os portugueses são muito ciosos do seu idioma, no que fazem muito bem. chegam até ao rubro quando se diz sotaque português, como disse uma certa senhora, tida como importante e incisiva, em programa televisivo: “ como sotaque português?— respondendo a um brasileiro. eu não tenho sotaque. fomos nós que criamos a língua. quem tem sotaque são vocês “.
acontece que os mesmos defensores do idioma são os primeiros a desrespeitá-lo ao dizer que falamos “ brasileiro”.
ora pois, pois que santa ignorância. não existe o idioma brasileiro. falamos e escrevemos português, se é que não sabem. um português que representa, não um barbarismo mas sim a evolução e revolução da língua por 180 milhões de pessoas que, doutas ou ignorantes, decisivamente contribuem para sua afirmação no planeta. compreender a riqueza e as características evolutivas da língua, seja no brasil, seja em áfrica, seja no oriente é no mínimo ter paixão pela língua. mas não castradora. nossos dicionários, não por acaso tidos como os melhores da língua, registram o triplo das palavras registradas pelos congenerês lusos. e assim o é porque longe de dizer " não falamos assim ou isto não existe em português ", nós o fazemos existir, pois a função da palavra não é só representar a realidade mas tornar a realidade decifrável e cifrável em todas as suas nuances.
deveria ser dever de casa, enriquecedor se quer que o diga para qualquer português ou não português que ama a língua, conhecer as diversas nuances da língua praticada nos continentes mundo a fora. e neste sentido a tradução, quer para portugal dos livros editados no brasil e vice-versa, como os editados em africa ou onde mais for é um deserviço à lingua.
deveriam ser impressos no original, quando ao máximo, acompanhados de glossário, para que assim aprendessemos novas palavras, novos significados. e como as palavras conhecidas podem ter outros sentidos e significados, descobrindo em muitos casos de onde elas vieram.
quem ama a língua solta o verbo. não a prende. corrije e ensina, aperfeiçoa ou tolera mas não impõe.
já é tempo de alguns portugueses- e brasileiros- perceberem que mais importante do que a palavra saudade é a palavra liberdade. se a primeira só existe em português, a segunda precisa ser praticada aos excessos. só assim depuram-se sobras.
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