Saiu publicado no jornal O Estado de São Paulo da “quarta-feira passada”: o número de cursos de jornalismo no Brasil cresceu 70% nos últimos 4 anos (2000-04). A grande maioria das vagas é oferecida por universidades particulares (uns 80% do total).
Essa notícia me chamou a atenção. Não sou jornalista, não conheço a grade curricular de um curso de jornalismo, não tenho a mínima condição de avaliar os cursos disponíveis no país, mas tenho algumas considerações a fazer.
A primeira delas é que, se você quiser cursar jornalismo nesse país, é bom ter dinheiro para pagar a faculdade (aliás, geralmente não é barato). Gostaria de saber o motivo de existirem tão poucas vagas em universidades públicas?
Antigamente, pelo menos em uma cidade interiorana como a que vivo, fazia vestibular para jornalismo apenas filhos de jornalistas ou pessoas que, de alguma forma, estavam envolvidas com jornalismo. Hoje, não! O curso se popularizou, é natural os jovens quererem ser jornalistas... É uma profissão como qualquer outra e a demanda por vagas, claro, aumentou. Sobre as vagas de jornalismo estarem em universidades privadas, creio que é uma herança de longa data, pois, ao que parece, este curso sempre foi para classe média e classe média alta, nível em que os pais podem pagar a faculdade do filho; logo, cria-se uma oportunidade de mercado para estas instituições oferecerem tais cursos.
Mas, o que ocorreu nos últimos anos que despertou o interesse dos jovens por essa carreira? Bom, de certa forma, o jornalismo se glamorizou. Há grandes coberturas jornalísticas na TV (lembre-se do 11 de Setembro), os jornalistas ganham fortunas (veja a sra. Ana Paula Padrão, agora no SBT) e alguns se tornam celebridades (Diogo Mainardi dá autógrafos para pessoas que nem sabem que ele é escritor, ou seja, ele é apenas jornalista para estas). É uma profissão que pode dar certo, não é mais um tiro no escuro (ainda que a imensa maioria de jornalistas jamais será famosa ou rica e ouço dos próprios colegas jornalistas que ser jornalista geralmente não dá dinheiro, apenas muito trabalho, e segue-se na profissão por gostar do que se faz. Quanto jovens sabem ou pensam nisso ao escolherem essa carreira?).
Além disso, atualmente (ou sempre foi assim?) existe um certo status social em ser jornalista, alguns enchem a boca para dizer que são formados nessa área, não importa se precisam trabalhar em outras atividades por não conseguirem emprego na que estudaram. No nosso país de semi-analfabetos, ser jornalista é estar no Olimpo. Implica, às vezes erroneamente, que um jornalista é um sujeito muito culto, que lê muito (e em vários idiomas), conversa sobre cinema, literatura, teatro, mercado financeiro, neurociência, História e geografia, teologia, filosofia, etc. Nem sempre é assim, mas a maioria das pessoas comuns pensa assim. É chique ser jornalista...
Acabo me perguntando qual o papel da internet nessa história toda. Será que o fato de existir tanta informação disponível de fácil acesso estimula algumas atividades e desperta o interesse de outras pessoas por estas? Provavelmente... Temos milhares de jornais e revistas on-line na internet. Há inúmeros jornalistas famosos que mantêm sites e blogs na Web. Aquela sensação de distância do jornalista para o leitor parece ter diminuído sensivelmente. Se quiser, posso mandar um e-mail para os jornais e jornalistas, comentar no blog deles, e por aí vai.
Um dos jornalistas que escrevem em blogs é Ricardo Noblat (aliás, ele só escreve em blogs desde 2004!). Ele é autor de O que é ser jornalista(Record, 2004, 270 páginas – sendo que as últimas 47 (tudo isso!) contam apenas com dados de instituições de ensino). Esta série da editora Record visa, segundo a orelha do livro, atender jovens em idade de definição profissional. A idéia é ótima, mas, pelo menos neste caso, fica longe de atingir o objetivo.
O subtítulo da obra é Memórias Profissionais de Ricardo Noblat (escrito em letra menor, não concorrendo com o título principal). É isso que o livro traz: as memórias do jornalista. Embora interessantíssimo, não explica ao jovem o que é ser jornalista. Muito pelo contrário. Ele não fala nenhuma palavra sobre como é o curso, o que se aprende, como se aprende, nem trata muito sobre o que são os diversos papéis dentro de um jornal (editor, repórter, redator, etc) e, principalmente, não fala absolutamente nada sobre as outras formas de jornalismo (rádio, televisão, internet...), limitando-se a abordar a mídia impressa (jornais e revistas). Portanto, não serve como uma introdução acerca do que é a profissão de jornalista, que é justamente a idéia do livro. No entanto, independente disso tudo, é uma leitura bastante interessante e agradável. Noblat conta como foi subindo na carreira, passando por algumas revistas e jornais em que trabalhou. Entretanto, o destaque maior é dado à parte, digamos, política. Noblat relata as suas aventuras com gente famosa, deputados, governadores; as ameaças que recebeu (e sua família); as demissões que sofreu por imposição de autoridades e pessoas influentes... são tantas histórias! Serve para imaginar como esse jogo de poder e informação funciona. Em tempo, Noblat ainda conta de sua experiência como marqueteiro (político) na primeira e única eleição presidencial na História de Angola.
Dito isso, resta dizer que o livro pode estimular candidatos a jornalistas, afinal, são muitos os fatos curiosos narrados de forma simples e direta pelo prestigiado Ricardo Noblat. Há algumas dicas e informações sobre o que é ser jornalista, mas isso não é o carro-chefe do livro. Ainda assim, vale conferir.
marcelo maroldi, again no digestivo cultural.
e aproveite a dica quem quiser: vá ser jornalista na paraíba. lá tem jornal do governo que emprega você não importa o texto, desde que seja a favor. sim o nome do jornal é a união; lá o governo concede facilidades até para aquisição da casa própria, desde que você seja a favor; lá , o salário visível é quase invisível de tão-pequeno mas em compensação o salário invisível é visivelmente demonstrado; sim, lá as propinas são oficiais e devidamente negociadas previamente; tem moeda de comensais de botequins, de outros restaurantes nem tanto; de viagens as matérias de faz de conta e cargos no governo para além de secretario e assessor de comunicação e sabe-se lá mais o que: lá tem uma modalidade sui-generis de assessoria de imprensa que usa envelopes, nem sempre pardos, em vez de malas e ou cuecas; enfim, lá tem um curso de jornalismo de gente muito esforçada que milita na imprensa e aplaca a consciência dando aulas de ética; e, claro tem também a api que sempre é presididida por doutos exemplos de vida pária na profissão;
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