segunda-feira, agosto 29, 2005

já não se fazem mais perucas como antigamente

1. “... muitos colegas ficaram indignados com o fato de ele (Marcos Valério) ser tratado como um dos nossos e quiseram que a Abap se manifestasse esclarecendo que Marcos Valério não é publicitário. Não concordei que nos posicionássemos oficialmente sobre isso porque ele é de fato sócio de suas agências conhecidas, estabelecidas e ativas, o que faz dele, na prática, um empresário da indústria da publicidade. É importante não perder a razão e a serenidade ao avaliar tudo o que está acontecendo. (...) Muita gente queria que eu reagisse lembrando que a publicidade brasileira está entre as três melhores do mundo, que empregamos 32 mil pessoas, que recolhemos muitos impostos, mas a verdade é que ninguém está perguntando isso. O que está sendo colocado em dúvida é a postura ética de agências em sua relação com o governo federal. Não podemos ignorar a crise, temos que ficar na superfície. E nada seria mais suspeito do que sairmos agora na defesa do nosso negócio reafirmando coisas que ninguém está questionando”. (Dalton Pastore, presidente da ABAP, em entrevista à Revista Isto É, data de capa 17 de agosto).

2. “Não é por acaso (que dois publicitários estão no epicentro do escândalo). O jornalismo é uma profissão cujo objetivo filosófico é trazer à tona certas coisas que as pessoas não sabem. Tem compromisso com a verdade. Agora, qual é o objetivo filosófico da publicidade? A mentira. É mentir sobre o sabonete, a maionese, a margarina, o político. Fazer anúncio sobre seguro médico é uma ofensa. Fico envergonhado ao ver que os bancos estão tomando dinheiro de velhinhos e os atores da Globo anunciam isso. Os velhinhos pegam o dinheiro e pagam juro antecipado! É uma indecência. E por que o Estado tem de fazer publicidade? O que o Ministério da Saúde precisa é divulgar o calendário das vacinas, coisas assim. Não tenho respeito pela publicidade. Os caras ficam aí se gabando de que sabem fazer slogans e passam anos para criar coisas como Coca-Cola é isso aí. De quantos slogans precisam? Faço dez agora”. (Millor Fernandes para O Estado de S. Paulo de domingo último, dia 14).

3. “O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Carlos Velloso, defende o fim dos marqueteiros na política nacional. Convencido do “mal que eles fizeram”, Velloso diz que as propagandas (sic) milionárias são a raiz da disseminação do caixa 2 e propõe mudanças radicais nos programas eleitorais da TV, com tempo menor, para barateá-los, e proibição de cenas externas, para acabar com a maquiagem eleitoral. É aquela história de vender o candidato transformado em sabonete. Isso precisa acabar”. (O Estado de S. Paulo de domingo, 14).

4. Que me perdoe o presidente Dalton, mas o setor tem de se manifestar, sim. E com urgência. Claro que não basta a Abap gritar sozinha. Todo mundo sabe que, embora represente agências que têm um faturamento equivalente a 80% do mercado, ela não representa a maioria das agências do mercado. E aqui, mais do que o faturamento importa o setor, como um todo.

5. No fundo, Abap e Fenapro têm culpa do seu enfraquecimento. A primeira porque vem impedindo, ao longo de quase trinta anos, que o setor se reúna. A segunda, porque se omite, ao aceitar passivamente uma posição caudatária. Agora, porém, é a hora da humildade. De ambas voltarem atrás. De reconhecerem que precisam se fortalecer. E de chamar todo o setor para, em um amplo Congresso, manifestar sua força. Para explicar, coletivamente, sua função e a seriedade com que a desempenha.

Vai doer um pouquinho, porque não é fácil ser humilde para quem sempre anda o tempo todo de nariz pra cima. No entanto, empresários e profissionais saberão ver nisto um gesto de grandeza. Ficarão imensamente agradecidos. E - aí, sim – reconhecerão a liderança de ambas as entidades e dos que as dirigem.

eloy simões no www.acontecendoaqui.com.br

3 comentários:

LC disse...

Andar com o nariz empinado. Arrotar slogans geniais, sacadas incríveis, criar anúncios que só meia dúzia de outros profissionais do mesmo mercado vão entender...a Publicidade no Brasil, como negócio mesmo, ainda não acordou pra realidade. A gente trabalha aqui no varejão, com os olhos e a cabeça no glamour de Cannes, nos grandes festivais internacionais...nas contas milionárias. O mundo mudou e parece que entre a realidade e o briefing que chega todo dia nas mesas dos nossos criativos, há um vácuo.
Real mesmo é que, como na vida privada..jovens sem emprego, sem estabilidade, sonham com a possibilidade de um dia conseguir um emprego (mamata) público; entre as pequenas e grandes agências, se repete o sonho da nossa juventude desempregada.
Dose de realidade. Falta profundidade nas discussões de nossa profissão.

celso muniz disse...

quem sabe você possa contribuir para dar profundidade a estas mesmas discussões. a começar de uma identificação menos rasa, pois não ?

Anônimo disse...

Meu nome é Luiz Carlos Pontes.
Trabalho como redator na Três aqui em João Pessoa, Paraíba.
Estudo o último ano da faculdade de jornalismo na UFPB.
E encontrei teu blog por acaso.
Gostei bastante dos textos que li aqui...virou hábito agora.
Desculpa aí mas eu por "falta de profundidade" na procura das ferramentas de postagem das mensagens, não sabia por o nome.
:)