domingo, janeiro 29, 2012

certezas da dúvida


houve tempo em que não duvidei de que o talento era insumo de alguma importancia para a publicidade. enfim, para a atividade de comunicação. fosse ela de marketing ou não, era fundamental, tive esta certeza.

hoje, tenho a certeza de que não. o talento é minimamente necessário e olhe lá quem o vir, pedir, empregar ou o possuir. basta a atitude para você passar de ano. e por média, sem dúvida.

tudo que o talento faz hoje, quando há - é raro, mas sobrevive, em guetos e outras periferias, afetado que seja -  é para face-bookear tão-somente o seu "talento de atitude" (ou seria altitude?), performance que difere muito, mais muito mesmo, e bota muito nisto, do talento visceral, que se manifesta na penumbra dos jobs, sem as vaidades dos ciclos e do círculo de atitudes( e altitudes) cuja relação final com a qualidade resulta em fuga pela escada de incêndio quando ela se torna necessária no cotidiano para além dos paradigmas dos prêmios.

a atitude de um talento propriamente dito, é vista agora como ultrapassada e não só: é também romântica, burra e portanto não se encaixa.incomoda até. onde já se viu isto? só porque tem talento, pensa que pode sair do chão? e assim ficou trancado no poço do elevador ou rolou escada abaixo empurrado, decerto, por algum estagiário mais preocupado com o visual de seu novo tablet, que é como demonstra in loco para a chefia, o seu mais desta atitude sem latitude da qual falamos(só não pode ter um tablet melhor do que o da chefia, porque ai, se fudeu!) sim, o talento falso, lambe-cu como ninguém. é mestre de bastidores, encenações e futricas, urdidas nem sempre com o mesmo talento de totem.

já o talento nato, ainda só não desapareceu porque alguns prédios, talvez por serem antigos,onde funcionam algumas agências de publicidade e comunicação, tem ainda a figura do zelador, aquele que mal vemos e cumprimentamos, tamanha a azáfama de sua insignificância, inserida em  macacões escuros, sanduicheira, chaves e vassouras nas mãos, sempre ocupadas com anúncios rabiscados dos jornais de ontem ou caderninhos de palavras cruzadas do amanhã. e que sem medo da existência do que quer que seja, socorre e liberta o verdadeiro talento(quem já não ouviu falar em histórias de fantasmas em prédios velhos e vozes e gritos saídos do poço do elevador?) senão rumo ao topo, para outros becos sem saída, que agora se chamam tendências. uma denominação assaz talentosa - que assim se insinua -  para modismos do nada e outros mamados memes à bordo, para os quais o talento real não se imola.


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