quarta-feira, setembro 14, 2005

quarta à portuguesa: não faço o que digo mas façam o que eu não faço. nizan guanaes à zé do pipo

A experiência é, como disse lindamente Pedro Nava, um carro com os faróis voltados para trás. Este texto é uma mea-culpa.

Nesses últimos 40 anos, cobertos com competência pelo caderno, nós, publicitários, construímos coisas grandes e belas. Juntos fizemos o país gostar de propaganda.
E fizemos a propaganda brasileira ser admirada no mundo.

O povo brasileiro gosta de propaganda. E gosta da nossa propaganda. Tornamos os publicitários conhecidos e respeitados. Participantes da vida do país. Famosos além do muro da propaganda.

Entretanto, de alguns anos para cá, deixamos alguns mauricinhos, em seus ternos engravatados, tentarem tornar suas verdades cinzas em verdades nossas.

E tentam tornar essas meias-verdades em verdades absolutas. Lero-lero do tipo: Só no Brasil o publicitário tem a importância que tem.

Mentira. Lord Saatchi é publicitário. Virou Lord, tem uma das maiores coleções de arte do Reino Unido. E é parte atuante do stablishment inglês.

Assim como Sir Martin Sarell é hoje. E como Sir David Ogilvy foi no passado. Assim como Jacques Seguela tem participação atuante na política francesa. E James Carville é figura conhecidíssima nos Estados Unidos.
Todos com visibilidade, programa de TV, livro. Dizendo coisas geniais ou pisando no tomate como todos nós mortais. Mas, de tanto ouvir essas nulidades repetindo que nossas gravatas são extravagantes, que aparecemos demais, que somos barbies, estamos jogando na retranca.

E, com medo disso, ao preenchermos a ficha do hotel, nos denominamos empresários. Falamos agora todos iguais. Nos vestimos todos agora tom sobre tom. As nossas respostas são todas respostas de miss.

Está na hora de esse mercado ser um pouco mais ele mesmo. Estão faltando frescura, frivolidade, charme. É preciso ter pertinência, consistência, responsabilidade, mas não é preciso ser tão chato.

Propaganda é uma atividade de artista. É uma indústria séria como o cinema. Mas é também uma arte.
É uma arte cara, feita por pessoas especiais.Meio mmalucas. Não são patos. São cisnes.Que tiram idéias grandes de coisas banais. Que tornam um produto uma
marca. E que fazem fortuna para os outros. E que têm de ser, portanto, reconhecidos, bem pagos e ouvidos nessa sociedade como Isay Weinsfeld, os Irmãos Campana ou Fernando Meirelles.

E, se não são especiais, se não são interessantes, se não têm idéias inusitadas, não são publicitários. E, portanto, não merecem as regalias, a visibilidade e nem serem ouvidos.

Mas não podemos deixar os comuns tentarem nos envergonhar de termos nascidos diferentes.

Não seja um publicitário enrustido, amigo. Vamos lá. Vamos sair do armário. Sim, mãe. Sim, pai. Eu sou publicitário. Carrego dentro de mim essa gravata com estampa. Sim, eu tenho esse ego que dizem que é de
publicitário (mas que aparece também em médicos, políticos,engenheiros, arquitetos, atores de cinema).
E, apesar dessa meia vermelha, eu pago meus impostos e faço o paíscrescer. Gero empregos, fabrico riquezas e divisas. Sim, eu sou publicitário. Gosto de coisas com design, amo trocadilhos e frases de efeito. Mas os monges também têm seus jargões e seus tiques.

E, pelo fato de ser um cisne, não vou passar a vida me fantasiando de pato. Só para que os patos de nascença se sintam melhor. É claro que um texto como esse é um prato cheio para o rancor, para a lição de moral.Para os torquemadas que usam a falsa humildade para lançarem
pensamentos diferentes na fogueira.

Mas vamos lá, meus amigos. Chega de bancarmos os empresários. Detentarmos ser low-profile que nem banqueiros. Que os banqueiros sejam banqueiros, que os empreiteiros sejam empreiteiros e que nós sejamos nós. Artífices da palavra, espíritas de idéias. E, por sermos assim diferentes, a Rainha nos batizará como Lords. O povo cantará nossas músicas e contará nossos filmes.Sejam os publicitários como o nosso companheiro, o jornalista Roberto Marinho, foi sempre: jornalista Roberto Marinho. E, sendo jornalista e apaixonado por seu ofício, construiu um império.

Não, esse mercado não pode ser tomado por mauricinhos que não fazem anúncios. Só fazem lobby. Que ficam puxando o saco de empresários e imitando esses empresários como replicantes.

Nós somos o inconformismo. A voz da New Age. Os filhos de Aquários.Nós somos, perante a indústria e o comércio, a voz dos jovens, do povo.Nós somos o novo, o imprevisível, o diferente.Perante o banqueiro sisudo, o empresário que vive preso no seu escritório, no seu universo, no seu mundo, nós somos a voz das bichas
E dos chapados.Nós somos o ponto de interrogação nas organizações. A contramão. A provocação.

E, se deixarmos de ser isso, nosso espaço nessa sociedade será nenhum.Como aqueles que tendo nascido cinzas, chatos e mauricinhos querem. Que fiquemos todos iguais para sermos patos como eles.

Nizan Guanaes
Presidente
Africa Propaganda

sobre nizam muito já foi dito mas nada mais acertado do que no post de ontem sobre churrasco sem sal.

a passos da genialidade, quase o maior redator da publicidade brasileira e no top ten mundial, nizam enveredou pelo caminho que lhe encheu ainda mais a pança, mais que publicitariamente o esvaziou, salvo os rasgos na criação de modelos de negócio como a africa e os demais que em breve vamos conhecer.

não se trata de desmerecer o emprego do seu talento outrora empregado exclusivamente na criação de peças memoráveis e que agora monta-lhe o cerebelo na pele do empresário mídas.

talvez, por sermos publicitários e gostarmos de cisnes e não de patos – nem de patos bravo –ficamos a desejar o criativo nizam em vez do empresário nizan.

afinal, nizam, tornou-se o maior mauricinho da propaganda brasileira para desgraça do roberto justus.

e como lobbysta então, parece ter superado – e gostado – seu talento. tanto que escreve o texto como o nizan de ontem como se este ainda fosse o nizan de hoje.


talvez mais terreiro e menos daslu e ele baixe novamente dando o exemplo de como é terrível e maravilhosa toda e qualquer queda para cima.

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