quarta-feira, agosto 24, 2005

quarta à portuguesa: a corrupção está no sangue ?

*tom coelho, com formação em economia pela FEA/USP, publicidade pela ESPM/SP, especialização em marketing pela MMS/SP e em qualidade de Vida no trabalho pela FIA-FEA/USP, é empresário, consultor, professor universitário, escritor e palestrante. diretor da infinity consulting e diretor estadual do NJE/Ciesp, escreveu um artigo que parece ter desagrado ancestrais e descendentes. se em tom maior ou tom menor digam quem se se sentir tocado.
na sequência a" tréplica" do tom, ressaltando que não tivemos acesso a ou as réplicas.

genese da corrupção
*por Tom Coelho


“(...) que os criminosos fiquem em terra de meus senhorios e vivam e morram nela, especialmente na capitania do Brasil que ora fiz mercê a Vasco Fernandes Coutinho (...) e indo-se para morar e povoar a capitania do dito donatário, não possam lá ser presos, acusados, nem demandados por nenhuma via nem modo que seja pelos crimes que cá (em Portugal) tiverem cometido (...)”
(D. João III, 1534)

Somos fruto de um legado errático proporcionado por aqueles que aportaram nestas terras há pouco mais de cinco séculos. Fomos colonizados pelo que havia de pior, os chamados degredados. Assaltantes, ladrões, homicidas, vadios, heréticos, enfim, párias da sociedade portuguesa que receberam não como prêmio, mas como castigo, o indulto para habitar o Novo Mundo.

Indivíduos desta estirpe, miscigenados com o tempero do clima tropical, acabaram por fomentar uma raça de pessoas com valores e princípios desprovidos de moral e ética. Uma herança fenotípica que penetrou no DNA, tornando-se herança genética. Não se trata mais de questionar o que é bom ou ruim, onde reside o bem o e mal, mas apenas constatar o que é.

A barganha nos governa desde a mais tenra idade. O comportamento exemplar é laureado com sorvete e brinquedos. Boas notas valem uma viagem. O ingresso na faculdade é recompensado com um carro. Dedurar atos corporativos inadequados converte-se em promoção. Confessar os pecados e rezar uma dúzia de orações garante a salvação da alma.

Meias-verdades são mentiras inteiras. Tautologicamente, mentiras inteiras ditas persistentemente tornam-se verdades. E verdades absolutas. Assim desenvolveu-se Hitler, orientado por Joseph Goebbels.

Correios, IRB, Furnas, são versões atualizadas da Coroa-Brastel, do escândalo das jóias, da Operação Uruguai. São apenas notícias na pauta do dia. Estamos diante de um supermercado dotado de gôndolas com as mais diversas opções: prevaricação, nepotismo, peculato, jogatina, favorecimento, desvio, desfalque, subserviência. Escolha a que mais lhe agradar.

Os atos sórdidos invadem o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. São observados nas esferas federal, estadual e municipal. Nas pequenas, médias e grandes empresas. Podem ser encontrados na Educação, na Saúde, na Habitação, nos Transportes, na Cultura, nos Esportes. Escolha onde deseja procurar.

As concorrências públicas são direcionadas, jogos de cartas marcadas. Os recursos não viram salas de aula para educar, leitos em hospitais para assistir, medicamentos para curar, casas para morar, água para culturas irrigar.

Terras escriturais, pedras preciosas certificadas, títulos da dívida agrária, são todos vendidos com valor de face superfaturado para liquidação de débitos junto ao Fisco. Liminares, mandados de segurança, despachos, recursos, agravos alimentam a indústria da protelação – e da empulhação. Enquanto isso, o furto de uma fruta numa barraca de feira leva ao cárcere o réu, ainda que primário.

Qual a diferença entre o deputado que recebe o “mensalão” e o síndico que embolsa uma comissão sobre o valor de um serviço contratado? Qual a distinção entre o empresário dono de cervejaria que se utiliza de expedientes diversos para reduzir a carga tributária e os profissionais liberais, notadamente médicos, dentistas e advogados, que concedem desconto nos serviços prestados quando dispensados da emissão de um recibo ou nota fiscal? A medida é apenas sua magnitude.

A corrupção está presente no ambulante que, em barracas montadas nas vias de grande circulação ou nos semáforos, comercializa produtos adquiridos sem nota fiscal, com procedência discutível, vendendo-os igualmente sem documento fiscal, desprovidos de qualquer garantia. Está presente também na atitude de quem adquire tais produtos. Está estampada nas embalagens cujo peso aferido não corresponde ao declarado. Está institucionalizada nas repartições públicas nas quais se paga uma guia de arrecadação para dar maior celeridade a um processo burocrático qualquer.

A Lei é falha porque é complexa, porque são muitas, porque não são aplicadas – embora aplicáveis. Os impostos não são pagos em sua integralidade porque são muitos, porque são elevados, porque não conferem contrapartida social – embora a arrecadação cresça continuadamente. Somos todos pequenos ou grandes foras-da-lei, porque nos justificamos pela rebeldia, pela indulgência, pela sobrevivência, pela impunidade, exceto pela genética.

Construa-se um muro delimitando nossas divisas territoriais. E deixe que os antropólogos estudem o que acontece neste país.



os donos da razão( "a tréplica")

“No mundo, apenas o bom senso é bem distribuído.
Todos garantem possuir o suficiente.”
(René Descartes)

Recentemente publiquei um artigo intitulado “Gênese da Corrupção”, no qual faço um apanhado histórico remetendo às nossas origens e ao processo de colonização da terra brasilis capitaneado inicialmente pelos chamados degredados. Alguns portugueses e descendentes sentiram-se ofendidos. Inclusive foi registrado um caso de um leitor que compareceu à redação de um jornal, no qual sou colunista, para expor sua indignação ao Editor.

O episódio inspirou-me a versar sobre a questão da razão e do bom senso. E a tecer comentários diversos que presumivelmente não são do conhecimento da maioria dos leitores que acompanham meu trabalho.

Sou um escritor por opção, por paixão e por vocação. Não por profissão. Embora meus artigos sejam publicados atualmente por mais de 200 veículos da mídia eletrônica (Internet) e impressa (jornais e revistas), em 11 países, sendo possível contabilizar presentemente links para mais de 20.000 páginas através do Google (www.google.com.br), para mencionar apenas o buscador mais utilizado, não recebo um único centavo por linha, lauda ou página escrita.

Escrevo para compartilhar idéias e impressões, estimular debates e reflexões. Propor, hora um olhar crítico sobre um tema que afeta nossa sociedade, hora um toque ameno sobre as virtudes esquecidas. A objetividade da razão em alguns momentos, a subjetividade da emoção em outros. Enfim, não vivo de escrever, escrevo sobre a vida.

É evidente que muitas vezes chego a ser polêmico, correndo o risco de desagradar a alguns. Os assuntos acabam sendo abordados superficialmente, haja vista que os textos devem buscar a concisão, conferindo a inadequada impressão de serem taxativos e dogmáticos quando na há a pretensão de se impor regras. Não busco a unanimidade. Ela seria o fim, posto que não utópica, mas indesejável.

É a partir da adversidade que se pode aprender, crescer e se desenvolver. Lembro-me de Fernando Pessoa: “Tenho prazer em ser vencido quando quem me vence é a razão, seja quem for seu procurador”. É claro que não mudo de opinião com a volubilidade típica dos adolescentes, mas tenho a flexibilidade lapidada pela maturidade. E não tenho compromisso com o erro.

O artigo em questão apresentou aspectos extraídos de nossa história, como a definição de quem eram os degredados. Gente de menor estirpe, o que não significa uma generalização do perfil de toda uma raça. Tratava-se de fatos e, como tais, inquestionáveis. Inexistem argumentos capazes de refutá-los. Ademais, desenvolvo teses que minha razão julga coerentes. São as minhas teses que podem ser apreciadas ou não, compartilhadas ou repudiadas. Podem ser lidas ou descartadas, da mesma forma como se pode, com um simples pulsar no controle remoto, mudar de canal na televisão. E acrescento: representam minha opinião, a do autor, e não a do veículo que a publica, o qual será sempre digno de respeito e admiração enquanto não optar pela prática despudorada da censura.

Lutamos muito, anos a fio, pelo sonho de liberdade. Todos os tipos de liberdade. E a liberdade de expressão é uma das suas mais belas formas. Através da palavra exercemos a cidadania, consolidamos a democracia, fortalecemos nossas instituições. A presunção da verdade, a expectativa de se imaginar dono da razão, qualquer seja ela, nos apequena, nos menospreza e nos enfraquece.

É a crença na verdade, postulada com base em razões pessoais, que alimenta os mais variados conflitos. Greves intermináveis que poderiam sequer ter iniciado mediante uma negociação equilibrada. Diretores que praticam a máxima do “manda quem pode, obedece quem tem juízo” junto aos seus subordinados, e depois lhes cobram iniciativa, entusiasmo e motivação. Candidatos a cargos políticos que se digladiam como se não existissem pontos de convergência em seus discursos, mas cujas práticas se espelham. Casais que “discutem a relação” sem perceberem que ela deve ser, antes de tudo, vivida.

Sêneca dizia: “Gosto de aprender porque me capacita a ensinar”. A cada novo artigo publicado, sempre acompanhado de meu endereço eletrônico, aguardo com expectativa e recebo com satisfação mensagens de meus leitores. E jamais deixei de responder pessoalmente a quem dedicou minutos de seu tempo para escrever-me.

Lamento que nenhum dos lusitanos insatisfeitos tenha optado por dirigir a mim seus comentários. Teria tido a oportunidade de descobrir que em minhas veias corre sangue de ascendência grega. E portuguesa.

mais tom no www.tom.coelho.com.br

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