domingo, julho 17, 2005

mora na filosofia

a classe mírdia brasileira – a média já foi pro caralho faz tempo – descobriu a filosofia depois das xeretadas de sartre na usp dos anos 50 ?

agora, além do país do samba, das bundas, do futebol, do mensalão e da natureza cuja conta corrente está ficando sem fundos, vamos todos filosofar: corromper ou não corromper, corrompido ou não corrompido. e raio! o que sera BV ?

certa revista semanal já havia levantado a bola sobre o verdadeiro maná que tornou-se a filosofia em cursos do tipo “peido, logo existo”, “meu peido não é uma gracinha”? que já estavam fazendo à cabeça de certos extratos da população, nomeadamente em são paulo, terra muito pouco filosófica mas galantemente diletante.

os tais cursos, são uma espécie de bricolage, para a classe mírdia exorcizar devaneios de mea culpa. e a coisa deve piorar com a iniciativa do fantástico de explicitar como a filosofia está imbuída ou melhor inserida do lugar comum no dia a dia na base do almaque do feijão com arroz ou melhor seria; feijão ou arroz ? ou feijão ou feijão ? ou, o mais provável, o não feijão.

veremos então de pé rapados a socialaites filosofando de dar nó ou seria dar dó ?
se não, como em outros países, portugal por exemplo, estudamos filosofia ainda no ensino de nível médio, sempre é tempo de se fazer um supletivo da história do pensamento filosófico, daqueles do tipo introdução à filosofia, curso sistemático, segundo modulo, cujo
anúncio muito pouco filosófico – o belo é uma das questões mais urdidas e inquietantes, pra não dizer fudidas, aos pensadores – anúncia n. maquiavel, erasmo de roterdã, t.morus, que pra muita gente é marca de ferramenta ,m. de montaigne, g.bruno, m.lutero, f.suárez, f.bacon, galileu galilei, r. descartes, n.de malebranche, r.pascal,b,espinosa,t, hobbes,
j.locke, não , não é marca de cadeado, d. hume, g.w.leibniz e g.b. de vico, o que já me faz achar suspeito um curso que anúncio os filosófos desta maneira já engalobando o tempo ao em dezoito unidades de 75 minutos o que equivale a 27 horas didáticas, segundo o tal anúncio, o filosofando já está apto a receber o certificado da agência española de cooperación internacional .

isto acontece em recife, e encafifa-me, um dos primeiros passos, julgo para quem quer filosofar - filosofar no senso comum não é viver eternamente encafifado, desconfiando de tudo e de todos os sentidos? - não haver menção a nietzsche. seria nietzsche demais pra cabeça dos pernammundanos ? ao que parece sim. para os filosofandos do sul não, até há uma edição diet para facilitar a compreensão do discurso. mas quem disse que filosar é fácil? e barato ? apesar, de ser um barato, é o que dizem na chamada dos cursos.

é de se registrar que um dos maiores sucessos editoriais no segmento dos fascículos da arvorezinha dos civita é a coleção os pensadores, que em diversas edições e tiragens, até com capas que anunciavam oiro em seus dourados, são disputados a tapa nos sebos com mais valor que as mais recentes que sofreram um regime de corte editorial em forma e conteúdo.

sthendal dizia, que pensar faz doer. mas estes cursos e programas já vem com anestesia inclusos. não devem preocupar a ninguém, já que o criticismosubdesenvolvido acaba sempre por reforçar os enunciados dominantes e o espírito, que por hipótese
deveria ver-se minimamente mais esclarecido e libertado, ainda acaba mais aprisionado. e a julgar pelo sucesso dos cursos, que se cuidem os filósofos de sempre.


resta o consolo? de que num domingo a filosofia de beiçola ainda é melhor do que ver vasco e flamengo, faustão ou passear na orla do jeito que as coisas estão.

como diria monsueto, para que rimar amor e dor ? morou na filosofia ?

abaixo algumas passagens da matéria do nelito fernandes para quem quiser filosofar a respeito.


Filosofia para todos

A classe média lota cursos livres da ciência de Sócrates e Platão, que é adaptada para situações do cotidiano e ganha ares de auto-ajuda.

Quando o estudante carioca Lucas Oliveira, de 16 anos, disse aos pais que queria se matricular num curso livre de Filosofia, a reação foi de espanto. Além da escola e de aulas de inglês, o adolescente aprendia a tocar baixo para formar uma banda de rock alternativo. Hoje, ele discute Nietzsche e a genealogia da moral. Lucas é um exemplo do aumento do interesse da classe média pela Filosofia. Em São Paulo, a Casa do Saber, que cobra R$ 1.200 de mensalidade, tem 723 alunos e 104 na fila de espera. No Rio de Janeiro, o Instituto Mukharajj Brasilan viu o número de alunos quadruplicar em três anos. A diversidade de opções é tanta que já existe curso de arte marcial filosófica, no qual os alunos discutem textos dos filósofos antes de lutar. Mas por que tamanho interesse?

''Enquanto ficou restrita ao ambiente acadêmico, a Filosofia passou a impressão de ser chata. As pessoas estão chegando à conclusão de que a Ciência e a religião não são suficientes para todas as questões, que a resposta está em nós mesmos. Estão fazendo o questionamento de Sócrates de que a vida que não é examinada não vale a pena ser vivida'' , afirma Álvaro Porto, coordenador do Instituto Mukharajj Brasilan. É claro que, como manda a boa filosofia, não devemos nos ater a uma só resposta. Ao debate, então. Com a palavra Mario Vítor Santos, diretor da Casa do Saber: ''Não é que a Filosofia tenha sido facilitada, as pessoas é que estão em busca de essência. A Filosofia é um instrumento para que se possa pensar com maior rigor as questões da vida'', diz.


VARIAÇÃO
Alunos de arte marcial filosófica, em que textos são lidos e discutidos antes da luta

Para cair no gosto do povo, porém, foi preciso tornar mais digeríveis os textos densos dos principais autores. A filósofa Viviane Mosé, autora do livro Nietzsche e a Grande Política da Linguagem, lançado no mês passado, tem tudo para se tornar uma espécie de Drauzio Varela da Filosofia. Dona de um dos cursos mais populares no Rio de Janeiro, freqüentado por globais como Fernanda Lima, Aracy Balabanian e Gloria Maria, ela prepara-se para estrear no Fantástico. No quadro, terá o desafio de falar sobre o tema para quem acha que Sócrates é o ex-meio-campista da Seleção Brasileira. Nas aulas, Viviane recorre a exemplos práticos do cotidiano e muito bom humor para ensinar Nietzsche, sua especialidade. Os alunos lêem os textos em casa e os debatem durante a aula. ''Quando o texto fica denso demais, eu recorro à literatura, como Clarice Lispector, por exemplo'', diz Viviane.

A fórmula deu certo: o curso, que começou como uma reunião na casa de amigos, hoje tem três turmas, cada uma com 40 alunos, e extensa fila de espera. Tudo no boca a boca. O advogado Fábio Ariston, de 28 anos, matriculou-se e, empolgado com as aulas, chegava em casa e discutia os textos com a mãe, a professora Lourdes Ariston, de 54. Não demorou para que os dois virassem colegas de turma. ''As discussões me ajudam a refletir sobre a vida'', diz a mãe.


A Filosofia não dá a receita pronta, mas instaura o inquérito

Viviane endossa: ''O mundo vende prazer, mas a gente sabe que a busca pelo prazer só adia a angústia. Com a Filosofia, as pessoas se sentem mais fortes para enfrentar suas próprias questões'', diz a professora-apresentadora. Estaria, então, se aproximando da auto-ajuda? ''De modo algum. A Filosofia não dá a receita, instaura o inquérito'', responde Álvaro Porto, que leciona um curso de autoconhecimento, baseado em textos de filósofos. Coisa de fôlego. São dois anos de aulas, duas horas e meia por semana. Como dever de casa, muita reflexão. Mesmo assim as turmas estão lotadas. A desembargadora Maria de Lourdes Valle é uma das alunas. ''Há um anseio natural da pessoa de se conhecer e entender o mundo. Aqui eu aprendi, por exemplo, a ver o outro como um ser diferente, não esperar dele as mesmas reações que eu teria. O curso me deu a visão de que cada um tem as suas necessidades'', avalia.


FILOSOFIA EM ALTA
- Na Casa do Saber, em São Paulo, são 723 alunos matriculados e uma fila de espera de 104 pessoas
- No Rio, o Instituto Mukharajj Brasilan quadruplicou o número de alunos em três anos e hoje tem 160 estudantes

É claro que a Filosofia ainda assusta alguns. Com 26 filiais espalhadas pelo país, o Instituto Nova Acrópole oferece a primeira aula gratuitamente para mostrar que o curso não é tão complexo como parece. Com essa estratégia, tem conseguido 200 novos alunos todos os meses. Entre Sócrates e Platão, aparecem também cursos curiosos como o nei kung, a arte marcial filosófica dos chineses, trazida ao Brasil pelo Instituto Nova Acrópole. Antes de lutar, os alunos meditam e discutem textos de grandes pensadores. ''A proposta é de desenvolvimento interior e uma luta consigo mesmo, buscando o domínio de si. O adversário representa as dificuldades que as pessoas enfrentam na vida'', explica Michel Echenique, fundador do Instituto Nova Acrópole no Brasil.

A Filosofia avança também sobre a Psicanálise. Na chamada Filosofia Clínica, o filósofo trata o lado emocional dos pacientes. ''A Psicologia trabalha com o comportamento, enquanto a Filosofia lida com a existência. Ambas levam a pessoa a entender suas questões'', explica o filósofo Lúcio Packter, precursor da Filosofia Clínica no país. O tema virou curso de pós-graduação e já é ministrado em 32 cidades brasileiras. Nas sessões, Packter procura ajudar os pacientes citando filósofos. Alguém que, apesar de ser bem-sucedido, sente-se angustiado por nunca ficar satisfeito pode receber como conselho citações de Schopenhauer: ''A vontade jamais pode ser satisfeita, posto que se ela fosse satisfeita deixaria de ser vontade; então, a cada satisfação se reproduz a necessidade, a cada desejo satisfeito um outro desejo surge, e assim infinitamente, nesse círculo infernal da vontade''. O psicanalista Luiz Alberto Py diz que a Filosofia Clínica jamais vai substituir a Psicanálise, porque não investiga o subconsciente. Mas acredita que possa ser útil. ''Muita coisa pode ser resolvida somente com a reflexão.''


EM FAMÍLIA
Fábio Ariston e a mãe, Lourdes, fazem um curso sobre Nietzsche. Lucas Oliveira, de 16 anos, é o caçula da turma e surpreendeu os pais com o interesse pelas aulas

Edição 365 - 16/05/05

3 comentários:

Unknown disse...
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R.Duarte disse...

Prezado, penso que há um equivoco ao afirmar que a F. Clínica trata o emocional. A emoção é apenas um Tópico da Estrutura de Pensamento que pode ser trabalhado ou não no individuo que procura o Filósofo Clínico. Nem sempre isso ocorre! Outra coisa, é achar que os procedimentos clínicos utilizado pela Filosofia Clínica tem haver com textos filosóficos. Seu fundamento é sim filósofico, mas seus procedimentos, não! Existe toda uma metodologia própria que fundamenta tais procedimentos.Um abraço!

celso muniz disse...

r. duarte. como deve ter notado a parte que toca ao seu comentário, bem-vindo, acompanha a matéria sobre a qual emiti opinião como introdução, não descendo a tais imprecisões já que sequer chego a ser um filosofastro.