Eu tinha 22 anos quando comecei no jornalismo. Estava ainda na faculdade, já tinha largado outras duas, ambas de Arquitetura. Como todo filho de classe média, tive que fazer um curso de datilografia. E foi assim que comecei na profissão, "batucando nas pretinhas", como a gente falava no meio, pelo som metálico e abafado da máquina de escrever, e evidente, pelas teclas pretas.
Estou completando neste ano 21 anos como profissional de comunicação, uma maioridade que me deu oportunidade de transitar – literalmente – entre as tecnologias. A primeira vez à frente de um teclado de computador a gente nunca esquece, é como o primeiro esporro do editor, a primeira manchete, o primeiro furo nacional...
Eu que cheguei a passar reportagens à Veja por telex e usar laudas de papel, rabiscadas, corrigidas por velhas canetas Bic, todas mascadas nas pontas, quando ganhei minha primeira "marmita" [ laptop primitivo ] no Estado de S.Paulo foi uma alegria só comparável ao dia em que pude dizer adeus à faculdade. Aquele projeto de laptop, da Toshiba, não tinha sequer HD. Tudo era feito em disquete.
Chorei muito sobre a "mardita", como a "marmita" ficou conhecida com o tempo. Acabava a bateria, a energia elétrica ou "dava pau" no disquete e lá ia a reportagem inteira para o espaço – creio que para um lugar chamado de ciber, essa dimensão paralela que facilitou e complicou tanto a vida do jornalista de agora.
Sem saudades
Como os repórteres bem mais afeitos à tecnologia cibernética, eu fui um dos primeiros a receber o máximo em modernidade. Um 486 da HP, com pasta, cabos e os diabos. Aquilo era exclusividade dos correspondentes internacionais, de Reale Júnior, de William Waack, de Zeca Santana... e tinha um negócio chamado internet. Aquilo foi o delírio. Enfim eu podia falar com o mundo, eu seria gente no universo hi-tech, pois teria um e-mail.
Logicamente que a conexão era feita por linha discada, demorava uma centena de anos para conseguir sinal e navegar. Mas era um novo mundo, admirável e inexplorado. Fizemos um curso no Estadão (eu e os demais repórteres nacionais) para aprender a operar. Mas nunca pensei que essa facilidade traria às gerações atuais o jornalista copia & cola . Nunca mesmo.
Com o passar do tempo, comecei a ver que pouquíssimos dos novos jornalistas escreviam. Todos procuravam textos já prontos, geralmente no AltaVista (não havia o Google na época) e depois davam uma ajeitada para dizer que aquela produção era deles. Também comecei a estranhar que vários recebiam mensagens e davam aquelas informações como verdades absolutas, embarcavam em histórias das mais absurdas possíveis por pura negligência, ou por entender que num ambiente cibernético inexistiam mentiras, contos da carochinha e um saco de bobagens imprestáveis.
Não tenho saudades da minha velha Olivetti, mas ainda consulto meus livros, dicionários e apontamentos. Quem sabe eu seja um dos últimos de uma geração transitória.
júlio ottoboni, no seu: profissional copia & cola e a geração transitória(*) *pós-graduado em jornalismo científico.
os copia&cola também andam a solta na publicidade. tanto que dia destes uma diretora de criação perguntou a um dos seus pupilos após ler o seu texto — muito bom! você tirou isto da internet onde ? no coments.
2 comentários:
pois é. o homem sempre trilhando seus caminhos obtusos. é meio normal. tudo no começo é romântico, instigante.
eu como boa capricornianaque sou, tenho que dizer que ainda adoro as máquinas de escrever. o tectec e o corretivo de papelzinho (com um milhão de letras gasto), e olha que nem vibrei tanto com a chegada da tecnologia lá em casa. claro q foi depois de fhc. e o meu computador (comprado de segunda mão da prefeitura) fazia um ruído parecido com os dos espremedores de suco de laranja. nostalgia. entrar no bate papo pela primeira vez foi uma sensação semelhante a um orgasmo. lembro que achei lindo o tempo que a mensagem demorava pra aparecer na tela. até isso.
heh
deus meu. estou comentante.
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