sábado, janeiro 21, 2012

luisa é uma moeda de duas faces: a cara do momento é fake. a verdadeira é a coroa.

luisa rabello
luiza helena trajano
memes são como eletrons fujões. e na esmagadora maioria estão a serviço de uma movimentação ideológica que intensifica o contágio da estupidificação e idiotia que grassa na sociedade brasileira neste momento.

dirão alguns que uns raros desafetos estão tratando o tema com demasiado rigor. atribuirão inveja, azedume, neurose, ausência de sense of humor. mas o momento não está para brincadeiras. ainda mais quando o meme em causa, é um avatar virótico que invade o senso comum e destrói valores que já andam de mal a pior no brasil, a saber: a cultura ( a erudita ou popular verdadeira ), o senso estético refinado, e os valores éticos e de honorabilidade em relação ao valor da inteligência e tenacidade para com o trabalho em qualquer atividade.

luisa que está no canadá tornou-se um hit  gerado pura e simplesmente através da manifestação da imponderabilidade, cujo start deu-se a partir da conjunção, sempre malévola, da mediocridade com o arrivismo, da jequice absoluta com o société empertigado(temos aqui um pleonasmo, pois não?) mas que não foram reunidos por acaso, dado o histórico dos envolvidos. sejam cliente, agência, e os personagens.

para quem tem uma vivência mínima da paraíba, ,joão pessoa no caso,sabe muito bem que o contexto em que urdiu-se o "menos a luisa que está no canadá" não é o de pura e simplesmente justificativa en passant da ausência de um membro da família para manter a  "unidade lógica do roteiro do comercial". e as negativas de que a frase soou pedante mas que assim não o era para ser, é tão risível - e perigosa - quanto o comercial. luisa, agora todos sabem, é filha do colunista social gerardo rabello. e o colunismo social, para não perder a viagem, e suas páginas, como alguém já disse, é o que está mais perto da página policial. na paraíba então, o colunismo social acerba a simbiose colunáveis-colunistas com uma característica bem peculiar ao nordeste. ao contrário de outras cidades, lá os maiores alpinistas sociais são justamente os colunistas e não as pretensas socialites que a todo custo querem se auto-promover. o que não significa que isto também lá não exista. colunistas, dos mais enganalados aos menos cotados - colunista  é o que não falta para uma boca livre seja do que for -  são artífices do comercio leviano, para além do comércio gerado pelas aparências em suas colunas, e criam os mais diversos "produtos de "marketing" para dar sustentabilidade e visibilidade a vida de regalos - fúteis, mas regalos - que de outra maneira não conseguiriam ter. basta acessar os sites e ver as manobras utilizadas para tal. portanto o meme originou-se sim a partir da pretensa afirmação de distinção social  pelo fato de ter uma filha estudando no estrangeiro. assim como  a auto-promoção do aniversario do colunista comemorado em paris e sua auto-documentação na coluna o que se coaduna com o conceito exclusivo do " altiplano nobre".

mas a questão maior não é esta. tampouco o é a má qualidade do comercial. isto para não falar que apartamentos a este preço não necessitam de midia de massa para sua comercialização. mas isso seria acabar com a boquinha dos veiculos que "dão" um lustro na vaidade do cliente(eh! joão pessoa!) que ainda por cima aprova comerciais de maquete. a versão estrelada pela luisa então, não passaria por quem tenha o mínimo de senso profissional. só confirma a jequice indisfarçável da qual todos querem tirar partido e sua contribuição aética ao país do "não importa como, todo mundo quer comer e se dar bem". e aqui reside o busílis da questão: a fomentação sob a tônica da sorte do ideário do sucesso pela via da "famosidade" na qual agora todos concentram seus esforços(entenda-se por esforço, o rosto bonitinho, a bunda apetitosa, o tórax sarado, a gag rasteira e por aí vai). intelecto pra quê ? foda-se então o foco no trabalho. foda-se a obstinação pela busca do melhor, foda-se ,e bota foda nisto, a qualidade. e por conta disto foi subvertido o guide line: o único lugar onde a palavra sucesso vem antes do trabalho é  no dicionário. para muitos, isto é uma conquista. para a sociedade no seu todo, é uma tara suicida.

luisa, ainda que seja um fenômeno passageiro - no futuro todos teremos os tais 15 minutos de lama, ad eternun( é lama mesmo. e não fama) - assomou o universo virtual de uma maneira avassaladora para os que se tornaram vassalos para sempre da risota que os mantém ajoelhados. aqueles que tem como objetivo de vida a riqueza ou o sucesso, escuso que seja, acontecido em um clique, que é o que vai se injetando no cerebelo da sociedade cada vez que tal acontece. e para isto os argumentos e práticas são\vão, do aparentemente non sense inocente, as teses pseudo fundamentadas. tal como expressas no caso do fenômeno da vez passada, quando um colunista de um famoso portal(confira no post a fama pelos fundos, aqui no cemgraus) justificou como queixumes do complexo vira-lata o repúdio a qualidade musical do michel teló. justificando que o medianeiro havia conquistado o mundo anglo-saxão, coisa que nem o rei roberto havia conseguido. o que é ainda mais perigoso, pois alimenta o ciclo combustivo de rebaixamento e esgarçamento de valores estéticos, de memória, do que realmente tem qualidade e o que não passa de lixo, ainda por cima com inverdades históricas e espirituais. e para arrematar os que já gostam de tirar o pé no chão, e desestabilizar a memória, é bom lembrar que hoje exportamos michel teló. mas antes, exportamos carmem miranda, bola sete, tom jobim, joão gilberto, e a bossa nova, que a partir do célebre conserto no carnegie hall conquistaram não só o mundo anglo-saxão como o mundo todo, e para sempre, sem esquecer sérgio mendes, almir deodato, flora purin-e até mesmo sivuca a dar aquele plus na discografia de paul simon. agora michel teló: tenha dó.como bem o disse o nascimento, não o capitão, o apresentador, nós já fomos mais inteligentes.

a luisa de agora representa o fake, a ilusão delusiva dos rabello - até no gap entre as fotos montadas e a aparência atual, tsk!tsk! é a antítese da luiza helena trajano. a luiza do magazine luiza; que começou a trabalhar aos 12 anos como balconista(a loja ainda se chamava a cristaleira, fundada em 1957 em franca, são paulo);que se tornou um case de marketing inovador e internacional, estudado por pesquisadores mundo afora; que foi convidada para ser ministra de dilma; que opera desde 1992 sem nenhum tipo de prejuizo; que foi pioneira na operação de lojas virtuais;que dá emprego a mais de 21 mil pessoas em mais de 600 lojas e que chegou ao nordeste e a  paraíba através da compra das lojas maia)

esta é a outra face da moeda e da história que passa desapercebida para a maioria da vassalagem memética da luisa fake. apesar de em quase toda grande cidade - e não só - dos livros, e das dezenas e dezenas de reportagens, e do seu nome estar nas fachadas sob a forma de magazine. esta sim é uma história de trabalho, de esforço, de obstinação, de foco, de inteligência aplicada, de muito trabalho para a quase chegada ao topo (a quarta maior rede de varejo do brasil, prestes a se tornar a terceira). e isto não caiu a tiracolo dos bordões estéreis. aconteceu com base nos fundamentos do trabalho. fundamentos que são hoje desprezados pela esmagadora maioria de um povo que se masturba em memes e que caracteriza cada vez mais o trabalho como burrice, minando a força da realização que só o trabalho possibilita. e que é o que faz a diferença entre uma grande nação e uma nação grande.

a nossa esperteza deixou de ser inteligente no momento em o que mal feito, a cagada, seja ela acidental ou intencional, tornou-se risível pela paródia  que somos hoje e que pensamos jamais ser um dia de verdade já sendo no entanto.

a luisa  fake não se sustenta para além do espirro, pum ou pura diarréia. vai pro ralo tão logo acabe a ressaca dos memes espumantes.

e viva o carlos nascimento!.

in tempo: blog do magazine luisa, parece também ter sido vitimado pelo senso de oportunismo que atingiu a todos no afã de querer faturar, aparecer, resultar fácil, com a fake, criando uma promoção(até que orgânica ao contrário das tuias que foram feitas por ai) que utiliza o meme. mas o que diria luiza, a do magazine disto? que agora já são duas moedas que tem a mesma face?



2 comentários:

LC disse...

Você foi extremamente sensível ao estabelecer a relação entre as luizas e marcar esse momento quase que invisível da inversão da lógica do antigo dito que relaciona sucesso, trabalho e o dicionário...

Mas cá pra nós que conhecemos bem essa arcaica e intrincada estrutura neocolonial de João Pessoa...por trás da idiotice memética de Luiza há um outro tipo de relação das pessoas a esse discurso empolado do Altiplano Nobre. O LuizaEstanoCanada se desvirtua quando ganha a atenção e repercussão da grande mídia, por exemplo. A Globo chegou ao cúmulo de dizer que meme é igual a bordão e repetiu a exaustão cenas que iam de siozinho malta a pereirão...

Eu gosto do que vc escreveu porque isso ajuda a desmistificar a ideia de que memes são inocentes...de que Michel Teló é bobagem...não são. Nada é inocente e tudo tem consequencias ainda mais vivendo em um país que se julga sexta economia do mundo e que jura de pé junto que transporte público é coisa de pobre.

Bom voltar a lê-lo.

celso muniz disse...

luis carlos:

( quando ví o lc por pouco pensei que era a luisa canadá a visitar-me e tremi: onde arranjar os 15 mil que a perdigota esta cobrando pela presença em eventos vip? mas aí, tranquilizei-me, afinal que teria eu de vip, a não ser os vipes?)

bom é voltar a tê-lo como leitor. neste universo temático onde nem a minha mãe se aventura, seria por demais bastardo não dizer que alguns leitores deixam-me envaidecido, e a um ponto tal de insistir em continuar a atormentá-los com os nossos posts.

confundir meme com bordão é coisa que nem a luisa faz(ela não sabe o que é uma coisa ou outra) no caso da globo é a tal coisa: não é surpresa esta e outras movimentações rumo a desculturalização da audiência para facilitação das ideologias de dominação mas rastaqueiras que se conhece, nem por isso menos eficientes.

para não perder a viagem, a julgar pelas performances abomináveis da luisa nos comerciais, é capaz dela ressucitar o cinema mudo,onde certamente lhe caberia o papel da mulher barbada.