epitáfios não deveriam ser piores do que os fins
a morte decretada da secção criatividade é um destes casos. a secção, entre outras utilidades e futilidades, tinha o míster genuíno de confirmar a silibina afirmação de que a inteligência humana tem limites, a estupidez não. Isto, quer por muito dos anúncios em sí, quer pelas abordagens — era irrefutável. fui convidado a comentar – já fui comentando – e não aceitei. continuo a achar que o mercado é o melhor juiz de quem faz sem falar e de quem fala sem fazer, provavelmente um anátema que paira sobre a minha cabeça. mas pior é a argumentação sectária de alguns diretores criativos que, por serem multipremiados, pavoneiam-se acima do bem e do mal, ditando o cala-boca ao direito de opinão, ainda que mal exercido. há uma sábio princípio que diz que você é bom até o último anúnco que fez.é salutar, é oxigenador, impede que vetustos premiados se armem em senhores dos destinos profissionais de outrém, com base em “ glórias passadas”, algumas vezes bem passadas. não fosse assim,parco exemplo, iria afirmar que como já ganhei, entre outras coisas,o prémio de melhor campanha brasileira de publicidade do ano( sim, eu sei que não é leão mas foi ganho disputando com os trabalhos do washington, do nizan, do marcelo serpa, deve valer alguma coisa)teria salvo conduto para ilibar-me de algumas cagadas que produzi, cagadas de quem ninguém está salvo – somos todos mamíferos – assim como salve, e salve-se quem puder, da percuciência e acutilância dos comentários de alguns membros da casta – mas não castrados – dos imberbes não premiados. o argumento ditatorial da multi-premiação é solo muito pouco criativo para se assacado assim na auto-defesa de profissionais assim-assim premiados; e que cada vez mais querem segregar os comuns mortais que fazem e sustentam o mercado( há excepções, evidentemente) para além do mercado de néom. por outro lado, não posso deixar de lamentar que o “briefing” ceda a mais esta pressão.estará o destino e a respeitabilidade do jornal também na mão dos multi-premiados. quero muito acreditar que não. e que os interesses que movem todo e qualquer jornalismo não tenham chegado a tanto. a “ ditadura da eficiência “ em qualquer profissão afirma-se mais respeitavelmente pelo suor dos trabalhos consistentes.. prémios são episódios. uns dignos, outros não. a publicidade, e acima de tudo, a liberdade de expressão, é que são instituições que não devem ser preteridas por tais episódios. e, como bem disse, o editorial, se um cliente, uma agência ou um profissional se sente ameaçado por comentários tão estúpidos, então estão a ser mais estúpidos do que tais comentários. assim, se lhes parecer pardoxal esta opinião, oportunista talvez, quiçá seja apenas o cacuete de quem, oriundo do jornalismo, viveu um tempo em que o não silêncio podia significar tortura e morte.e que por isso mesmo não esqueceu voltaire: “ não concordo com uma única palavra sequer do que escreve, mas defenderei até a morte o seu direito de o fazer”. os bobos da corte serão sempre necessários para mostras que os reis, mesmo os multipremiados, continuam nús.
celso muniz, director criativo da ska “ mono premiado “
briefing de 24 de abril de 2001.
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