todo publicitário que se preze deveria ficar desempregado várias vezes na vida. mas não o desemprego normalzinho, aquele em que você no máximo muda a safra do vinho ou troca o modelo gls por básico e passa a dar bijouteria para a amante.
estou falando daquele desemprego que leva você ao penhor. que leva você a fugir dos shoppings e supermercados e passar a frequentar a periferia dos camelódromos. a filar o rango na casa do cunhado que não desiste de cantar a sua mulher. a fazer compras na feira em fim de tarde, a substituir salmão por sardinha e filé mignon por passarinha. e a trocar o velho leão de bronze por valor equivalente ao de um bujão de gás e, mas só de vez em quando, a dizer que a feijoada da tia da sua sogra é caviar. sem falar que matriculou o filho na escola pública com a bela desculpa de que lá a convivência social é muito mais rica( ainda por cima tem merenda grátis).
praga, situação vivida? ainda não. pelo menos a tanto. mas é certo que todas as vezes que fiquei desempregado – e foram muitas – nao vi no passaralho o canto de urubu. muito pelo contrário. foi sempre uma oportunidade de cair na real, de voltar a conviver com o mundo onde se peida, onde as varizem abundam, onde se confunde(ou não) jesus cristo com zé buchudo. onde a racionalização estética fere a norma. onde o planejamento, nem o familiar funciona. e onde não há dinheiro para pó. é crack-se quem puder no osso mesmo.
e de tudo pasado nestes períodos aproveitei enormemente para enriquecer-me como redator publicitário, que uma vez confinado ao mundinho publicitário, muito do sem-vergonha, periga a esterelidade. o que não é pior que a boçalidade que o pega pela venta.
não sou eu que o digo. os publicitários de hoje não sabem falar, ouvir, ou serem ouvidos pelas classes ditas baixas. e justamente agora que elas estão migrando para extratos superiores. experimentando a ascenção vertical num país, onde a única coisa que sobe é o índice bosta lívida e o elevador lacerda.
a publicidade enquanto negócio tem ignorado o fato que o único mercado de massa possível neste país é o mercado das classe E e D, da qual parte já está se enxirindo a C. é aí que está o filão que paga contas pra todo lado. para o comércio principalmente, que nunca vendeu tanta sub-cópia de falsa tecnologia adoidado. a começar do insuportável celular, que mais pobre a bunda, mais atochado.
mas qual o quê? como é que vou fazer minha pasta pra áfrica com este zé povinho de targheti?— não deixa de ser interessante(pode usar o termo fudido no lugar) que a africa faça uma publicidade de outro continente expropriando para o entendimento geral o vocábulo que lhe dá nome. porque nem na áfrica do sul “afrikaneres” são maioria. não vi nenhuma campanha da áfrica para falar com os diversos públicos africa daqui. mas que mandou bem em cannes mandou. haja acomodação da geografia e inversão gestáltica de significantes pretendidos. nem os animais de ícone escapam.
pasta de publicitário de agora – ainda mais se frequentou faculdade – está recheiada de anúncio bom-ar, bactericida incluido. aquele, onde anúncio para classe d, nem cheiro. é só anuncio de land-rover pra cima. já cantei a bola sobre o mostruário disto na cópia rombuda do archive, o na pasta, também conhecido como geléia de tutano em falta.
olhando de soslaio sobre a sua própria origem, todo publicitário brasileiro, incluindo os nordestinos, sonha e pratica a publicidade com a cabeça de quem nasceu em são paulo(nos jardins) e jamais pegou sequer uma van, muito embora seu corpo todo dia faça isto ou muito pior. sua linguagem já deixou de ser brasileira faz tempo. mais parece um nórdico a fazer anúncios para a nokia. de varejo não manja sequer um pentelho. mais adora dizer que o varejo é uma merda. e que se fosse ele que fizesse aquele anúncio a ou b iam ver só como mandar maneiro. o meu splash, entenda-se que não ia haver splash, aliás não ia haver nada, ele iria retirar o preço(pra quê? o produto(pra quê?) as características(pra quê) bem, para poupá-los, ele iria retirar até a assinatura da agência, pois sabe como é cara, tá muito poluído. (mas não se preocupem que ele não vai fazer nada disso porque ele tem horror de varejo. varejo pra ele é sub-produto, e ele é muito bom pra fazer qualquer coisa sub. tanto que faz de propósito que é pra todo mundo acreditar que é ruim de varejo, que o negócio dele é anúncio conceitual, saca né, bosta de mosca no centro da pagina, uns layeres de photo-shop mais de fundo, e eis a obra prima: legal né? linguagem universal?, olhou-bateu. em cannes tem de ser assim cara, no mínimo é prata se os ingleses não tiverem de marcação)
não ganha nem mil reais esse filho da puta subnutrido de idéia verdadeiramente original. mas se porta como ganhasse em libras. sabe como é, está em todas raves do planeta. mas jamais foi sequer ao endereço de matriz ou filial de qualquer cliente atendido. jamais conversou com um vendedor, com um cliente satisfeito ou contrariado, não almoçou com a secretária do gerente de vendas( ou a assistente, e olhe que geralmente as assistentes são ótimas) pra saber se realmente é verdade aquela história de que o o encarte da semana passada não funcionou. não sai do seu mundinho, cuja única expansão é o new beta do msn ou a compactação do i-pod.
depois quando a coisa vai mal, quando fica em baixa, quando leva o pé na bunda(foi nizam que inventou esta estória, alguém lembra do ano sabático da dm9?) ele diz que está num período sabático. aliás, tem muita gente que já nasceu sabático.
este tipo de publicitário, que nos fode a paciência, até quando não fode, não assume o falhanço. — sabe como é meu amor, foi mal, mas é porque eu estou, e você sabe, num período, sabático!
pois sim. sabático é o teu cacete.
Um comentário:
é. muitas das coisas que você abordou no texto são intrigantes. leiautes com fotos baseadas em um perfil de brasileiro que não existe, locações e tratamento de imagem em filmes que parecem extraídos de produções nórdicas. determinadas receitas que se passam de mão em mão, de boca em boca e que versam sobre o que é realmente criativo.
dificil deve ser ensinar quem é estudante de publicidade...dificil convencer as pessoas que aprendem antes de entrar na profissão que publicidade é ganhar o prêmio, tentar ensinar que criação é apenas uma solução para um problema de comunicação, que boa publicidade é aquela que resolve problema de comunicação achando ângulos e maneiras de se posicionar corretamente na cabeça do consumidor. já tive assistentes e sempre dizia...nunca pense em um job a partir da peça que te solicito e sim a partir do problema que te coloco. mas é assim, publicitário não gosta de fazer folder, só gosta de filme, no máximo de um anúncio com pouco texto pra não ficar poluído. E assim se perpetua a visão deturpada de fazer ao contrário quando o correto é o "pensar ao contrário" do Mena Barreto.
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