sexta-feira, setembro 15, 2006

bafos dos desabafos

talvez a coisa mais difícil de se encontrar hoje em dia é um publicitário feliz. é coisa pau a pau com político honesto.

lamúrias por todo o lado. reclamações idem. revoltas que vão e voltam. dores de cabeça às tuias. dores de estômago pedem passagem. cabem também as hemorróidas acesas e os infartos em contagem decrescente. as variáveis determinam-se a partir do tamanho dos mercados e das verbas e marcas envolvidas.
sempre foi assim, dirão alguns. mas não. vem piorando o índice de insatisfação por cérebro(e bolso)lesado.

esta semana, na lista do clube de criação de natal, o côro engrossou, a exemplo do “coro fino” intentado na lista do ccpe, em convocação a uma malfadada(?) reunião no sindicato. nestas horas, alvíssaras, percebe-se que tem gente a menos daqueles a mais que só acessam a lista para mendigar logomarcas, ventilar eventos e piadinhas sem graça e, um ou outro, mais um que outro, que envia artigos de fundo, ação de combatividade que ao final, apesar dos desabafos acabam em bafos dos que continuam na atividade sem saber direito como fazer pra que ela não seja assim como ela é, e pior há de se tornar, se estes mesmos desabafos não passarem da lista onde o “coro engrossa mais não come”.

abaixo alguns trechos para serem cotejados com as suas próprias pegadas:

depoimento 1

Para alguém como eu - que há quinze anos labuta nesse mercado - ler o que você, da geração mais nova, escreveu, é gratificante, preocupante,
alarmante, arrepiante e inquietante. Não sei, sinceramente, como isto que estou escrevendo vai acabar, pois não tenho uma reflexão formada a respeito do assunto e o que penso vai sendo passado para o papel
virtual em tempo real.

Em 91, quando entrei nessa profissão, a realidade do mercado publicitário era bem diversa. Não só aqui em Natal, mas no Brasil. Não haviam publicitários formados, mas jornalistas, poetas, artistas plásticos, desenhistas e curiosos criativos que aprendiam a profissão gastando o dinheiro dos clientes. Era uma época meio, digamos, romântica.
As formas de produção de uma peça publicitária eram outras, os padrões de qualidade eram outros, os conceitos eram diferentes, os valores sociais que direcionavam a linguagem publicitária eram inversos.
Era um tempo onde a palavra "porra" em outdoor causava frisson em toda a cidade e até no meio publicitário, e a ousadia era palavra de ordem nas salas de criação.
Era um tempo onde as pessoas que não trabalhavam em agências comentavam, positiva ou negativamente, o que viam na tv ou nas ruas. Na minha ingenuidade de profissional novato não consegui distinguir se isso acontecia por a propaganda ser melhor ou pior do que hoje, mas a repercussão das campanhas me parecia bem maior do que o que se vê agora e os clientes pareciam apostar mais no que chamamos de "ousadia". Não sei se isso acontecia pelo fato de a cidade ser menor, e pelos valores "morais" serem mais, digamos, ingênuos e a facilidade de causar choque na comunicação ser maior. Enfim...

Hoje vejo como verdadeiro tudo isso que você afirmou e me entristeço, pois não vejo mais na maioria dos profissionais a alegria de produzir uma boa peça publicitária, até porque elas são raras; de ver sua repercussão na rua, de apontar de dentro do automóvel para um outdoor e dizer: fomos nós que fizemos.
Mas, porque será que isso não acontece hoje, que temos novas tecnologias, que um anúncio não precisa mais de um dia e uma noite pra ser finalizado, que a possibilidade de se profissionalizar através de faculdades, cursos, livros, internet e inúmeras outras fontes de
informação são tão acessíveis?

De quinze anos para cá, Natal dobrou de tamanho. Os gringos chegaram, empresas novas se estabeleceram, novas oportunidades de negócios - e de produção publicitária - nasceram. E a propaganda, aparentemente,
piorou ou, pelo menos, me parece menos repercussiva. Não pode-se negar que há poucos anos teve-se um boom no nosso mercado, quando profissionais extremamente talentosos se destacaram. Mas, em contrapartida a esses talentos, como enquadrar o que vem sendo
colocado na rua? Será que é porque a ousadia hoje já não choca mais ninguém, num tempo em que o sexo é explícito na novela das oito? Será que é porque a elite natalense é agrária, oriunda do interior, e levanta suas barreiras morais frente à desesperados profissionais de atendimento?
Por esse desencontro entre o que é criado e o que é aprovado vejo, como você citou, inúmeros profissionais altamente qualificados do nosso mercado migrarem desencantados pra outras cidades. Uns, em busca de oportunidades de produzir melhores peças, outros por melhores salários, mas todos em busca de melhoras que não acreditam
ser possíveis aqui. Mas ouço também, da boca de alguns deles, a afirmativa de que apenas trocaram de problemas,de que o céu lá fora não é mais azul do que o nosso.

Com a crença de que publicidade não é arte - há quem
discorde e eu respeito - tento encontrar o viés de ligação entre
o que fazemos no nosso dia-a-dia, a nossa profissão, e a intenção
primeira que ela engendra na sociedade: vender idéias, valores, conceitos, produtos, numa sociedade capitalista, onde os donos do dinheiro determinam o que é bom ou ruim, quais valores são moda ou não, o que deve ou pode ser dito, o que é ou não referência.

Não conseguindo esquecer que nossa profissão serve a essa realidade, ao funcionamento dessa engrenagem, desesperado eu pergunto: estaremos vivendo uma época de quebra de paradigmas, onde os valores
comunicacionais da publicidade tendem a mudar, onde novos modelos e referências ainda estão se moldando e solidificando e nós, ditos criativos,
ainda estamos patinando?”

depoimento 2

Quantos caras vocês conhecem que "caíram fora" nos últimos meses? Gente que saiu de Natal "em busca de melhores oportunidades ou querendo aprender coisas novas". Será que eles foram realmente atrás de novos horizontes ou fugiram desse quadro DEPRIMENTE em que vivemos. E não posso definir esse quadro com uma palavra melhor, companheiros. É deprimente sim! Nunca foi tão doloroso pra qualquer um aqui (sim, estou generalizando! e tô nem aí não!) responder à pergunta "e aí? como é que tá lá?" TÁ FODA! Agora a pergunta padrão do mercado tem uma resposta padrão.

Estou exagerando? Então vamos lá: Marcão, James, Gustavo, Juliano, Dany Boy, Flavinho, Arnaldo... Todos se evadiram das agências ou de Natal e nenhum deles se arrependeu. Alguns preferem mudar de agência, aceitar uma proposta melhor ("merda por merda, vou pra onde pagarem mais"), mas, pasmem! Encontram na nova empresa uma realidade igual ou pior do que a anterior. Clientes tão o mais caraetas e autoritários, horários tão ou mais "elásticos" e necas do doping motivacional de poder criar coisas legais e botar na rua.

É uma merda e até já virou piada interna na maioria das agências, mas uma das frases mais ouvidas nos departamentos de criação é: "liga não cara, pelo menos vai ficar legal no portfólio". As agências deviam se tocar que elas também têm portfólio. Eu sei que muitas contas se conquistam na base do lobby e da influência, mas nem todas são assim. Nem todas.

depoimento 3

Desisti, bicho.
Depois recuperei o tesão.
E aí perdi de novo.
Depois eu cansei, me estressei, briguei, peitei.
Descobri que a cobrança a que sou submetido cresceu em progressão geométrica enquanto a qualidade do trabalho virou uma fração de muitos avos.

Vi que os caminhos para desenvolver um trabalho de qualidade se tornam cada vez mais tortuosos e comecei a me empolgar com um projeto paralelo que pouco tem a ver com propaganda.

Por isso, se você me dá licença, vou sair pra conquistar 24 territórios à minha escolha, descobrir o que é possível fazer com literatura e, como fizeram nossos colegas citados no e-mail anterior, "aprender novas coisas".
Abro mão do que o André Laurentino definiu como "a forma mais organizada de se ganhar dinheiro escrevendo": a redação publicitária.

É claro que pode ser temporário, que nada é definitvo, que daqui a algum tempo eu possa estar morrendo de saudade de criar um texto pra panfleto de supermercado ou spot de faculdade. Ou ainda, precisando de grana. Mas por hora, saio. Não estou satisfeito com os caminhos que as coisas trilharam de um ano pra cá e para coroar a insatisfação, caio fora e jogo você aos tubarões. Tentei argumentar como o personagem de Jack Nincholson em "O Iluminado": "muito trabalho sem diversão faz de Jack um bobão", mas vi que a tarefa de mudar era dura demais e que eu tinha coisas mais interessantes para cuidar no momento.

Mas tenha força, amigo. Estarei torcendo por você. E por qualquer um que tente furar esse cerco.

Ah, e concordo que a culpa é nossa, mas não é SÓ nossa.

Bertone, eu discordo de uma frase do seu texto: "quando tínhamos bons profissionais..." Bons profissionais há. Um monte deles. Principalmente diretores de arte. Os caras daqui são muito foda! Ou seja: dá pra fazer coisas muto ducaralho!



depoimento 4

Fazia tempo q uma boa discussão não aparecia nesse grupo de troca de marcas. Admiro a sua coragem e clareza pra definir tão bem a situação criativa do nosso mercado. Mas eu te pergunto cara, e aí? Vamos ficar no discurso, fazendo um perfil do mercado ou vamos agir? Ou simplesmente cair fora do mercado e dar uma banana pra todo mundo? De tempos em tempos rola um desabafo aqui, mas todo mundo tem preguiça de fazer alguma coisa pra melhorar. A "galerinha maneira" do mercado acha o máximo se encontrar nos shows e bares da cidade e trocar uns comentários maldosos das figuras do mercado ou mesmo das agências. Mas e aí? Onde está o interesse em melhorar? Em crescer? "Ah mas eu faço a minha parte, sou um puta profissional, e ainda bato uma pelada com a galera!" Foda-se. Cadê o peito pra encarar o dono da agência e falar o que está sentindo de verdade, que acha uma merda trabalhar assim. Depois levantar a bunda sair na porta da agência e gritar um puta que pariu.

Nossa publicidade é nivelada por baixo, por nossa culpa. Por preguiça e acomodação.

E vc? Desistiu?

depoimento 5

Rapaz, uma vez os caras aqui da agência tiveram uma idéia muito boa para um cliente. Era uma promoção que daria um carro de presente e o VT começava com os dizeres: "Maria Gasolina. Depois continuava: João Gasolina, Gisele Gasolina, Marcos Gasolina e por aí ia...". O cliente até gostou, mas reprovou dizendo que seria processado por todas as Marias, Joões, Giseles, Marcos e outros nomes citados no comercial. Foda!

Medos como esse aliados a letargia do mercado, a incompetência dos atendimentos e à nossa acomodação fazem a PROPAGANDA DE MERDA que tem sido feita em Natal ultimamente. Isso sem falar nos clientes. Estou plenamente convencido de que para ser gerente de marketing em Natal é pré-requisito que você seja um completo idiota! E hoje desconfio severamente de qualquer um que chegue perto de mim dizendo que tem MBA (Master Bullshit Administration). Se sentar do meu lado, pulo uma cadeira. Se vier do meu lado da rua, mudo de calçada. Se falar comigo, finjo surdez ou simulo um ataque de asma seguido de um infarte. São todos uns babacas cheios de tecnicismos e expressões no gerúndio.

Tirando os caras da Base, quem dessa lista fez alguma coisa realmente boa ultimamente? Ou melhor, até fazemos de vez em quando. Mas quantas temos conseguido mandar pra rua?

Quem daqui não tem corado quando um amigo não publicitário (Espero que vocês os tenham. É muito saudável para a vida social.) chega e pergunta: "diga uma propaganda sua que tá no ar?" ?

E assim seguimos nossa medíocre existência, sendo sendo cada vez menos merecedores da alcunha de "criativos". Pois na terra do Sol, quase nada se cria.

Talvez isso explique o fato de um grupo de discussão de "criativos" servir muito mais pra trocar logomarcas como figurinhas auto-colante de albúns infantis do que para se discutir a melhoria da publicidade local.

Admitam: vocês desistiram! Se resignaram! Estão dançando conforme a música dos donos não-criativos e Cannes pra vocês é a satisfação dos clientes. E satisfação para esses clientes de bosta que a gente tem aqui é fazer tudo do jeito que eles querem, da forma como eles concebem ser "propaganda". Se a gente não tentar educar esses medíocres eles passam por cima da gente. Aliás, já passaram. Hoje jogamos o jogo deles e a nossa publicidade está nivelada por baixo.

AINDA BEM QUE NÃO TEM MAIS PRÊMIO BÁRBARO! Pois nessa disputa, meus colegas, perdemos TODOS de W.O. !

depoimento 6

Caras, eu concordo plenamente com fialho, vi essa realidade de perto com a proposta que trouxe pra o mercado daqui e não consegui segurar devido a criativos que olhavam na minha cara e diziam "a gente não costuma usar ilustração" ou "não temos clientes com esse perfil" isso é ser criativo?? pow além disso quando tinhamos bons profissionais os clientes cortavam nosso barato, hoje a tool "acabou" por isto, falta de maturidade deste mercado, os dois caras que trabalhavam comigo( Victor e Beto, que não são publicitários) não querem mais trabalhar pra publicidade.
Pois é, vi meu otimismo ir pelo ralo, e de resto acho que vocês já sabem...

depoimento 7

Há tempos atrás, início decada de 90, surgiu um movimento na publicidade que levou ao primeiro dissídio coletivo da categoria, nesse dia os trabalhadores conseguiram uma boa negociação, pois foram em peso para a discussão. Entre as vitórias, conseguiram homologar um piso para a categoria ( desde a mulher
do cafezinho até diretor de arte/redator senior), além de estabelecer o dia 4 de dezembro como feriado para comemoração do dia do publicitário.
Mas, com a fragmentação do grupo, pessoas da diretoria do SAP mau intencionadas, terminaram por retirar o dia feriado e afundar a negociação, chegando a rasurarem acordo feito perante a justiça, faltando só a assinatura dos presidentes das duas entidades (uma legítima e outra, o SAP não registrada) na calada da noite, modificaram o texto e enviaram pra assinatura do sindicato. Pra voces verem até onde nós chegamos. por isso, é importantíssimo que a categoria marque encontro nesse dia pra reinvidicar
mais respeito.

depoimento 8

vai ser negociado o valor do dicídio entre o presidente do SAP e a doidinha lá do Sindicato dos Radialistas.
Os donos de agência já se reuniram em almoço e fecharam uma proposta pra fazer.
E falou que não aceita proposta inferior a 5%.
É isso, senhores.

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