1. Nunca vi aquele diretor de criação tão zangado.
“Olha o outdoor que esse cliente quer veicular.”
Era mesmo uma droga. Cheio de texto, ilustração de mau gosto –todo ruim. Simplesmente entregou aquilo ao atendimento, e determinou:
“Quero assim.”
Quando aquilo chegou na criação, a revolta foi geral. E o diretor de criação foi falar com o dono da agência.
“O cliente quer desse jeito? Então vamos fazer desse jeito”, determinou o dono. “Aqui a gente amarra o burro como o dono quer, porque precisamos faturar e não podemos ficar com esses pruridos criativos”.
O diretor de criação pediu demissão.
2. Em S. Paulo, capital, o prefeito Gilberto Cassab propôs e a Câmara Municipal aprovou, projeto que veta a publicidade exterior na cidade. Agora, estão proibidos ali painéis luminosos, outdoors, front light e back lights, faixas, empenas em prédios, entrega de volantes nas ruas, banners, anúncios em bicicletas, táxis, ônibus e aeronaves, balões e totens com altura superior a 5 metros. Há, ainda, restrições a letreiros comerciais.
É fácil imaginar o pânico que se instalou no setor.
3. Independente de fazer o que está sendo feito lá, de só protestar contra a medida, cabe a nós, todos nós – agências, profissionais, fornecedores - refletir sobre o porque isso aconteceu. E ao refletir, perguntar, de quem é a culpa.
Minha resposta é: nossa.
Nós nunca reagimos contra o mau uso e o mau gosto que temos aplicado nesses meios de comunicação. Nem temos tipo peito de voltar ao cliente e convence-lo sobre a merda que ele quer, para seu próprio prejuízo, fazer. Em conseqüência, como praga, esse tipo de publicidade foi se instalando e agredindo, por toda a cidade, a paisagem e o cidadão. Ou melhor: pela maioria das cidades.
“O negócio é faturar”, alegavam agências e produtoras ligadas ao setor em S. Paulo. A resposta veio. Cruel.
4. Há alguns dias, comentando o assunto, disse a um figurão da comunicação de marketing: “se não tomarmos cuidado, já, já, essa coisa chega aqui. Quando alguma coisa importante acontece em S. Paulo, logo se espalha pelo Brasil. Vira epidemia.”
“Chega não”, foi a resposta que me deu. “Isso é coisa de paulista.”
E repetindo aquele dono de agência, acentuou: “não podemos contrariar nossos clientes. Se eles preferem assim, que assim seja. Afinal, precisamos faturar.”
5. Semana passada o jornal Propaganda & Marketing trouxe, como matéria de capa, entrevista de Júlio Albieri, presidente da Sepex/SP –Sindicato das Empresas de Publicidade Exterior de S. Paulo, declaração segundo a qual “há municípios que já entraram com medidas iguais à Prefeitura de S. Paulo”.
É essa maldita mania de paulista. Que se não pararmos já com a moda de que o importante é faturar a qualquer custo, sem a menor preocupação com o bom senso e o bom gosto, com a paisagem urbana e com a necessidade de o cliente investir corretamente nesse meio, ela chega aqui. Então, será tarde demais, até porque as agências não faturarão mais nada.
coisa de paulista, do eloy simões, no www.acontecendoaqui.com.br
ah! se todos outdoors ruins dessem demissão, como iriam haver vagas no mercado. mas peraí, esse diretor de criação que pediu demissão aí não fui eu ?
por outro lado não tenho nada contra os paulistas, pelo menos como eles tem contra os nordestinos. enquanto isso vou tomando meu chopps e dois pastéu de olho na brigada punk de periferia.
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