sábado, dezembro 09, 2006

entrevista do sábado: publicitários são protéticos(quando não patéticos)


Clubeonline: Como você dosa seu tempo entre as diversas atividades que exerce?

Zé Rodrix : Aprendi há muitos anos, com o Chico Anysio, que é um cara multicapacitado, uma verdade inegável: quanto mais coisas você tem para fazer, mais tempo lhe sobra. Você tem que se organizar, ou seja, determinar os espaços no seu dia para fazer algo e ter um foco muito preciso. Assim você consegue efetivamente fazer tudo. Nós somos muito dispersos e quando temos muita coisa para fazer temos que conseguir nos concentrar e focar. Tem que pegar um trabalho e fazer rápido, não deixar para a última hora.

C: Quais são suas atividades hoje em dia?

ZR: Trabalho na Crianon, que faz criação, produção de imagem e som, promoções, eventos, documentários, como o que eu dirigi para a Alonso Menendez (fabricante de charutos). Cuido de toda a parte musical da TV Cultura, da TV Rá-Tim-Bum e das rádios Cultura AM e FM, para as quais fiz um trabalho de criação de uma identidade sonora. Faço muita palestra para estudantes de publicidade. Minha apresentação nesse caso se chama “A Comédia dos Erros”, ou seja, eu não uso as palestras para glorificar meu trabalho, mas sim para mostrar as cagadas que a gente faz e enfrenta na profissão. Só os erros ensinam. Tenho um trabalho com a editora “A Girafa”, no que diz respeito à compra de coleções, visando dar uma cara para a empresa, e sou diretor da APP (Associação dos Profissionais de Propaganda). Além disso tudo, componho, tenho o trio (Sá, Rodrix e Guarabira), faço meus shows solo, sou curador do Clube Caiubi de Compositores, no bairro de Perdizes, e escrevo livros.

C: E a publicidade?

ZR: Em março de 2000 eu deixei a produtora Voz do Brasil. Meu sócio, o Tico Terpins, morreu em 1998. Só voltei a mexer com publicidade em 2003, quando o trabalho para um cliente demandou a construção de um estrutura, que ficou legal e começamos a atender outros clientes. Foi assim que surgiu a Crianon. Nossa filosofia é focada no cliente e não na equipe, no ego. Por isso o nome, Crianon, que significa Criativos Anônimos.

C: Como você vê a publicidade hoje em dia?

ZR: A publicidade passa por um problema que é não conseguir aglutinar posturas positivas. Durante um bom tempo, os profissionais estiveram preocupados apenas com o lado material das coisas, no qual o único padrão de excelência era o dinheiro. Mas e o que acontece dentro de cada um? E sua verdade interior e a relação com seu público? Se não existe fidelidade com quem você exerce sua profissão, como você vai gerar fidelidade com seu público? As pessoas estão começando a rever alguns conceitos que são muito bons para a publicidade materialmente, mas que comem ela por dentro, como um cupim. A saída é não ter medo da mudança.

C: Qual a maior mudança na publicidade brasileira nos últimos anos?

ZR: A grande quebra de paradigma na publicidade brasileira foi na década de 90, quando os anunciantes se organizaram sob a forma da ABA (Associação Brasileira de Anunciantes). Ela chegou mostrando ao mercado que as empresas estavam unidas e entendiam do negócio. A partir dali, os clientes mostraram que realmente sabiam como funcionavam as coisas. De certa maneira, os publicitários, durante as décadas anteriores, vieram matando a galinha dos ovos de ouro. Grande parte da publicidade era conversa fiada para enganar os clientes. E uma hora eles disseram “Chega! Ninguém aqui é otário”.

C: Como você vê o trabalho dos publicitários?

ZR: Sempre comparei o trabalho dos publicitários como o de um protético, profissional que faz dentaduras. Nós somos pagos para embelezar a boca de alguém que nos paga para isso. Não é nada mais do que isso no mundo inteiro e não podemos ir além da prótese. De repente o publicitário passa a ser um parâmetro de ideologia, de raciocínio político ou de comportamento. Nós somos apenas publicitários e temos que sentar e fazer o melhor trabalho possível. No final do dia, nós temos que nos dar conta de que não salvamos nenhuma criança de morrer de câncer e que não acabamos com a fome na Nigéria. Trabalhamos para vender e temos que aceitar nosso verdadeiro tamanho.

C: E o mercado?

ZR: As médias agências irão acabar. As 15 principais agências estão nas mãos de seis grandes conglomerados. Depois temos de 500 a 600 médias e essas viverão um momento complicado, pois elas só enxergam o caminho do crescimento. O correto seria o caminho do bom serviço prestado. Algumas agências têm o vício de achar que só se justifica estar no mercado se for para ficar cada vez maior e mais rico. Acho que não é isso e acredito que às vezes temos que diminuir de tamanho. No exterior, as pequenas butiques de criação, que são ágeis justamente pelo seu formato e tamanho, têm alcançado resultados melhores. Tudo mudou e nosso equívoco é tentar preservar a qualquer preço uma realidade que já acabou.

C: E qual sua visão do futuro?

ZR: O marketing direto é um caminho fundamental e quando as pessoas estabelecerem processos corretos para essa ferramenta, não tem cliente que não irá optar por ela. Quando você consegue unir sua publicidade com seu ponto de venda, você tem um rendimento muito maior. Vejo isso pelo mercado de discos. Nos shows é que os artistas vendem mais discos.

C: E as gravadoras? O que mudou nesse mercado?

ZR: As gravadoras antigamente experimentavam e ousavam mais do que hoje em dia. Era assim que funcionava: você tinha os artistas populares, que vendiam muito. Algo parecido com o pagode e o axé de hoje. O lucro com esse tipo de artista era repassado para outras produções, que não iriam vender muito, mas que encontrariam, em algum momento, seu público. A partir de 1981 esse modelo acabou e as gravadoras colocaram para fora quem não vendesse bastante. Por conta disso, hoje em dia, as experimentações são feitas no mercado independente.

C: Qual sua opinião sobre a atual fase a MPB?

ZR: A MPB não significa mais nada, pois não tem nenhum ponto de contato com a alma brasileira. Ela fala para uma camada muito pequena da população que está dogmatizada e aprendeu a dizer apenas “isso é bom e isso é ruim”. O camarada liga o rádio, bota na Nova FM e acha que está cumprindo uma missão ideológica. Quem gosta de MPB gosta de artista e não de música. Do Caetano, por exemplo, eu gosto das músicas boas que ele fez. Das ruins eu não gosto mesmo e não sou obrigado a gostar. Aí vão dizer: “Pô, mas é o Caetano!”. Dane-se.

C: E o trabalho com o trio Sá, Rodrix e Guarabira?

ZR: O trio continua fazendo o mesmo estilo que foi chamado pela crítica especializada no início da década de 70 de Rock Rural. Nós nos separamos em 1973 e o Sá e Guarabira continuaram. Em 2001, nós voltamos para fazer o Rock in Rio. Aí gravamos um CD e um DVD ao vivo, com algumas músicas inéditas, como “Jesus numa Moto”. Nos nossos shows conseguimos levar três gerações: os nossos fãs originais, os filhos e os netos deles.

C: Como foi voltar a compor depois de anos apenas fazendo jingle?

ZR: Eu passei 20 anos somente compondo por encomenda, só fazendo jingle. No dia em que decidi parar de fazer publicidade, eu acordei, sentei ao piano e fiz uma música. Eu percebi ali que minha capacidade de compor sem ser por encomenda estava preservada.

C: Quais as diferenças entre compor uma canção e um jingle?

ZR: O processo de criação de um jingle e de uma música própria é o mesmo, no início. Você sabe o que tem que fazer, vai lá e faz, sempre buscando a melhor forma da obra. Por uma questão de prazo, um jingle não pode ser melhorado como uma música pode ser. Quando componho, eu passo diversas vezes a flanela na canção para deixá-la melhor, sempre. O foco no jingle tem que ser apurado e preciso. A publicidade é a exacerbação do direito de escolha. Se todo mundo faz bons trabalhos, resta ao público escolher o melhor produto para consumir. Hoje em dia, o público apenas toma conhecimento do produto pela propaganda. Antigamente, um bom jingle convencia um consumidor a comprar determinado produto. Hoje, nenhum jingle é feito para durar, como acontece com os trabalhos feitos há tempos.

C: Usando a analogia dos templos, quais dos que você construiu foi mais marcante em sua vida?

ZR: Todos os meus templos construídos foram destruídos. A Voz do Brasil foi um deles. Passei 20 anos com o Tico e nesse tempo nós passamos buscando um negócio imponderável chamado segurança e ela não existe. Buscamos coisas que não eram essenciais para a gente. Temos que abolir todos os supérfluos de nossas vidas, é isso que eu aprendi. A morte o Tico foi um baque para mim, uma perda muito grande. Levei um bom tempo até ficar íntegro de novo, por isso deixei de fazer publicidade. Fiquei três anos longe do mercado. A Voz do Brasil continua viva e atuante nas mãos do Alan Terpins, filho do Tico Terpins. O que acabou foi a felicíssima sociedade que eu e Tico tivemos e que durou maravilhosos 20 anos.

(trechos da entrevista do zé rodrix para o clubeonline)

pluritalento de inegáveis méritos, zé rodrix tropeça na prática o discurso do zé levou uma topada: quem viu o casamento da sua filha documentado pelo programa do amaury júnior, quanta ostentação, sabe do que estou falando(aliás por sí só aparecer no amaury já é pouco recomendável) salvo ele tenha mudado de posição a partir daí.
será que ele vendeu a casa no campo e mudou para uma mansão no morumbi?

Um comentário:

Anônimo disse...

Sua coerência foi comida por cupins.