segunda-feira, setembro 04, 2006

recado para o leo ou seria ao leo?

na segunda que passou, foi marcada uma reunião na sede do sindicato dos publicitários de pernambuco, procurando fomentar ações, medidas, quiçá uma campanha pela valorização dos publicitários e, vá lá da atividade, que segundo um senso não muito comum anda mais rasteira do que cu de tatu.

tive vontade de ir dar uma conferida no zygmunt katz e ver como portam-se ante a fogueira as joanas d´arc bresson de hoje. mas como não há estoque de pomada de cacau que chegue, apliquei-me em mais um pouco do mesmo — faz tanto tempo, que nem me lembro se é assim que se escreve o nome do tal edifício, antigo endereço da lab/abaeté, primeira agência que colocoquei os pés, recusando rótulo de estagiário e onde já exercitei o pé na bunda ao contrário, sincopando o samba do ernesto, “diretor de criação, que nada mais era do que o genro de então do queiroz, nada mais do que isso e fechem-se as aspas”.

o assunto, apesar de muito simples, se aprofundado, vira tese de mestrado, doutorado e pós-doutorado. e como não sou nada disso, fico pelo multifaceitado e assaz fragmentado saber condóido de experiências passadas. das quais alimento o espírito, e a luta até hoje. aliás, razão pelo qual pela enésima vez consecutiva não levo o prêmio de miss simpatia e o que é pior: só short-list do prêmio limão.

um das preocupações atuais é a baixíssima remuneração de profissionais e exploração dos estagiários. hoje nada mais que moedas-tostões no troco-troca da mão de obra mais qualificada, e teoricamente com mais peso na folha salarial, pelos menos assim também visto no âmbito da lista do ccpe, ainda que à trouxe-mouxe a questão receba comentários em sua maioria de tabula rasa.

muita gente sem parâmetros históricos e intelectuais repete a construção do ouvir o galo cantar e não sabe aonde, no debate que não chega nem a repetir nível de dce. e não quero aqui deitar saber, assumindo a pose de sábio. afinal, se não resolvo nem meus problemas, não vou eu querer resolver um problema de classe, melhor aglomerado.

aglomerado, não é raspa de compensado prensada. resmungo, remexendo meus alfarrábios jornalísticos para publicação no hayquetenercojones.blogspot.com onde encontro em meio a artigo, uma passagem que bem pode ser aplicada analogicamente e não só a atividade publicitária. senão vejamos:

“ agrupando um nebulosa social, uma vez que os artistas e intelectuais não se constituem classe social, pois vivem a reboque dos extratos de classe média e imediatamente superiores, constituindo-se camada intermediária, jamais podendo ser ou foram classe particular, uma vez que não tem posição independente do sistema de produção. eis a raiz da sua contradição, a raiz econômica: pertencem a uma camada social intermediária de contornos e estrutura interna movediços, partihando a sorte ambígua, contraditória e flutuante das classes médias. por isso mesmo tão marcados aqui e acolá por vicissitudes, ao realizarem um trabalho improdutivo, assalariado, mas não integrado ao modo de produção: constrangidos a elaborar e difundir uma ideologia destinada a perpetuar a exploração de que ele próprio é vítima – tal é o fundamento real, objetivo da consciência contraditória que o intelectual e os artistas formam de sua situação – burguês por sua função ideológica - é pequeno-burguês pela sua posição social e trabalhador assalariado pela sua situação ecônomica.” (kanapa , situation, pág 29).


aplique-se a passagem aos publicitários, encaixados entre os intelectuais e os artistas e tem-se o panorama atual. talvez por isso muitos publicitários abrem sua agência, para que possam, sendo donos dos meios de produção – apesar desta ser uma atividade de prestação de serviços, à rigor, por mais desprestigiante que isso sôe – contornar a situação. contudo, só conseguem reproduzir a ideologia dominante, críticas estas feitas, por exemplo, a um certo criador que ao tornar-se patrão, reproduziu exatamente, pelo menos em parte acintosa o que tanto criticava enquanto carne pra canhão. o que não caracteriza traição a ninguém. apenas, e olhe lá, a sí próprio. tornando-se engrenagem, mesmo que diminuta ou não do sistema. mais alí já tínhamos que partir para althusser, que tá muito fora de moda, como estou, por hora.

assim, pra não terminar com discurso de líder sindical – parte também do sistema – é preciso muito mais que reuniões para resolver uma situação aparentemente tão-somente de oferta e demanda, num tempo em que demasiadamente desgastados por sí próprios, os publicitários andam com valor de revenda que não chega ao fim do mês.

mas isso não deveria impedir encontros e reuniões do tipo, desde que mais do que o arroubo e a sinceridade, contribuam para aprimorar o exercício do jogo do poder e da visão estratégica dos riscos e significados disto para uma profissão cuja gestão baseia-se na ética da vinganga: reivindicas, te complicas. tá cheio de justus por aí(Ih! fechei portas e portas como disse o big ceo). sem falar que isso deveria partir do próprio sindicato, mais adormecido que belo, e do clube de criação, que só tem servido para servir de domínio de email para um.

portanto, é sempre bom relembrar bruno, giordano bruno, momentos antes de ser queimado literalmente na fogueira: “ eu só errei porque pedi ao donos do poder que abrissem mão dele”.

não creio que esta reunião tenha pegado fogo, sequer feito fumaça. mas gostaria muito de sentir o calor do contrário. aí eu passo a caminhar em brasa também. caminho a que já estou acostumado, ardendo solitariamente em público e em privado. menos por incompetência ou rebeldia(como muitos querem rotular-me)acredito, e mais por resistir a quebra de princípios. que a muitos parecem estranhos a um publicitário. mais que moldaram uma geração, que não só tinha muito mais talento(eu sou uma exceção), e acima de tudo respeito por sí próprios e pela profissão.

assim, o quadro que temos hoje não é maniqueisticamente fruto de questão macro econômica relativa a mudança dos tempos. é a mudança dos homens(e das mulheres) que conduzem o negócio, possivelmente resultante da falta de valores e princípios que os tornaram tão micros. mas que em seu discurso querem-se como nichos, entendido efetivamente apenas como michos.

e é nisso em que se tornou o negócio: micharia em todos os sentidos. senão micho de valores para quase todos, micho de princípios para todos quase.

3 comentários:

Alex Camilo disse...

Para se ter algum tipo de ética, hoje em dia, é preciso ter muito culhão. O problema é que tê-los se tornou bastante perigoso. Por isso, nunca esqueça seu suporte atlético de cota-de-malha Tabajara. Ele é a garantia de vOcÊ não aparecer por aí vasectomisado. rs

Brincadeiras à parte, muito inspirado o texto.

juliana disse...

bem, se a sua resposta está condicionada à minha, aqui vai: eu trabalho na ampla.

quanto à curiosidade que está faltando nos publicitários, a minha vai muito bem, obrigada, se manifestando na pergunta que eu fiz a você alguns posts atrás.

se você não estiver à vontade para responder, eu realmente compreendo. só queria saber para que possamos trocar opiniões construtivas para os dois lados, porque suas críticas são muito bem-vindas para mim, já me fiz valer de uma delas inclusive, quem sabe as minhas sejam igualmente bem recebidas.

meu blog é esse, se interessar: www.voufalarbaixinho.blogspot.com. ele não tem a pretensão de ser tão ácido quanto o seu, deixo esse trabalho para quem entende do riscado, mas digamos que serve de catarse para quando eu não quero pensar em propaganda.

e com adoçante, que eu tô de regime.

celso muniz disse...

juliana: falei baixinho no seu blog. e com adoçante de stévia para não ficar ácido. agora pra tudo quiçá ficar azedo doce, contacte-me por email que eu respondo o que você quiser.