ficar horas por dia vendo propaganda. Ninguém fuçando anuário, nem pendurado em sites baixando comercial. A galera passa a maior parte do tempo vendo animação, curta-metragem, artistas plásticos, inventores...
E aí você começa a descobrir de onde vem as idéias. Tipo o filme "Cog" da Honda. Tinha uma exposição em Zurich só com aquele tipo de engenhoca. Neguinho colocou um carro e correu pro abraço.
Mas deve ter gente se perguntando: como é que esse moleque foi parar na Grey de Londres? Bicho, tirando os meus olhos azuis, o que mais me ajudou foi ter ganho uma espécie de Clube do Futuro que o D&AD faz. E o melhor, foi de graça (Fábio, tô depositando na tua conta o cachê pelo jabá do D&AD).
Outra coisa que me deixou chocado foi que ninguém aqui tem portfolio com foto e layout pronto. É tudo desenhado a mão. Photoshop quem usa são os assistentes e designers, criativo é pago pra pensar. Não sei se esse modelo não deveria ser seguido pela galera daí, mesmo sabendo que a realidade do Brasil é diferente. Mas as vezes você vê um cara que tem idéias do cacete acabar perdendo a vaga pra um outro que é amigo do fotógrafo...
um criativo brasileiro em londres, material extraido da lista do CC-NAT, que de vez em quando publica coisas como essa que compensam o new-febeapá que costuma se abater por lá. tirando o atestado de colonizado do bruno(o mérito de chegar lá ninguém lhe tira) nas exclamações pelo tamanho das verbas e contas e por trabalhar com caras famosos - quem trabalha com o nizan, com o serpa, com o washington, com o fábio, não o enrevistador, o fernandes, muitíssimos mais importantes em gênero, número e grau, do que os citados, deveria então abater do salário o contato por osmose ? - chama atenção o modêlo retrô implantado: aquele em que o criativo é pago para pensar, ora pois, pois. na raiz da palavra já está lá. alguém já imaginou criar sem pensar? depois quando se fazem observações críticas a industria de salsicha que se tornou a propaganda brasileira, principalmente a regional, fica aquele clima de que nós estamos com dor de cotovelo ou arrotando o que já não se é. já foi assim no brasil ô caras, os criativos sêniores, pensavam e rabiscavam as idéias em mini leiautes e passavam para os júniores ou intermediários para concluir a tarefa e/ou até dar seus inputs. isso significava aprendizado de primeira. tempo em que muito diretor de arte começava numa agência lavando pincel de muita gente boa, tempos em que havia uma pia no estúdio para se lavar as mãos antes de de as por no trabalho. veio a "tal modernidade", o maior mico que pagamos até hoje, e instalou-se a escravatura branca: os criativos tem de criar - mas aí nem precisa pensar muito, abre-se uma archive daqui, um anuário dali, bate-se uma bola sobre tendências, discute-se se alguém vai perceber ou não a chupada e que se foda! - sai mais um da pastelaria(isso em agência que tem archive). depois tem de finalizar, na maioria, enquanto faz mil e uma refações(consequências de trabalho que é feito sem pensar) afora outras penalidades vexatórias. e ai, se o cara não é pago pra pensar vai se pagar o que para ele? lógico, salário de montador em linha. aliás, qualquer um de linha de montagem eletrônica ou da indústria automotiva, não só tem salário melhor do que qualquer criativo de meia tigela, como tem planos e benefícios que a turma do " metade da metade por dentro e o resto por fora" não ganha nem a metade. depois ainda tem gente que fala no glamour da profissão. glamour, que glamour? até puta hoje tem mais glamour que qualquer publicitário de segunda. aliás não é à toa que o grande case de marketing do ano passado foi a bruna surfistinha. publicitário hote, também só aparece nas manchetes quando está envolvido em alguma putaria, e tem de ser das grossas, porque meia bomba hoje nem isso mas é notícia. séguelá atirou no que viu e acertou no que não viu quando afirmou: não contem para minha mãe que eu sou publicitário. ela pensa que eu sou pianista de bordel. duvido que ele tivesse idéia do que estava dizendo ia ser assim tão verdade. ainda assim, não desista, por isso mesmo: melhor ser pianista de bordel do que ser faixineiro de criação, mesmo usando fairy, que rende pra cacete: uma embalagem bate fácil fácil, dúzia e olhe lá caixa e meia dos detergentes que você conhece na terra do ypê.
Um comentário:
Pois é caro Celso, e eu que ainda te pergunto o motivo do desengano...
Postar um comentário