quarta-feira, fevereiro 22, 2006

quarta ah portuguêsa: the gift

the gift tocou em recife ontem. um senhor presente de portugal aos nossos ouvidos, que não sei bem como receberam tal iguaria. espaço aberto, ventos do norte, mix de tocatas, the gift merecia melhor espaço em sua primeira vinda, penso que sim.

quem não foi, como eu, por exemplo, perdeu a oportunidade de ver banda escaldada de outras praias, que não os escaldões adquiridos nas praias de recife. vinda de pequena cidade, sem complexos, que já se provou capaz de produzir canções e performances para o mundo d´além mar. e neste caso não falo do brasil. onde tocaram também noutras cidades. salvo engano, rio, são paulo, porto alegre. como também tocam pra além do português, já que cantam very british. o que já foi, não especificamente, celeuma no país de pessoa, onde as pessoas, quando não podem falar mal por razões assentes, se é que as há, para se falar mal, o que é diferente de discordar, falam pelas razões ausentes à mais rasa razão.

cantar em inglês, de certa maneira pode ter facilitado a compreensão ou pelo menos o endorsment à banda, já que os brasileiros tem dificuldades na compreensão dos períodos portugueses que tem riqueza de fonemas que não temos por cá, pois sua vogais são múltiplas.

a idéia de que portugal é fado, amália, sempre ela, apesar de marisa, mísia e outras, e roberto leal, vai se desmistificando. mas não a velocidade da internet. o que é motivo de imensa pena. perdemos muito para com isto. portugal é país extremamente musical, com diversas correntes, algumas sequer conhecidas, principalmente aqui no nordeste. e não estou a falar das influências da música angolana, moçambicana ou caboverdeana. mas sim da cena contemporânea de diluições, mix, remixs e recriações, das quais não sou a pessoa habilitada a discorrer para além dos nomes que retenho de forma falhada na memória de ouvido musical.

madredeus, no sul do país, lá como cá, o nordeste fica algo à deriva, tem tido receptividade ímpar em suas apresentações. surpreende. e motivo de tal surpresa é o fato de sua sonoridade, também ímpar, desnortear as platéias que os escutam pela primeira vez, vez que soam "diferentes" do que se lhes esperam. ainda mais com elementos apregoados como variação erudita. mas há, repito, tantos nomes, conhecidos ou menos conhecidos, por lá, que precisam dar-se a conhecer, o que nos deixa com ar de pedinchas por mais.

se portugal nos deu presente the gift - e , falta de visão de lá ou de cá, não virem mais grupos em digressão ao brasil, pagando o preço de criar mercado, ainda mais dificultado pelas tais razões da fonética(eles nos escutam há um tempão nas novelas, nós sequer nunca soubemos imitá-los nas piadas, que graças ao seu bom humor, nunca nos rispostaram com queima de bandeiras - nós temos lhe dado vários presentes de grego, graças ao oportunismo barato que foi dar a praias portuguêsas como pimbas ainda mais diluídos da má cópia do brega nacional. e não foram poucos os cavaleiros e amazonas da bunda-music que reproduziram-se por lá. a começar do iran costa. absorvido pela "cultura" local como muso de verão e meio, alçado à esta condição, irônicamente, como tema de campanha política, com o refrão " é o bicho, é o bicho, vai te pegar ou coisa que o valha", em nada condizente, o que só foi percebido a meio da campanha.

para cada djavan, ney matogrosso, adriana calcanhoto, para não falar de caetano, bethânia, paralamas, ratos de porão, martinhos, e ícones das mais diversas tendências, recebidos à adoração, proliferaram na cena musical portuguêsa, cópias das cópias das cópias do universo da música do pior brasileira. até "sertanejo" lamechas e pagodeiros que, muito mais que martirizarem os ouvidos dos portugueses, martirizavam aos brasileiros que por lá moravam. sabedores, que pelo menos no é o tcham original, sheila carvalho compensava o que suas cópias não faziam. é claro que parcela da população adorava o balanço daquele ritmo favorável a liberação da líbido e ao balanço, se por um lado ainda tímido do cú, frenético dos peitos que alinhavam a coreografia com do em cima em baixo dos refrões, já que há ainda preconceito com a rítmica de áfrica. mas se a questão era balançar ou cú ou molhar os lenços, os portugueses já tinham nomes que faziam isto muito melhor,vide o marcos paulo e a " mãe do francisquinho ", ao menos para nós, de maneira mais autêntica, engraçada e convicente. já que reside graça quando o pimba elabora-se a catégoria de kitsch, coisa que nenhuma cópia da cópia brasileira consegui.

the gift, no recife, mesmo que não tenha visto, sim. um presente. portugal tem mais, muito mais, a nos dar. e nós, falo de pernambuco, também.

por quê não cultivar o hábito - e a elegância - e trocar presentes no mesmo nível, muito mais que uma vez ao ano e só?

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