Esses dias, uma notícia causou bafafá na internet. Um dos integrantes do hilário O Aprendiz 3, contrariando a lógica do programa, acabou se demitindo. Provavelmente, ficou de saco cheio do pastiche de CEO que Roberto Justus faz na televisão. Ao invés de esperar o veredicto com cara de boi prestes a ser abatido, decidiu ser dono do próprio destino e deu o bilhete azul para o publicitário topetudo.
Os telespectadores sentiram-se vingados. Quantas pessoas não gostariam de ter a coragem e/ou a possibilidade de mandar o chefe catar coquinho na ladeira? Eu adoraria! Mas não cheguei a ter esta oportunidade: fui demitida antes.
Ficar sem emprego é ruim, claro. Principalmente para quem não trabalha por esporte, como é o caso da maioria de nós. E esse ruim vai desde o principal – a falta de grana – até aspectos de identidade e socialização. Pois bem, se você trabalha em um lugar legal, uma empresa respeitada no seu segmento, cuja marca você tem orgulho de apresentar no cartão de visita e que vence o bloqueio das mais rígidas secretárias e recepcionistas, vai ser difícil ficar sem essa identidade corporativa.
Depois de perder o emprego, experimente ligar para outra empresa e tentar falar com alguém mais graúdo. A pessoa que atender a ligação vai perguntar seu nome. Você vai dizer. E aí vem a segunda pergunta, fatídica: “Fulano de onde?”. Você vai gaguejar aes de explicar que “é particular” ou que a pessoa está esperando a sua ligação. Mas a telefonista (elas sempre são cruéis nesses momentos) vai perceber que faltou algo: seu sobrenome corporativo, o que lhe dá uma identidade profissional. Se você for uma pessoa espirituosa e de pensamento rápido, talvez diga algo como “sou da minha casa” ou “sou da Escola de Balé”, etc. Na maioria dos casos, porém, é aquele constrangimento.
Já fui demitida umas duas ou três vezes. As anteriores foram mais dolorosas. Surpreendentemente, esta última foi um alívio. Claro, tirando aquele desespero básico que a perspectiva de falta de salário causa na gente, o resto foi tranqüilo. Ficava me imaginando desempregada, para ver se caía a ficha, mas nada. No dia seguinte, lá estava eu: serena, de bem com a vida, acordando mais cedo que o de costume para ir à yoga. E olhe que eu odeio acordar cedo.
A yoga ajuda, mas ainda não desenvolvi o desapego a ponto de me conformar desse jeito com as injustiças da vida. O que me deixou bem foram algumas circunstâncias, que eu gostaria de dividir com vocês, porque talvez ajude quem está na mesma situação.
1) A empresa da qual saí não era a mesma em que eu entrei. Não que a razão social tenha mudado. O que mudou foram as pessoas, foi o estilo de trabalho, o peso que a minha área tinha no conjunto. Nós não tínhamos mais as mesmas afinidades profissionais e nem de valores. Quando isso acontece, não espere: é melhor começar a buscar outras oportunidades.
2) Toda a equipe da qual eu fazia parte foi demitida junta. Nós, seres humanos, somos gregários. Sentimo-nos bem em grupo, mesmo que seja um de desempregados. No dia seguinte, fomos todos tomar café no meio da tarde, comentar sobre a cena da demissão e especular como a empresa iria sobreviver sem a gente. Se já éramos amigos antes, nos tornamos mais ainda, unidos pela injustiça e pelo infortúnio.
3) Tenho uma boa relação de amigos e muitas vezes já indiquei pessoas para vagas de emprego. Essa network, como se diz no jargão corporativo, é preciosíssima quando quem leva o pé no derrière é você. Mandei um e-mail explicando a situação, atualizando meus contatos e pedindo indicações. Aliás, indicação na minha profissão é fundamental. Poucas vezes se contrata através de anúncio em jornal ou agências de RH.
4) Circular pelos eventos da sua área de atuação, sejam eles sociais ou profissionais, também ajuda as pessoas a lembrarem de você. Dar palestras, manter um vínculo com a universidade e participar de associações de classe é recomendável. Neste ano, acabei realizando várias dessas atividades, o que é excelente para a visibilidade no mercado.
Estas atitudes foram responsáveis, em grande parte, por eu estar sendo chamada para vários trabalhos free lancers e para assumir a disciplina de Marketing de Varejo em uma faculdade. Portanto, trabalho é o que não falta. Emprego mesmo, com um salário legal e vale refeição no final do mês, ainda não apareceu. A graninha dos freelas permite que eu me dê ao luxo de não aceitar qualquer coisa, pelo menos por enquanto. E assim, posso “me demitir” de propostas absurdas que eu nem imagino como algumas empresas têm coragem de fazer para a gente...
fui demitida, e agora? da adriana baggio, no www.digestivo cultural.com.br
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