terça-feira, fevereiro 28, 2006

memórias desafetivas

anos 60. margarina em tabletes. bem-te-vi. aumentado em proporção, um drops de margarina. papel laminado, de pássaros pretos sobre o dourado da alimonda irmãos. comi-os tanto, que arranjei um intoxicação que quase me fez sumir os orgãos genitais tamanha gravidade da erupção, já que os caroços de inchaço suplantavam em tamanho meus ovos de criança

o comercial da margarina, era feinho de doer. um assovio de trilha, boneco criança desandado, sobre carroça a responder ao pássaro, bem-te-vi, que mais havia de ser? assoviando na mesma pisada. passava-se se no pão, no tempo que pão ainda era pão, e não solução de bromato, e já alguém levava cascudo ou safanão à mesa, que mesa era lugar de respeito, por estar assoviando o bem-te-vi, bem-te-vi. o comercial tornou-se kitsch, não por querer, bem antes da palavra tornar-se pastiche dela mesma, era ruim o comercial pela toscocidade da produção. perdoado estava porque animação tinha como pârametro walt disney, e isto seria impossível fazer por aqui.

lembro do comercial ao ver os tragicômicos comerciais da unimed, com a doutorazinha – pelo menos assim o é, enquanto ridícula presidente de uma entidade que já não bastasse a imprecisão de propósitos revelados no atendimento que não corresponde à promessa –ainda nos vem a palrar texto de inchar qualquer testículo minimamente comprometido com senso de rídiculo, erro médico para o qual não tem perdão, claro sempre perdoado pela ordem dos médicos, que cala quanto a isto. e quem cala consente. como consente outro médico, com o agravante que sendo homem de teatro, não podia nunca desandar como o faz no comercial do café royal, como se não bastasse, dado a cara para a publicida unimed, onde já fez outros papéis carbono. mas pelo menos noutros, poupando as netas de tal vexame, honestamente sendo mais café digo.
passados mais de quarenta anos, reviram-me as entranhas ver o comercial da água sanitária dragão, doutras épocas mas feliz. e não pelo produto em sí. é que o flash-back é um envenenamento de todos os sentidos. prova corrosiva e corroborante, de há quantas andas a propaganda pernambucana, da qual alardeiam tanto fulgor assinaturas de agências que acoplam siglas ao seu nome. sabe-se lá se para compensar falta de idéias no que assinam.

involuímos para o mais completo sem graça. para o insulto, pelo menos para quem não gosta de ver sua mãe, sua vó, suas filhas, consumidoras em potencial, heavy user, na verdade para ficar mais expertise, a ser chamada de estúpida, de desmiolada, de estaferma, que parece ser o mandatory do briefing e do contra-briefing, devidamente institucionalizado na má corporificação desta absoluta falta de idéias.


depois reclamam que os clientes espremem a remuneração das agências à moedas. mas com moedas criativas iguais a esta, o escambo ainda é lucrativo para as agências. ainda que moedas de chumbo quente, a furar-lhes os bolsos inexoravelmente. corroendo o negócio a tal ponto que: comerciais de quarenta anos atrás quase desintoxicam os fígados hoje irremediavelmente comprometidos com tais peças.

a maior diferença, passados quarenta anos, é que para se ficar intoxicado havia que se comprar o produto e consumí-lo non sense.

hoje, basta ver os comerciais. para que produzam intoxicação tamanha a contagem das repetições aos atingidos.

bem-te-vi, bem-te-vi. nem isso, pode-se dizer. no máximo: idéia de cabeça que pede, cria e aprova, movida a titica de passarinho.

p.s. já não bastava o insulto da campanha do hipercard, assim haja porque "pensada" para nós, corretamente adequada ao nosso nível ?

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